Cerveja Madam Lindinha Lucas

Fotografia: Ricardo Garrido
Luís Alves

Luís Alves

Diogo Trindade, um dos fundadores da Cerveja Madam Lindinha Lucas, fala com a Revista de Vinhos encostado à Alice, uma mota assim batizada, estacionada nas instalações da cervejeira. Não poderia ser de outra forma. “A mota, esta e todas as que já cruzaram a história desta cerveja, fazem parte da Lindinha Lucas”, refere.


Os três sócios originais gostavam de motas, tal como a Lindinha, essa personagem fictícia que deu o mote à criação da cerveja artesanal. Nasceu de uma brincadeira entre três amigos, não porque viram uma oportunidade de negócio mas porque queriam consumir o que não encontravam no mercado. “Tínhamos outras vidas profissionais, cada um na sua empresa, mas uma vontade de fazer cerveja. Fizemos uma primeira tentativa que nunca conseguimos replicar e que foi essencialmente para nós e para os nossos amigos”, recorda Diogo, que lembra um aviso de um “bom amigo” pouco tempo depois. “Disse-nos que a gastar o que estávamos a gastar na produção mais valia comprarmos a cerveja num sítio qualquer. E tinha razão. Foi o clique para tornarmos o processo mais racional, com custos controlados e daí nasceu o negócio que foi durante mais alguns anos um segundo emprego para nós”. De brincadeira a negócio principal passaram uns anos e hoje a Madam Lindinha Lucas, liderada por Diogo Trindade, Pedro Crispim (fundadores) e também por Sofia Oliveira já não é hóbi para nenhum dos três, apesar da “brincadeira” continuar. “Fazer e vender cerveja é giro porque a cerveja é tudo menos um mercado fechado. É inclusiva. Qualquer pessoa é bem-vinda e acabamos por ser uma grande família neste mercado em que todos se conhecem”, afirma Diogo. Um mercado, diga-se, que não existia mas que tem dado sinais de consistência e crescimento. Sofia Oliveira aponta aspetos encorajadores nas artesanais em Portugal. “Acho que estamos no bom caminho. Estamos a fazer coisas muito boas e a fazê-lo muito rapidamente. Enquanto alguns mercados nascem e vão crescendo devagarinho, em termos qualitativos, a cerveja artesanal portuguesa atingiu muito rapidamente um padrão de qualidade elevada”, afirma Sofia Oliveira que acredita que o setor, como um todo, “está a fazer cervejas que se podem bater com algumas das melhores, o que nos dá alguma segurança para continuar a fazer este caminho. É um mercado para ficar”, resume.


Um rebranding para abrir horizontes


No ano de 2020, de pandemia e de muitas dificuldades em geral, a Madam Lindinha Lucas trouxe novidades e não deixou de fazer mexer o mercado. Foi no ano passado que se apresentou com este novo nome e com uma justificação muito clara para a alteração. “Lindinha Lucas sempre foi um nome quase impronunciável fora de Portugal. Mesmo em Portugal há quem lhe chame outras coisas! Mas fora é realmente difícil”, começa por dizer Pedro Crispim, que avança sobre o plano dos próximos anos. “Se o objetivo passa pela internacionalização, então o nome era a primeira tarefa a cumprir. E assim surgiu em 2020 a alteração de nome de Lindinha Lucas para Madam Lindinha Lucas, que abreviado será apenas ‘Madam’, acessível à maioria das línguas. O rebranding, no entanto, não é a única novidade. O refrescamento de objetivos passa também por tornar a Madam a “referência da cerveja artesanal portuguesa fora do país, já que o portefólio e a estratégia estão definidas e consolidadas dentro de portas”, afirma Pedro Crispim. E, por falar em portefólio, recorde-se que a Madam tem atualmente três cervejas, bem diferentes entre si. A “The Exquisite Session IPA”, mais consensual e a mais antiga no cardápio; “The Margarita Gose Solo”, uma cerveja a lembrar uma margarita, inspirada nos cocktails e; por fim, uma novidade: a Brunch Affair. Uma cerveja do tipo Imperial Stout lançada para o mercado em dezembro último. Convocam aromas e sabores que são conhecidos de todos e que ajudam a fazer a entrada de consumidores menos habituados a beber cerveja artesanal. “A mensagem não é difícil de passar. Mesmo a nossa Imperial Stout tem notas que conhecemos como o chocolate ou o café. É uma cerveja diferente das industriais? Claro que sim. Mas ninguém vai ficar perdido de um ponto de vista sensorial”, acredita Sofia Oliveira, que partilha a tristeza de 2020 tem sido o ano em que não se fizeram os já tão conhecidos festivais de cerveja. “São uma verdadeira reunião de família, em que se trocam conhecimentos, experiências, onde promovemos as nossas marcas e, também e não menos importante, onde fazemos parcerias que por vezes duram anos”, refere Sofia que ainda assim conseguiu contornar o contexto pandemia com o e-Art Beer Fest (ver caixa).

Enquanto os festivais de cerveja não regressam, como a maioria dos eventos, concentram-se esforços no lançamento de novidades e na procura de respostas às tendências mais recentes do mercado. É o caso do enlatamento. “Não é muito vulgar ver latas nas cervejas artesanais. Fizemos esta aposta e, das três cervejas do nosso portefólio, apenas uma é apresentada em garrafa”, explica Pedro Crispim, que refere que esta é uma aposta inovadora para manter, com bons argumentos. “É uma forma eficaz de conservar cerveja e, se quisermos extrapolar, as bebidas em geral. É eficaz porque, ao contrário do vidro, não temos trocas entre o interior e o exterior da lata. E a questão da pegada ambiental é um outro ponto forte. O vidro e o alumínio são ambos recicláveis. A questão é o quão fácil é reciclar um e outro. E o alumínio tem uma taxa de reciclagem e de reutilização muito superior”, assegura. Com esse conhecimento adquirido, a empresa pretende também prestar o serviço de enlatamento a outros cervejeiros que tenham latas no portefólio.