Sovibor

Um novo fôlego em Borba

Fotografia: Ricardo Garrido

Fernando Tavares, o proprietário da distribuidora Sotavinhos, concretizou o sonho de também produzir vinho. Pensou em algo de pequena dimensão, mas uma oportunidade daquelas irrecusáveis levou-o a adquirir a Sovibor e, assim, a reabilitar um histórico de Borba. Os vinhos de talha e os Mamoré vinificados em lagar merecem apreciação atenta.

 

Não é segredo que os vinhos de Borba possuem identidade muito própria. O planalto permite altitudes mais elevadas (entre os 300 e os 400m), contribui com temperaturas mais frescas e maior amplitude térmica, o que facilita a maturação plena das diferentes castas e índices assinaláveis de acidez natural das uvas. Como é bom de perceber, um contexto otimizado para facilitar o correto envelhecimento dos vinhos.

Na hora de concretizar o sonho de também se tornar produtor, Fernando Tavares não pensou duas vezes quando surgiu a oportunidade de adquirir a Sovibor às famílias Mira e Pinto, que a haviam fundado em 1968. O responsável pela distribuidora Sotavinhos tem um carinho especial pela sub-região alentejana, tendo representado durante vários anos vinhos de Borba.


Natural de Vale de Cambra, uma das linhas de fronteira da região dos Vinhos Verdes, desde criança que habituou-se a perceber o que era o vinho. O pai tinha vinhas e a perceção do vinho enquanto agregador de amigos à roda de uma mesa tornou-se ideia consolidada à medida que a criança se tornou jovem e, depois, adulto.

A ligação de 30 anos ao setor, percorrendo o país de norte a sul e estabelecendo parcerias e amizades com diferentes atores, fê-lo aperceber-se que um dia também seria produtor, embora tivesse imaginado um projeto de pequena dimensão, ou seja, a uma escala muito distinta da Sovibor. Bom, mas todos sabemos que na vida há oportunidades que não devemos enjeitar…
O edifício da Sovibor, duplamente centenário, tem uma localização privilegiada, no centro de Borba. As instalações são generosas em dimensão, embora muito do trabalho realizado desde a aquisição, em 2014, tenho sido, precisamente, o de as recuperar. Mas, apesar da qualidade do equipamento enológico – o mais sofisticado e o mais tradicional, como os lagares ou as talhas – , o mais valioso património está ao ar livre.

São 80 hectares de vinha própria, larga franja em solos xistosos, a que se junta a matéria-prima de outros viticultores. No total, 200 hectares de vinhas estão na base de uma produção média anual de 1,2 milhões de garrafas. A exportação equivale a 15%, Angola, França e EUA os principais destinos.
Por entre as vinhas, as meninas dos olhos são as cepas com mais de 50 anos, vinha velha em sequeiro, de raízes bastante profundas e rendimentos que não ultrapassam os 1.500kg/ha. Estão na origem de alguns dos vinhos de segmento mais exclusivo da Sovibor. Ostentam o nome Mamoré de Borba e muitas das vinificações são feitas em lagar ou em talhas. No primeiro caso, lagares de mármore, com pisa a pé e posterior passagem por balseiros.

Notáveis vinhos de talha

O segundo caso merece uma atenção muito especial. A Sovibor tem um apreciável património de 80 talhas, a generalidade adquirida em São Pedro do Corval, todas pesgadas com cera de abelha, resina e azeite.
António Ventura, dos mais consagrados enólogos portugueses, por estes tempos a completar 40 anos de ofício, acompanha o projeto há cinco anos e reconhece que Fernando Tavares é o principal guardião das talhas. As experiências têm-se sucedido a um ritmo alucinante e garantem-nos que apenas uma pequena parte dos vinhos acaba engarrafada e no mercado. 

Dos exemplares que tivemos oportunidade de provar ficamos particularmente bem impressionados com o Vinhas Velhas branco de 2018 e o Moreto também de 2018, por apresentarem uma personalidade vincada, muito equilíbrio estrutural e pergaminhos que certamente permitirão guarda. Vinhos que expressam bem castas, terroir e formas de vinificar e que, por isso mesmo, merecem acompanhamento futuro atento.
Fernando Tavares, a filha Rita, os enólogos António Ventura e Rafael Neuparth escrevem um novo e promissor capítulo na história da Sovibor, uma espécie de gigante que estava meio adormecido em Borba.

