Alterações climáticas vieram para ficar

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Marc Barros

Marc Barros

As alterações climáticas vieram para ficar e os seus efeitos na indústria vitivinícola vão afetar toda a cadeia de valor e não apenas a viticultura.

 

Esta é a grande conclusão a retirar da conferência sobre o tema, promovida pela Prowein, que reúne em Geisenheim, Alemanha, alguns dos cientistas mais destacados de todo o mundo.

Claudia Kammann, investigadora da Universidade de Geisenheim, destaca que as alterações climáticas "não irão parar, nem desaparecer, nem serão um novo estado num clima estável". O ritmo das mudanças "irá acelerar e não apenas nos sistemas produtivos". Por isso, adverte, "não basta adaptar, é preciso mitigar, já".

Já antes, Hannes Schultz, diretor do OIV para as questões do ambiente e sustentabilidade, havia questionado o facto de "não dispormos de uma solução para uma equação com tantas variáveis", que poderão passar menos pela geoengenharia e mais, por exemplo, por reflorestações em massa, capazes de evitar a subida de temperatura em 0,5○C. "Nunca a comida foi tão barata e nunca o impacto da agricultura no ecossistema foi tão elevado", sublinhou.

A última edição do Prowein Business Report, focada nesta temática, refere que "muitas empresas do sector tomam já decisões baseadas no impacto das alterações climáticas, seja no desinvestimento e na aquisição de vinhas com maior altitude, diferente latitude ou acesso a recursos aquíferos", afirma Dan Johnson, managing director do Australian Wine Research Institute.

Até ao momento, as empresas que operam no princípio e no meio da cadeia de valor são que as sofreram mais com o tema. No futuro, é expectável que estes efeitos sejam sentidos igualmente a jusante, ou seja, na distribuição e consumo. O aumento da volatilidade dos preços da uva e dos vinhos, bem como das quantidades e qualidade dos vinhos disponíveis, poderão ter como resposta por parte dos operadores uma maior proximidade estratégica junto dos produtores ou a mudança para outras origens.

O produtor Miguel Torres havia afirmado que o "interesse observado dos mercados nórdicos nas questões de sustentabilidade vai mais além dos vinhos orgânicos e biológicos e obriga a certificações de sustentabilidade de maior escopo, ao longo da cadeia de valor".

Neste relatório, as alterações climáticas surgem no terceiro lugar das principais preocupações dos mais de 1700 inquiridos, logo após as taxas sobre álcool impostas por razões de saúde pública e os receios de uma nova recessão económica.

No que toca aos efeitos esperados das alterações climáticas, conta-se a redução dos lucros dos produtores, limitando a sua capacidade de adaptação, a procura por castas adaptadas às mudanças climáticas, a adoção de novas práticas enológicas e as mudanças no hábito de consumo de vinhos, por exemplo em verões quentes, ou menos alcoólicos - em sentido inverso ao perfil de vinhos que as alterações climáticas induzirão.