Bastardinho de Azeitão

O canto do cisne

 
Célia Lourenço

Célia Lourenço

A José Maria da Fonseca (JMF) lança agora o derradeiro Bastardinho de Azeitão, num total de 2.300 litros. Trata-se do último lote proveniente de cepas de Bastardo (Trousseau) que há muito não existem. As uvas eram compradas até a vinha, localizada entre a Costa da Caparica e o Lavradio, ter sido arrancada em 1983, com uma idade de cerca de 90 anos, consequência da pressão imobiliária.

 

O Bastardinho de Azeitão é um tesouro da família Soares Franco, pela singularidade, qualidade e raridade. Quando afirmamos, orgulhosa e legitimamente, que somos um país abençoado pelos vinhos fortificados que produzimos, estamos obviamente a incluir este. Engarrafado em quantidades reduzidas, começou por ser um lote com indicação de idade de 20 Anos, depois de 25 e, o último que conhecíamos, de 30 Anos. Domingos Soares Franco, enólogo da JMF, considerou, entretanto, que os vinhos base tinham envelhecido e evoluído de forma a não ser possível continuar o perfil anterior. Assim, foi tomada a decisão de criar o 40 Anos (com colheitas que variam entre os 40 e os 80 anos). No lançamento foi-lhe chamado o “canto do cisne” porque é o último “blend”, igualmente o mais belo e complexo de todos.

O Bastardinho de Azeitão 40 Anos coroou um almoço no Belcanto, em Lisboa, restaurante de alta cozinha de José Avillez com duas estrelas Michelin. A refeição iniciou-se com o sui generis espumante licoroso Alambre Ice 2005, criado a partir do modelo dos “sparkling ice wines" canadianos. A base é um generoso Moscatel Roxo, sendo o resultado um vinho espesso, cuja acidez enfrenta a doçura, e a viscosidade se bate com a bolha. Depois, conhecemos as edições de 2016 do Colecção Privada DSF Moscatel Roxo Rosé e do Quinta de Camarate branco seco, ambos muito aromáticos, o primeiro um elogio aos aromas de rosa da casta, o segundo fresco e suave, muito bem para o “Mergulho no Mar” (robalo). Já para o “Leitão Revisitado”, a generosidade do Hexagon 2009 brilhou com grande elegância.

Por fim, o “canto do cisne”. Um vinho de contemplação que insinua sensualidade e, ao mesmo tempo, reclama intimismo. É enigmático e, na personalidade forte, lembra um grande Madeira. O exotismo das notas iodadas e de “liqourice”, a par da elevada finesse, levam-nos para um universo onírico como se de uma pintura de Chagall se tratasse. É um vinho que não acaba… paradoxalmente, na última edição.

 

18,5

Bastardinho de Azeitão 40 Anos
Península de Setúbal / Licoroso / José Maria da Fonseca

Enigmática cor castanha com tons verdes. Tudo neste vinho é insinuante e misterioso. No nariz vamos descobrindo iodo e ligeiro râncio, caramelo e café. A boca, profunda e maravilhosamente fresca, tem notas medicinais e de alcaçuz, é envolvente na doçura, com um final que não acaba. Enorme finesse e carácter de grande senhor. CL

250,00 € / 14ºC
Consumo: 2017-2030