The next big thing

Loureiro pode ser a próxima grande casta portuguesa a ter um lugar no firmamento, afirmando-se como “the next big thing” nos vinhos brancos varietais.

 


Com a sua proverbial boa disposição e sentido de humor, o meu amigo Álvaro Van Zeller andava a desafiar-nos há já algum tempo para uma incursão ao seu magnífico Solar das Bouças, uma quinta de referência nos Vinhos Verdes localizada na margem direita do Cávado, a escassos minutos da cidade de Braga. Desafiou simpaticamente um grupo de confrades enófilos – “Tenho lá uns Rieslings antigos para provarmos…” – e lá fomos nós ao prometido almoço que seria antecedido de uma curiosa (e muito conclusiva) prova vertical de diferentes colheitas do Solar das Bouças, desde 2007 ao novo 2014, um vinho varietal da casta
Loureiro que me introduziu, nos idos anos 80, no reino então muito limitado dos vinhos brancos portugueses.

Os Rieslings que ele lá tinha eram, obviamente, os vinhos Loureiro do Solar das Bouças. Tal como suspeitávamos, a começar pelo próprio Álvaro Van Zeller, confirmou-se amplamente que a casta Loureiro é muito mais do que responsável por vinhos jovens e exuberantes, mas efémeros e de morte súbita, com predominância de aromas florais, frutos tropicais, citrinos e um tempero de folha de louro. A par das já reconhecidas Alvarinho e Touriga Nacional – esta nas castas tintas – o Loureiro pode (e merece) ser a próxima grande casta portuguesa a ter um lugar no firmamento, afirmando-se como “the next big thing” nos vinhos brancos de uma só casta, delicados, sedutores, florais, com intensa mineralidade e relativo baixo teor alcoólico que o mundo inteiro anda a consumir cada vez mais. E provou-se sobretudo que a longevidade dos grandes Loureiro, como são estes que provámos no Solar das Bouças e são também – é justo dizê-lo – os extraordinários vinhos produzidos por Pedro Araújo na limiana Quinta do Ameal, resulta em vinhos sedutores nos seus aromas de oxidação nobre – permitam-me
chamar-lhe assim – envolvidos por um manto de notas químicas, acácia, rosa, salpicos de mel e damasco. Que grandes vinhos, que bela experiência! Não por acaso, esta prova vertical que juntou meia dúzia de amigos foi unânime e lapidar: o melhor vinho provado foi o 2008, numa disputa muito renhida com a colheita de 2007. Os vinhos mais velhos, portanto.

E, de repente, a minha memória sensorial recuou quase 10 anos até um daqueles memoráveis jantares na casa de Dirk Niepoort, na portuense Areosa, em que alguém, a dada altura, vai à cave inigualável do anfitrião e traz para a mesa uma preciosidade. No caso em apreço, era uma garrafa magnum que perfumou a sala com aromas intensamente florais. Na boca, revelou-se um vinho delicado e encantador. Que grande Riesling! Por analogia com a prova do Solar das Bouças, dei comigo a lembrar-me também de uma vertical que fizemos nos primórdios desta revista e que reuniu uma década de colheitas Soalheiro, marca paradigmática dos varietais Alvarinho, em que ficou igualmente comprovada a longevidade dos vinhos da casta rainha de Melgaço e Monção.

Eis dois caminhos possíveis (e apetecíveis) para os brancos portugueses e, muito em especial, para a atlântica região dos Vinhos Verdes: num país com uma cultura de tintos de lote, apostar em monocastas brancos de nível mundial. Clientes não faltam. E grandes brancos também já temos. 

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