ESTUDO ANALISA CONTEXTO NO CONSUMO DE VINHO DO PORTO

Fotografia: Fotos D.R.
Redação

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O projeto 4Cs – Consumer Cross Cultural Context analisa e avalia as diferentes formas como o Vinho do Porto pode ser aceite e percecionado pelos consumidores, mediante a presença de elementos externos, capazes de influenciar o impacto da experiência ao nível sensorial.

 

Entre estes elementos externos contam-se, por exemplo, a combinação com outros produtos alimentares, a música ou a iluminação do ambiente de prova. Realizado pela Sense Test, empresa dedicada a estudos de análise sensorial, em parceria com o grupo Sogevinus, a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e a WedoTech, este estudo fez uma avaliação completa do ato de consumo de Vinho do Porto, em diferentes contextos, de forma a perceber as sensações dominantes presentes em cada um desses momentos. O objetivo é que o conhecimento destes resultados sensoriais possa ser utilizado pelas empresas do setor para potenciar um maior consumo e uma maior aceitação do Vinho do Porto através do contexto mais adequado.
O projeto decorreu de junho de 2018 a março de 2022 e compreendeu três fases distintas. A primeira fase consistiu na avaliação do perfil sensorial e dinâmico do Vinho do Porto. Na base do estudo estiveram quatro tipos de vinhos distintos, produzidos pela Cálem e representativos dos diferentes estilos de Porto: um Branco Seco; um Tawny 10 anos; um Late Bottled Vintage 2013; e um Vintage 1985.
De acordo com o comunicado enviado às redações, o estudo concluiu que a experiência de consumo deste produto não corresponde a um processo estático: desde o primeiro gole, e à medida que o vinho é degustado, cada palato consegue identificar diversos aromas, sabores e sensações, que vão surgindo com intensidades distintas e com diferentes tempos de perceção. Através de métodos de medição dinâmica, o estudo permitiu perceber, em detalhe, como é que a identificação dos atributos do vinho, a aceitação e as emoções que este desperta mudam ao longo da prova. Esta perceção dinâmica permitiu observar, entre outros aspetos, que, em testes realizados a painéis de consumidores e a painéis de peritos em vinho, os consumidores não só têm uma perceção mais simples do produto, identificando menos atributos que os provadores peritos, como fazem também uma identificação diferente das características dominantes de cada vinho. A título de exemplo, enquanto que na caracterização do perfil do Branco Seco, o primeiro atributo usado pelos provadores peritos foi “doce”, os consumidores selecionaram, como característica inicial, o “ácido”.
A segunda fase do projeto estudou a perceção do Vinho do Porto quando harmonizado com outros produtos nacionais como os ovos moles, o queijo de São Jorge, os almendrados ou a pasta de azeitona preta do Douro. Entre outros resultados, foi possível concluir que a identificação dos atributos e a aceitação do vinho sofrem alterações depois deste ser provado em combinação com um alimento.
Enquanto que as duas primeiras fases decorreram em ambiente controlado de laboratório, a fase final do estudo foi realizada num contexto de consumo real, tendo como cenário as caves de Vinho do Porto da Cálem. Esta etapa permitiu avaliar de que forma a modificação do contexto pode impactar a perceção do produto por parte do consumidor.
Um dos contextos em análise foi o contexto intercultural, para perceber de que modo a perceção e a aceitação do vinho e dos pairings diferem consoante as nacionalidades. O estudo demonstrou que, de forma genérica, o recurso ao pairing potencia o vinho junto de todas as nacionalidades, ainda que as combinações possam ser ajustadas, por país de origem, de forma a promover uma resposta mais positiva junto dos consumidores mais exigentes.
Em análise esteve também a influência que a luz e a música presentes no contexto da prova de vinho podem ter na forma como este produto é consumido. Foram testados quatro ambientes de cor e quatro ambientes sonoros distintos (sem música| fado | jazz | música clássica) e registadas todas as diferenças percebidas ao nível da caracterização e da aceitação do vinho e do pairing. Os resultados revelam, entre outros pontos, que, de uma forma geral, o ambiente musical tem um elevado potencial de valorização do vinho, uma informação que realça a importância dos ambientes de prova poderem ser personalizados.
Segundo Pedro Braga, diretor de operações da Sogevinus, o “estudo gerou um grande volume de informação relevante que nos vai permitir não só conhecer, de forma mais aprofundada, o comportamento de todos aqueles que visitam os nossos espaços de enoturismo, mas também ter uma série de orientações estratégicas para podermos reforçar o valor do vinho do Porto e potenciar o seu consumo de um modo ainda mais expressivo. Muitos dos resultados apresentados irão, certamente, dar-nos a possibilidade de criar novos cenários de consumo e de desenhar ofertas e experiências diferenciadoras, validadas pelo conhecimento científico”, acrescenta Maria Manuel Ramos, diretora de turismo da Sogevinus.

Os números do projeto
* 49 ensaios distintos
* 6.073 avaliações totais
* 33 nacionalidades
* 850 provadores internacionais
* 30 kg ovos moles
* 2.000 unidades de almendrados
* 30 kg de queijo
* 15 kg pasta de azeitona
* 123 garrafas de vinho do Porto