Diante dos nossos olhos

Sim, há oportunidades que estão literalmente diante dos nossos olhos mas que, por este ou aquele motivo, por desconhecimento, medo ou teimosia, acabamos por desperdiçar. Afinal, o que fariam grandes regiões do mundo do vinho se tivessem estado ligadas à declaração da independência dos Estados Unidos da América (EUA)? A verdade é que não estão. Apenas uma região de vinhos no mundo, em concreto, uma tipologia muito específica de vinhos fortificados, pode reclamar esse episódio na história.

Domingos Fezas Vital é, desde outubro de 2015, embaixador português nos EUA. Confessou-nos, a propósito da gravação de novo episódio do programa televisivo “A Essência”, que a EV-Essência do Vinho produz semanalmente para a RTP (emissões na RTP3 e RTP Internacional), que foi durante uma estadia de férias na ilha da Madeira que, olhando o oceano, se lembrou de fazer algo que reforçasse a ligação portuguesa aos norte-americanos. Pensou, desafiou o Governo Regional da Madeira através do IVBAM – Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira e desde logo colocou-se à disposição para colaborar na concretização de um evento que fosse impactante. E assim aconteceu, em finais de junho, nas vésperas do 4 de julho que significa, desde 1776, a declaração de independência dos EUA, na residência oficial do embaixador português, em Washington.

Dezenas e dezenas de convidados, esmagadoramente americanos, aceitaram o repto para a celebração, 240 anos volvidos, de uma ligação profunda e íntima com os portugueses. Uns estiveram presentes na cerimónia de entronização de novos confrades do Vinho Madeira e muitos outros no cocktail que se seguiu, com propostas gastronómicas a cargo do chefe de cozinha luso-descendente George Mendes, que brilha em Nova Iorque. Ação de charme, cocktail, prova de vinhos, festa… Chama-se-lhe o que se quiser, mas foi um autêntico exemplo de diplomacia bem pensada junto de um país que é um mercado gigantesco, com uma apetência crescente para consumo de vinhos e um sentimento patriota como poucos territórios possuem. E se o Vinho Madeira esteve na fundação de uma nação, então estará certamente no coração de cada norte-americano.

Um embaixador inteligente, que revelou também gosto pessoal e conhecimento sobre vinhos, deu o mote e abriu o caminho. Tudo o resto, com empenho e muita boa vontade, fez-se. John Adams, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson e Georges Washington, quatro dos “Founding Fathers”, pais fundadores da nação Americana, selecionaram Vinho Madeira. E naquele país, que partilha o Atlântico e a maior comunidade lusa radicada fora de Portugal (estimada em cerca de 1,4 milhões de pessoas, face aos 1,1 milhões na França), ainda são poucos os que sabem disso. Importa saberem isso e muito mais sobre Portugal e os vinhos portugueses, até porque as exportações de vinhos nacionais para os EUA significaram 68,9 milhões de euros em 2015, um aumento de 16% em comparação com o ano anterior.

Tive o privilégio, na qualidade de diretor da EV-Essência do Vinho, empresa selecionada para produzir este evento em Washington, de assistir ao renascimento de uma oportunidade. E estou certo que muitas outras haverá. É só abrir os olhos.
 

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