Cheap and Chic e a nova cultura do luxo

O “cheap and chic” (barato e chique) é a nova modalidade associada ao consumo inteligente que se está a manifestar nas principais cidades do mundo e que influi – e muito – nas experiências gourmet. Vários consumidores, mesmo aqueles que têm muito dinheiro, já se cansaram de pagar preços exorbitantes. Assim, muitos restaurantes viram-se confrontados com a necessidade de reduzir os preços dos pratos/menus ao jantar e no caso do almoço apresentam um menu executivo a preços mais convidativos. 


Este impacto observa-se particularmente nas cartas de vinho. Anteriormente, o preço dos vinhos nos restaurantes fixava-se multiplicando por três e até quatro vezes o valor a que eram vendidos nas lojas e garrafeiras. Agora, que a moderação está na moda, apenas se duplica. Se antes era glamoroso e distintivo pagar o mais caro possível por um determinado rótulo de vinho e um prato de comida, hoje são muito poucos os que pensam que somos valorizados positivamente pela nossa capacidade de gastar uma fortuna numa experiência gourmet. 

Existem cada vez mais pessoas que poderiam desembolsar muito dinheiro por uma menu de degustação no mais caro restaurante de uma cidade, mas já decidiram que não vale a pena pagar uma conta excessiva quando podem sentir-se igualmente satisfeitas, com uma entrada, um prato e um bom vinho, e pagar bem menos pela refeição. A febre do “sou visto por todos quando mais pago por algo”, tão própria das últimas décadas, está a extinguir-se inexoravelmente. 

Estamos a assistir a uma nova cultura de luxo e de requinte. Se antes a aquisição de produtos e serviços de luxo era apenas propriedade das pessoas com muito dinheiro, hoje abundam os estudos de analistas de mercado que nos falam de novos métodos que nos vinculam com os consumos. 

O “cheap and chic” é uma corrente dentro deste contexto. Os consumidores de objetos e produtos de grande valor historicamente encontram-se divididos em dois: os aspiracionais e os racionais. Os primeiros são os que sentem necessidade de pertencer a uma determinada comunidade e gostam de ser ostentosos. Mais do que o produto, compram o que esse mesmo produto pode simbolizar: segurança, êxito, prestígio. Os consumidores racionais são os que compram guiados pelo desejo e não por uma compulsão simbólica, são os que não necessitam de se expor nem de se validar através do que compram. Neste cenário atual, os consumidores aspiracionais estão a cair em desgraça, pois a sociedade já não os considera glamorosos. Os novos porta-bandeiras são os consumidores racionais. E não é necessário ser milionário para consumir luxo, pois os preços tendem a acomodar-se. Também os casais sem filhos e com um vencimento “duplo”, os solteiros tardios e os divorciados somam-se a este grupo, que cresce impulsionado pelos setores da classe média e média-alta. São pessoas que decidiram prescindir da ostentação e economizam em certos momentos para aceder a produtos de alta qualidade, pagando um preço conforme. 

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