Brancos do Dão

Qualidade superior

 
Marc Barros

Marc Barros

Nesta edição, a Revista de Vinhos apresenta uma prova temática de brancos do Dão. A qualidade média dos vinhos avaliados é de qualidade superior e confirma alguns dos predicados que habitualmente se aplicam aos vinhos da região: equilíbrio, boa relação com os estágios em madeira, capacidade de envelhecimento e predisposição gastronómica.

 

TEXTO José João Santos | PAINEL DE PROVAS Célia Lourenço, José João Santos Luís Costa e Manuel Moreira 


Primeira região demarcada e regulamentada de vinhos não licorosos em Portugal (1908), o Dão é uma espécie de local abençoado para a produção de vinhos. De bons vinhos.

Os solos são predominantemente de xisto e de granito. A imagem mais típica das vinhas remete-nos para parcelas protegidas dos ventos pelos pinhais, sendo que a proteção maior advém das serras da Estrela, de Montemuro, do Buçaco e do Caramulo. Há serranias e montanhas, estando uma larga franja de vinhas plantadas entre os 400 e os 700 metros de altitude. Os invernos são bastante rigorosos, frequentemente com neve nas zonas interiores mais altas, e os verões são quentes e secos.

Durante décadas, muitos dos mais renomados vinhos portugueses tiveram o Dão como berço. Seguiram-se outros anos menos memoráveis, onde a política nacional generalizada de produção em larga escala (independentemente da qualidade) acabou por fazer perigar a imagem qualitativa da região. A partir da década de 90, a pouco e pouco o Dão foi ressurgindo, muito por culpa da vontade em fazer melhor de dois grandes projetos (Sogrape – Quinta dos Carvalhais – e Dão Sul/Global Wines), aos quais se juntou um movimento de pequenos produtores que passou a engarrafar, meticulosamente, vinhos brancos e tintos.

Como sucede com tantas outras regiões portuguesas, o minifúndio, por vezes áreas pouco maiores que jardins, domina no Dão. Em muitos casos continua a fazer-se vinho ao fim de semana, para consumo próprio, mas os mais ciosos dos viticultores preferem tratar melhor os jardins de vinha e entregar essa matéria-prima a produtores que a saibam valorizar enquanto marca.

Hoje, um vinho do Dão voltou a ser apreciado, tendo a região conquistado alguns elogios comuns: equilíbrio, elegância, capacidade longeva, aptidão gastronómica. E se é dito que é por aqui que a casta tinta rainha portuguesa, a Touriga Nacional, tem o berço, não é menos verdade que habitam no Dão alguns dos mais complexos e bem elaborados brancos do país.

 

Nível médio superior

 

Para esta prova temática desafiamos os produtores do Dão a enviarem-nos uma única referência de vinho branco, que esteja disponível no mercado. Rececionamos um total de 42 amostras, incluindo exemplares estremes de Encruzado e “blends” de Encruzado com outras variedades – como a Malvasia Fina, Arinto, Bical, Fernão Pires, Verdelho.

A prova comprovou a qualidade média superior de vários exemplares. Não são vinhos exuberantes, longe disse, são elegantes a vários níveis, nomeadamente nas notas aromáticas. A casta Encruzado mostrou os pergaminhos que há muito lhe são reconhecidos, sendo que em parceria com outras variedades resulta, habitualmente, em lotes igualmente equilibrados.

Estes brancos do Dão revelam igualmente uma predisposição nata para o estágio com madeira, adquirindo notas suplementares de maior complexidade sem beliscar a pureza original. Os vinhos mostram ainda uma predisposição gastronómica de sublinhar, bem como uma apetência invulgar para o envelhecimento.
Aliás, não deixa de ser algo revelador o facto de o vinho mais bem pontuado ter sido o que apresentou o ano mais antigo de colheita, 2012. O Fidalgas de Santar 2012, combinação de Encruzado com Malvasia Fina, obteve 17,5 pontos, revelando aptidão para a mesa, grande equilíbrio e boa acidez… Um vinho bonito!

Outros oito vinhos merecem uma pontuação de nível superior, na ordem dos 17 valores: Conciso 2014, Flor de Nelas Emiliano Campos 2015, Fonte do Ouro Encruzado 2016, Morgado de Silgueiros 2016, Munda Encruzado 2015, Ribeiro Santo Vinha da Neve 2016, Soito Reserva Encruzado 2016 e Villa Oliveira Encruzado 2014. Com 16,5 pontos, uma mão cheia de vinhos: Júlia Kemper 2015, Quinta do Cerrado 2016, Quinta do Serrado Encruzado 2014, Sombrio 2014 e Vinha da Paz Reserva 2015. Do grupo total dos 42 vinhos avaliados, três foram desclassificados (um por ter alcançado pontuação inferior a 13 pontos, os restantes dois por apresentarem problemas relacionados com TCA, o vulgarmente chamado “cheiro a rolha”).

Os vinhos brancos do Dão parecem-nos bem e recomendam-se. Podem facilmente agradar a todos os que procuram alguma complexidade num vinho branco. Cientes disso, os produtores procuram por vinhas com encepamento de brancos na região. Que o equilíbrio nunca se perca.
 