 

18
Mamoré de Borba Grande Reserva Edição Comemorativa 50 Anos 2015

Alentejo / Tinto / Sovibor
Rubi escuro, quase púrpura. Notas de ginja e groselha preta, ameixa, chocolate negro e especiaria. O tanino é carnudo e toda a estrutura está suportada por uma acidez estonteante, que lhe suporta o volume e contribui com nervo. O final é quase interminável de tão prolongado e a nota final que deixa é fresca. Um portento, com largos anos de futuro.
Consumo: 2021-2035
65,00 € / 16ºC

 

18
Mamoré de Borba Vinho de Talha Moreto 2018

Alentejo / Tinto / Sovibor
Rubi claro. Nariz de resina, folha seca, tentadoras notas de morango e de cereja. Tanino solto, preciso e muito fresco, estrutura elegante, volume esculpido em detalhes. Termina delicioso e de forma bastante delicada, com boa acidez e complementos de mato. Um dos grandes vinhos de talha que hoje podemos provar no Alentejo.
Consumo: 2021-2028
45,00 € / 16ºC

17,5
Mamoré de Borba Grande Reserva 2015

Alentejo / Tinto / Sovibor
Rubi escuro. Nariz de ameixa seca, mirtilo, café, menta e especiaria. Apontamento de giz, que o valoriza. Tanino aveludado, corpo definido, frescura geral. De final muito persistente e a deixar boa lembrança. Lote de Alicante Bouschet, Syrah, Cabernet Sauvignon e Castelão, está a evoluir bem e merece um charuto.
Consumo: 2020-2028
45,00 € / 16ºC

17
Mamoré de Borba Curtimenta 2018

Alentejo / Branco / Sovibor
Amarelo, reflexos âmbar. Notas de alperce, marmelo, amêndoa torrada e geleia de fruta branca. Muito boa untuosidade, volume generoso, acidez a correr em fundo. Final persistente e cheio de sabor, de nuance salina. É 100% Antão Vaz, vinificado em barro e em barrica, de perfil oxidativo, muito carácter e com pergaminhos para evoluir. 
Consumo: 2021-2028
45,00 € / 11ºC

16,5
Mamoré de Borba Talha da Rita 2018

Alentejo / Branco / Sovibor
Âmbar. Notas de lima, pêssego e tangerina. Apresenta boa untuosidade, volume correto, final teimoso e profundo, com uma enérgica nuance salina. Combina Antão Vaz e Arinto e remete-nos de forma automática para o método de vinificação.
Consumo: 2021-2024
45,00 € / 11ºC

16,5
Mamoré de Borba Vinho de Talha Alicante Bouschet 2018

Alentejo / Tinto / Sovibor
Rubi. Notas de azeitona, trufa e ameixa seca. O tanino está ainda áspero e com secura, a acidez é elevada, tem bom volume, final muito prolongado e musculado. Raçudo e de perfil mais vegetal, necessita de tempo de garrafa para suavizar.
Consumo: 2021-2028
45,00 € / 16ºC

16
Mamoré de Borba Vinho de Talha Syrah 2018

Alentejo / Tinto / Sovibor
Rubi. Notas de geleia de fruto vermelho, cereja seca, complemento vegetal. Tanino muito elegante, estrutura apoiada por uma acidez que apraz, volume corretamente dimensionado. Finaliza com frescura e bebe-se com muito prazer.
Consumo: 2021-2024
45,00 € / 16ºC

16
Mamoré de Borba Vinho de Talha Vinhas Velhas 2018

Alentejo / Tinto / Sovibor
Rubi. Aromas de resina e cereja fresca, folha de tomate, pimento e vegetação. Tanino suculento, bom volume, final mais largo e quente, com derradeira nuance que lembra vapor de café. É um 100% Trincadeira, mais exótico que os restantes.
Consumo: 2020-2026
45,00 € / 16ºC

 

TEXTO E NOTAS DE PROVA José João Santos, Nuno Guedes Vaz Pires

 

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