O vinho em palavras

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Manuel Moreira

Manuel Moreira

São necessárias palavras para falar do vinho? Quais as apropriadas? Correrei o risco de ser enochato ou pretensioso?



O vinho pode ser consumido, desfrutado, apreciado no seu todo, mas igualmente verbalizado. Isto para além do “gosto!” ou do depreciativo “não gosto!”, do simples “é bom!” ou mesmo do entusiasmado “grande pomada!”. As palavras ajudam a reparar nas coisas, a prestar atenção. Não é fácil, contudo, traduzir por palavras um conjunto de sensações – expressar o prazer, a sensação de agrado, o suspiro que provoca ou o desapontamento de uma expetativa infundada. Como em qualquer outra atividade existe um vocabulário associado ao vinho. 
Visualmente, nos tintos os tons rubi, granada e púrpura dos mais jovens, dão lugar aos vermelhos atijolados, acastanhados e mogno dos mais envelhecidos. Já a cor dos brancos anda na família dos amarelos. Amarelo pálido, citrino, amarelo palha, evoluindo para tons dourados, ouro e acobreado nos mais antigos. Nos rosados, dos mais clarinhos rosa salmão, casca de cebola e coral aos intensos rosa framboesa e cereja. A todas as cores podemos complementar com intensidades como, claro ou pálido, ou ainda forte, intenso e carregado. 

Já através do olfato percecionamos o aroma do vinho, o ar carregado de odores, de aromas, moléculas odoríferas que se evaporam e são captadas pela mucosa olfativa situada na parte superior das narinas, que transmitem a informação recebida, canalizam essas mensagens para o cérebro. Um pequeno detalhe! A temperatura e o copo têm muita influência em como essas moléculas são captadas. Os aromas provêm da individualidade das castas, da influência do clima e do lugar onde se situam as vinhas, de como foram vinificados e estagiados os vinhos, o tempo de guarda, as características de cada ano, etc. A grande família aromática reside nos aromas frutados. Podem-se manifestar frescos ou maduros, também em compota, podem ser de frutos vermelhos ou amarelos, tropicais, cítricos ou silvestres. Existem os aromas a especiarias, os de oxidação ou redução, os queimados e tostados, os frutos secos (avelã, noz, amêndoa) ou desidratados (passa, figo, ameixa), etc. Alusões minerais (terroso, vulcânico, gasolina, cêra, ardósia, cabeça de fósforo), podem ser intensos, profundos, amplos, complexos e ricos, distintos, delicados ou elegantes. Em sentido contrário podem ser simples, leves, vulgares e corretos. 

Na boca percecionamos os sabores (doce, ácido, amargo, salgado), texturas (aveludado, macio, seco, adstringência), formas (redondo, aguçado, angular), equilibrado ou desequilibrado e balanço ao conjunto da combinação das sensações. Vinho chato, frouxo pela reduzida acidez, que também pode ser fresca, refrescante e viçosa, se for adequada, e verde ou aguçada, excessiva. Em relação ao corpo, no qual o álcool tem forte influência, pode ser magro, fraco ou aguado, no meio termo pode ser cheio, amplo, potente, se em demasia será pesado, alcoólico e explosivo. 

No que respeita à adstringência, em especial nos tintos, pode ser sedosa, aveludada ou polida, no outro extremo pode ser duro, áspero, agressivo ou mesmo adstringente. Podemos também usar palavras para medir a extensão das sensações, tais como curto, breve ou longo, assim como a duração dos sabores do vinho, persistente ou prolongado. 
Agora é só colocar em prática e treinar!