Castelão

Apenas Setúbal lhe continua fiel

 

{ Aromas de groselha, ameixa e frutos silvestres }

 

Durante anos foi ovacionada sob o nome Periquita, apesar de este, legalmente, não ser aceite. Com a presente designação oficial Castelão, esta casta já mereceu muitos outros apelidos, entre os quais Castelão Francês. É igualmente reconhecida pelos nomes João Santarém, no Ribatejo, Trincadeira ou Trincadeiro, na Estremadura (sem qualquer relação de parentesco com a verdadeira Trincadeira), e Tinta Merousa, em Santa Marta de Penaguião, no Douro. Tendo similitudes linguísticas, não existem relações de parentesco com a casta Castelão Nacional.

Foi, no entanto, sob a alcunha Periquita que a casta se tornou verdadeiramente popular. Tudo se deveu ao esforço e empenho de José Maria da Fonseca que, ao fixar-se em Setúbal vindo do Dão natal, plantou varas de João Santarém na vinha da Cova da Periquita. O vinho ganhou tal fama na região, e mais tarde no resto de Portugal, que rapidamente o nome passou a ser associado à casta. O Castelão – voltamos a insistir na designação oficial – já foi a casta tinta mais plantada nas vinhas portuguesas. Para além do Setúbal pátrio, foi uma das castas recomendadas no Alentejo, até mesmo rainha da maioria das sub-regiões alentejanas.

No Ribatejo, Estremadura e Algarve também chegou a ser maioritária. Todavia, na actualidade trata-se de uma casta em franca regressão, ignorada nas novas plantações e arrancada nas vinhas estabelecidas e nas vinhas velhas. Apenas Setúbal lhe continua fiel, embora também ali exista a procura recente de castas alternativas.

É em vinhas velhas e maduras, de baixa produtividade, devidamente controladas, que o Castelão dá origem a vinhos estruturados, frutados, com particular incidência na groselha, na ameixa em calda, nos frutos silvestres e nas notas de caça mortificada. A acidez costuma ser assertiva e os taninos proeminentes. Os bons vinhos apresentam boa capacidade de envelhecimento mas, quando o vigor não é controlado, podem resultar agressivos, magros, descolorados e acídulos. O Castelão é a identidade da Península de Setúbal. Ao querer fugir ao estigma do Castelão, substituindo a casta por alternativas forasteiras, a região corre o risco de perder um dos seus principais sinais identificadores e diferenciadores. E, muitas vezes, é assim que se pode descaracterizar uma região…

 

Quer experimentar?

Para disfrutar de todo o potenccial desta casta aqui ficam três propostas, todas provenientes do santuário do Castelão, a Península de Setúbal. Primeiro, o inevitável
Periquita da JMF, o vinho mais clássico de Portugal, o mais antigo, o exemplo perfeito das virtudes e peculiaridades da casta. Em segundo lugar, um vinho das vinhas do Poceirão, a zona de excelência da casta, domicílio dos melhores exemplos de Castelão. Um vinho exigente e austero. Finalmente, o Leo d’Honor, um vinho de vinhas muito velhas, um vinho potente e rústico, um Castelão intenso, de enorme potencial de guarda.

- Periquita 2005
- António Saramago Escolha 2003
- Leo d’Honor 2001