Quinta de Curvos

À beira-mar, entre camélias…

Fotografia: Ricardo Garrido; Daniel Luciano
Marc Barros

Marc Barros

A Quinta de Curvos é uma joia escondida no seio da região dos Vinhos Verdes, conhecida apenas de alguns privilegiados que a visitaram. Algo que é até bastante curioso, tendo em conta os pergaminhos históricos que apresenta e o facto de ostentar uma das maiores coleções ibéricas de camélias. Não por acaso, a propriedade integra a Rota dos Jardins Históricos e a rede internacional Camillian Gardens of Excellence.


Mas comecemos pelo início: no início do século XX, Rodrigues Faria, um abastado emigrante português radicado no Brasil que fez fortuna no negócio do sal, regressa à sua Esposende natal, onde adquire e edifica uma propriedade única. Aí começa a construir uma casa de traça ‘brasileira’, rodeada por um jardim que seguia a matriz dos jardins românticos de oitocentos, a que não faltam as grutas e o lago. É este Rodrigues Faria quem compra o terreno onde viria a ser instalado o hospital de Esposende e contribui financeiramente para a construção de escolas e outros equipamentos, sendo hoje considerado um grande benemérito do concelho.

Mais tarde, por entre partilhas pelos sobrinhos de Rodrigues Faria, é um inglês, Leslie Riggall de seu nome, personagem um pouco obscura mas um enorme apaixonado pela botânica, quem adquire a propriedade e eleva os 10 hectares de jardins a um patamar de absoluto deslumbramento luxuriante, ao mesmo tempo que decide… fatiar a casa da quinta, retirando-lhe um piso e os seus torreões. Decidido a abandonar Portugal depois de 1974, convencido, segundo relatos da época, de que alguém teria tentado envenenar a água, Rigall vende a Quinta de Curvos aos irmãos José Maria e Jaime Fonseca e parte para a África do Sul. Os dois irmãos, recém-regressados de Angola para a Póvoa do Lanhoso, onde têm raízes, retomam no Minho o percurso profissional na indústria têxtil que haviam encetado na antiga província ultramarina.

A plantação das primeiras vinhas na Quinta de Curvos deu-se poucos anos depois, “inicialmente a título lúdico”, como nos conta Miguel, filho de José Maria Fonseca e atual CEO da empresa. “Inicialmente fazíamos apenas dois vinhos: um lote típico de Loureiro, Trajadura e Arinto, e um Vinhão”. Porém, nos últimos 10 anos, a família decide “assumir maior profissionalismo na produção de vinhos”, avançando com a renovação da vinha para os atuais cinco ha., que têm hoje “idade média de 12 anos” – e optaram por plantar e alugar vinhas em Ponte de Lima e Barcelos. No conjunto, operam cerca de 30 ha de vinhas. Para além disso, produzem vinhos do Douro, sob a marca Prova Cega. 

O foco total no vinho incluiu a contratação do enólogo consultor António Sousa e o lançamento de uma gama bastante diversificada de vinhos, resultando, por exemplo, em dois vinhos galardoados no último concurso ‘Os Melhores Verdes’ da CVRVV com a medalha de ouro, no caso o Alvarinho de 2020 na categoria Regional Minho e o Espumante Bruto Reserva de 2016.


Sopro de mar


A produção anual da Quinta de Curvos ronda as 400.000 garrafas em duas marcas: a topo de gama Curvos, vocacionada para a restauração e garrafeiras, e a marca Afectus, esta última “direcionada para outros canais de distribuição”. E, para além dos vinhos mais tradicionais com as castas autóctones da região, não se furtam a certa dose de experimentalismo, consubstanciada, entre outros, num vinho doce de colheita antecipada, um Vinhão estagiado em barrica ou um Sauvignon Blanc de nomeada.

Para tanto, a peculiaridade de as vinhas da Quinta de Curvos estarem a uma distância inferior a 6 kms. em linha recta do oceano dita as suas regras: “Temos que ter algum cuidado, pois há anos em que corre menos bem”, explica Miguel Cardoso. “Verificamos que a casta Alvarinho talvez não tenha aqui a localização ideal, já que tem produções muito baixas, mas os vinhos tornam-se muito frescos, com alguma salinidade e, ao mesmo tempo, bastante expressão aromática”. Também este microclima “pode ser uma vantagem, pois o período ótimo de vindima acaba por ser diferenciado e permite gerir o calendário de vindima em função do perfil que pretendemos para o vinho”, conclui. No entanto, ainda não se produzem vinhos com uvas obtidas exclusivamente desta quinta, sendo que todos os vinhos provêm de uvas de Esposende, Barcelos e Ponte de Lima. 

Um próximo passo rumo à sustentabilidade deste projeto envolve a abertura ao público em moldes mais profissionais (já que, atualmente, é possível visitar os jardins mediante agendamento) conjugando as duas valências: botânica e vinhos. Esta componente turística incluirá visitas guiadas e provas de vinhos. O melhor de dois mundos…

Quinta de Curvos
Avenida Rodrigues Faria, 533
4740-435 Forjães - Esposende 
T. 253 048 032 
M. 964 770 088
E. geral@quintadecurvos.pt