Cristal 2008

Fotografia: Ricardo Garrido
Alexandre Lalas

Alexandre Lalas

Poucas marcas simbolizam tanto o luxo e o glamour como o champanhe Cristal. Mas, como todas as marcas, esta faz-se também de um produto, no caso o vinho, de altíssima qualidade, como testemunhamos na última Vinexpo de Hong Kong, onde a Revista de Vinhos teve a oportunidade de conversar com Frédéric Rouzaud, atual CEO e sétima geração de responsáveis da casa Louis Roederer.

 

Nota de prova: Nuno Guedes Vaz Pires

 

Este renomado produtor reúne cerca de 240 hectares de vinhas em parcelas classificadas Grands e Premiers Crus das zonas mais altas de Reims, da Côte des Blancs e do Vale do Marne. Destas, são cerca de 80 hectares que dão origem aos vinhos base que estão na origem do Cristal, a partir de “vinhas com o mínimo de 30 anos, que representam o coração do terroir da propriedade”, afirmou Frédéric Rouzaud. “A combinação entre vinhas velhas, que trazem concentração, plantadas em calcário, que aportam mineralidade, resulta num equilíbrio que dá ao Cristal a sua especificidade”.


A marca Cristal foi criada em 1876 para o czar Alexandre II da Rússia, grande apreciador dos vinhos desta casa, fornecedora oficial da corte. Mas, dada a instabilidade política na Rússia, temendo pela sua vida, Alexandre II ordenou que as garrafas de champanhe que lhe fossem servidas deveriam ser de vidro claro e fundo plano. Desta forma, conseguiria não apenas apreciar visualmente o champanhe, mas também assegurar-se que o fundo da garrafa não esconderia engenhos capazes de atentar contra a sua vida, algo mais difícil de atestar nas garrafas verde escuras. O proprietário da casa, Louis Roederer, pediu a um fabricante flamengo de vidros para desenhar uma garrafa que fosse transparente e com fundo plano. Daí que o nome deste champanhe especial tenha passado a ser Cristal.

Um ano especial

A edição de 2008 de Cristal “corresponde a um vinho que sofreu estágio” e foi obtido num ano tido como “continental, intenso e quente”, sendo a “incorporação desta concentração, intensidade, energia e complexidade”, assegurou Frédéric Rouzaud. A particularidade do champanhe Cristal é “ser elaborado a partir de um blend de Pinot Noir (60%) e Chardonnay (40%)”, explicou. “O Pinot Noir é plantado em calcário”, o qual retém humidade e atua como um regulador das vinhas. Ao mesmo tempo, tratando-se de um tipo de solo “mais quente”, dá origem a vinhas ricas em azoto, que beneficia a eficiência das leveduras. Ao mesmo tempo, prosseguiu, o solo calcário “produz um Pinot Noir, diria, mais aéreo, vertical e mineral, ao invés do que aconteceria caso estivesse plantado em argila, que daria origem a um Pinot mais cheio e redondo, mas menos vertical”.


Segundo o proprietário da casa Louis Roederer, “2008 é um dos melhores anos da década, juntamente com 2000 ou 2002. Os anos em Champagne são influenciados por dois tipos de clima: anos oceânicos ou marítimos, com maior pluviosidade, com maior tolerância da casta Chardonnay e não tanto pela Pinot Noir; outros, mais continentais”. Assim, referiu, “2008 foi um ano tipicamente continental, quente e seco, que trouxe concentração. É nestes anos que a Pinot Noir está mais feliz e, quando isso acontece, podemos fazer ótimos champanhes”.


Mas Frédéric Rouzaud destaca que “o processo de produção de vinhos reside nas pessoas: podemos ter um terroir fantástico e o melhor clima, mas se não tivermos pessoas que coloquem alma, paixão e inteligência ao serviço do vinho todos os dias, podemos fazer um bom vinho, mas nunca faremos um vinho excecional”. Desta forma, conclui, “a paixão é a chave. São as pessoas apaixonadas, competentes com certeza, e dedicadas em tentar expressar a pureza deste terroir, que temos a sorte de ter”. Uma marca com mais de 140 anos de história e um posicionamento no mercado de luxo – veja-se o facto de os champanhes Cristal estarem disponíveis comercialmente apenas depois de 1945 - também ajuda... 

 

Nota de prova

Classificação: 20

Cristal 2008
Champanhe / Branco / Louis Roederer

Esta última colheita da mítica marca Cristal é excecional! Está a par, ou até talvez melhor, do já lendário 2002. O seu equilíbrio é impecável, sabores de maçã e cítricos bem integrados com uma mineralidade compacta que lhe confere textura e ainda um sabor frutado. Produzido a partir de vinhas próprias da Casa Roederer, a grande maioria tratadas de forma biodinâmica, este champanhe tem uma pureza e uma nitidez únicas. Apresenta um potencial incrível e é provável que envelheça por muitos anos. Beba a partir de 2022.

200,00€ (preço estimado) / 8ºC
 

Trabalho originalmente publicado na edição nº 344 da Revista de Vinhos (julho de 2018).