Restaurante 1828 aposta no conceito steakhouse

World of Wine

Fotografia: Fotos D.R.
Luís Alves

Luís Alves

Inserido no quarteirão cultural do World of Wine (WOW), em Vila Nova de Gaia, o 1828 aposta forte no conceito de "steakhouse" e à boleia traz ainda harmonizações menos prováveis.

 

Dos vários restaurantes que o World of Wine tem, no generoso quarteirão cultural de Gaia, o 1808 tem sido dos mais despercebidos. Uma pandemia e o facto de ser o único que não dispõe de espaço exterior com esplanada podem ser justificações para esse aparente anonimato. Mas as razões para o visitar não ficam atropeladas por esses factos. Bem pelo contrário, e em particular agora que a pandemia parece estar a aligeirar efeitos globais.

Começamos pela vista da sala do 1808 que é, de resto, comum a todo o quarteirão: a cidade do Porto, de frente, esplenderosa. Nas costas da sala é ainda possível ver uma parte de Vila Nova de Gaia, do Jardim do Morro e do azáfama da Rua General Torres, artéria que faz a ligação até ao tabuleiro inferior da Ponte Luís I.

O 1828 - que deve o seu nome ao fim do Cerco do Porto, resultante do conflito entre absolutistas e liberais e que opuseram D. Miguel e D. Pedro - começou por ser um restaurante de conceito "fine dining" mas rapidamente fez um ajuste para o de "steakhouse". A mudança tem explicação na leitura de mercado da cidade. Se o primeiro conceito já tem uma boa dose de oferta, do segundo já não se pode dizer o mesmo. Ficou a "steakhouse" e com isso a cozinha ganhou um "Ferrari". Silvina Coelho, chefe de cozinha, explica. "Temos um grelhador Josper, feito em liga de aço, que é definitivamente uma das grandes estrelas da nossa cozinha. Criado por dois catalães (Josep Armangue e Pere Juli), este forno tem a capacidade de assar e grelhar a uma temperatura média entre 300 a 350º C", refere. O "Ferrari" é capaz de outras "velocidades" - pode chegar aos 550ºC - e usa "gasolina" latino-americana. "O carvão que usamos é cubano e permite dar um sabor especial às nossas carnes", explica Silvina.

O forno tem a capacidade de "servir" 175 clientes num espaço temporal de nove horas e custou cerca de 15 mil euros. Mas como nem só de forno vive uma cozinha, importa referir a verdadeira matéria prima.

Vaca Galega

Todas as carnes do 1828 são de produção nacional e da raça Galega ou Minhota. Todas são também maturadas ainda que tenham tempos diferentes: umas 21 dias e outras 60. Os cortes, esses, são de assinatura, feitos especialmente para o restaurante. Os clientes têm a oportunidade, no momento em que chegam ao restaurante, de verem as carnes antes de entrarem no já famoso Josper. Ainda a propósito da confeção, importa dizer que no 1828 as carnes antes de entrarem no forno apenas são temperadas com sal marinho. Já assadas, os clientes têm a possibilidade de temperar com sais de outros tipos, desde o sal dos Himalaias, flor de sal de tomilho até à flor de sal de Vinho do Porto, produzido no próprio World of Wine.

A recomendação da carne é sempre a de não ser bem passada mas o cliente é que manda. Uma vez confecionada, fica a repousar por algum tempo antes de ser servida.

Nos vinhos, a estrutura do 1828, também comum aos outros restaurantes do WOW, é de simplificação. Priscila Haddad, head sommelier do World of Wine, explica que o objetivo é o de "democratizar o vinho nas várias categorias, à imagem do que acontece no Museu e na Escola do Vinho". Cada restaurante tem a sua carta que podem ser cruzadas com outros através do programa Wine Premium Selection.

A singularidade da harmonização de vinhos do 1828 nasce de algumas escolhas menos óbvias que são, no final de contas, uma boa surpresa. A utilização de Portos, quebrando de alguma forma o mito de que este tipo de vinhos chega ao cliente à sobremsa, é um desses bons exemplos. Neste caso, a Revista de Vinhos provou um Taylor's Vintage 2017. Mas outros exemplos poderíamos dar, como a utilização do espumante Soalheiro Bruto Rosé no final da refeição em detrimento da clássica entrada.

"Não queremos ter os melhores vinhos do mundo. Queremos, isso sim, dar a conhecer o país e alguns vinhos internacionais. E queremos fazê-lo jogando com os taninos, com harmonizações menos comuns mas igualmente competentes" refere a sommelier Priscila Haddad.