Os vinhos mais bem pontuados


17,5
Fidalgas de Santar 2012
Dão / Branco / Vinassantar

Amarelo com laivos dourados. Nariz sedutor com aromas de água de rosas, mel e maçã Golden. Boca redonda e suave com notas de meloa, pêssego e limão maduro. Grande equilíbrio, boa acidez, Vocação gastronómica. Um vinho muito bonito. LC Consumo: 2017-2019
7,60 € / 11ºC


17
Conciso 2014
Dão / Branco / Niepoort Vinhos

Amarelo com nuances douradas. Nariz floral e cidreira, num vinho que brilha pela diferença. Boca ampla, com untuosidade e acidez equilibrada. Notas de fruta de caroço, nêspera e damasco, com sugestões de avelã. Complexo. Gastronómico. LC Consumo 2017-2020
17,50 € / 11ºC


17
Flor de Nelas Emiliano Campos Encruzado 2015
Dão / Branco / Ares do Dão - Lusovini
Cor palha. Lácteo no aroma, com notas de manteiga e algum floral. É um vinho muito concentrado, moderno, com estrutura sólida. A madeira está bem trabalhada. Boca ampla, untuosa e sedutora. Estilo muito seguro e elegante. CL Consumo 2017-2020
*€ / 11ºC


17
Fonte do Ouro Encruzado 2016
Dão / Branco / Boas Quintas

Amarelo citrino. Vinho com carácter bem vincado e de grande nível. Tosta no nariz, boca ampla, com foco na acidez. Tem presença e alguma delicadeza, que lhe fica muito bem. CL Consumo: 2017-2020
9,90 € / 11ºC


17
Morgado de Silgueiros 2016
Dão / Branco / Adega Cooperativa de Silgueiros

Muito fino. Brilha de carácter floral, maçã Golden, jasmim, aneto e um delicado mineral. Na boca é aveludado, envolvente, de sabores cítricos, florais e erva-príncipe. Final polido, persistente, longo e delicioso. MM Consumo: 2017-2020
5,00 € / 11ºC


17
Munda Encruzado 2015
Dão / Branco / Fontes da Cunha – Quinta do Mondego

Cor palha. Madeira bonita e bem integrada. Ligeira baunilha e pimenta. Fruta elegante. Boca com acidez elevada e vibrante, com gordura e amplitude. Tem finesse, terminando longo. CL Consumo 2017-2020
10,00 € / 11ºC


17
Ribeiro Santo Vinha da Neve 2016
Dão / Branco / Magnum Vinhos – Quinta do Ribeiro Santo

Amarelo ouro. Aromas de polpa de fruta branca, de algum vegetal, uma leve nota de mel e de amanteigados. Tem volume e acidez, num bailado que vai até final, que é longo. JJS Consumo: 2017-2020
26,90 € / 11ºC


17
Soito Reserva Encruzado 2016
Dão / Branco / Soito Wines

Amarelo esverdeado. Aromas florais e de fruta branca, ameixa e maçã Pink Lady, num manto de frescura vegetal. Boca fresca e ampla, marcada sobretudo por fruta de caroço, pêssego e damasco. Madeira de grande qualidade e bem integrada. LC Consumo: 2017-2020
17,00 € / 11ºC


17
Villa Oliveira Encruzado 2014
Dão / Branco / O Abrigo da Passarela

Amarelo limão. Nariz de flor branca, de limão, uma nota de barrica e um fundo de pedra molhada. É ela, a barrica, que está mais presente na boca, havendo ainda espaço para um leve vegetal e uma sensação ganítica. Volumoso. Para a mesa. JJS Consumo: 2017-2020
35,00 € / 11ºC


16,5
Júlia Kemper 2015
Dão / Branco /  Júlia Kemper

Cor dourado claro. O nariz é fresco, com ligeiras notas limonadas e de tisanas. Acidez alta, tostados. A boca é bem desenhada, com contrastes definidos. É um vinho grande, com sílex, que termina muito preciso na acidez. CL Consumo: 2017-2020
15,80 € / 11ºC


16,5
Quinta do Cerrado 2016
Dão / Branco / Quinta do Cerrado 

Aroma subtil e refinado. Herbal, citrino, maçã, imensamente fresco e delicado. Na boca é suculento, tem acidez muito bem integrada, num conjunto proporcionado, com final fino, mineral e de requinte. MM Consumo: 2017-2020
9,04 € / 11ºC

 

16,5
Quinta do Serrado Encruzado 2014
Dão / Branco / Soc. Agr. Castro Pena Alba

Irrompe pela mineralidade e elegante complexidade. Destaque aos tons cítricos, algum floral, delicado tostado e fresco balsâmico. Na boca, a harmonia reina de forma serena, firme e revigorante. Final digno de registo, com sugestões minerais e uma apelativa persistência. MM Consumo: 2017-2020
*€ / 11ºC


16,5
Sombrio 2014
Dão / Branco / Quinta da Mariposa

Aroma muito fino, com sugestão de fruto confitado, cristalizado mas de moderada intensidade. Na boca tem imensa estrutura, é suculento, com amplitude e alguma sofisticação. Final de especiarias doces. MM Consumo: 2017-2020
30,00 € / 11ºC


16,5
Vinha Paz Reserva 2015
Dão / Branco / Vinha Paz
Amarelo palha. Nariz contido, com aromas de fruta branca e limão maduro. Boca firme e fresca, com boa amplitude. Um vinho bem feito, equilibrado, bom para a mesa e para ir descobrindo à medida que se bebe. LC  Consumo: 2017-2020
14,00 € / 11ºC