As sidras estão de volta

Fotografia: Ricardo Garrido
Luís Alves

Luís Alves

A sidra, uma das bebidas mais antigas do mundo – existem registos do seu consumo de há sete mil anos – tem reconquistado públicos em Portugal, como noutros países. Recordamos a história, os tipos de sidra e as vantagens do seu consumo para, na próxima edição, falarmos de casos concretos de quem produz esta bebida em Portugal.


1. História da Sidra

Como noutros domínios, também aqui os relatos históricos variam. Existe, no entanto, um consenso inegável: a sidra é uma bebida milenar, com produção e consumo bem descritos na História. Existem essencialmente duas grandes versões da história. Uma primeira atribui aos gregos o início do consumo, em 600 a.C.. Tratava-se de “sikera”, uma espécie de vinho de maçã. Um segundo relato, mais antigo, de 800 a.C. atribuiu aos Celtas a produção de uma bebida que era produzida pela extração de sumo de maçã que depois fermentava. Já em 55 a.C., Júlio César mandou plantar vários pomares de macieiras para poder beber esta bebida durante a primeira invasão britânica – e Inglaterra mantém-se como um dos principais produtores e consumidores de sidra.

A sidra está espalhada pelo mundo e esse foi um trabalho feito essencialmente por europeus. Na América do Norte foram os ingleses que deixaram essa influência; na América Latina foram os espanhóis, no início do século XX – ainda que, por exemplo, o Brasil seja uma exceção no grupo de países do continente pelo seu baixo consumo; na Austrália e também na Nova Zelândia a sidra tem consumidores influenciados pelas viagens e conquistas europeias. Dentro de portas, na Europa, destacam-se, à cabeça, a região das Astúrias como grande produtora, seguida de França e da já referida Inglaterra.

As Astúrias, por si, dariam um texto dedicado. Por lá, não só a tradição é milenar como tem associado todo um conjunto de rituais. No momento do serviço, a garrafa é elevada a uma altura superior à cabeça e vertida para um copo que está distante o suficiente – aqui a perícia e o treino são, naturalmente, essenciais. Apesar de parecer sobretudo um atrativo turístico, a verdade é que existe uma razão associada para este movimento: a passagem da bebida pelo ar, entre a saída da garrafa e a chegada ao copo permitem repor algum gás que se tenha perdido em todo o processo de enchimento. Recorde-se que a região das Astúrias é a responsável pela única Denominação de Origem Protegida da sidra, reconhecida pela União Europeia.

Em Portugal, a sidra foi trazida pelos Celtas mas permaneceu esquecida por muito tempo. Outrora consumida por todo o país – ilhas incluídas, sobretudo a Madeira – existem alguns relatos que dão conta que a aposta musculada do Estado Novo na vinha e no vinho deixou esta bebida sem grande espaço. Um capítulo passado que agora volta a ter fôlego com algumas marcas bem instaladas que trazem de novo ao consumidor a sidra.


2. Vantagens da Sidra

A literatura médica aponta várias vantagens ao consumo de sidra. Os antioxidantes são geralmente os mais referidos, presentes na maçã. Esse é um ponto em comum com outras bebidas como o vinho tinto, por exemplo. A vantagem, neste caso, é o mais baixo teor de álcool da sidra. Mas não terminam aqui as vantagens. A sidra tem presentes endorfinas que ajudam, como se sabe, nos níveis de humor e o ácido presente na bebida permite a absorção de ferro, importante quando se está, por exemplo, a exercitar o corpo.


3. Tipos de Sidra 

Como qualquer bebida, são muitas as derivações encontradas. Resumimos as mais conhecidas, começando pela sidra natural. Com um teor alcoólico máximo de 6%, envelhece geralmente em barricas e tem uma temperatura ideal de consumo entre os 7 e os 14º C.

A sidra gaseificada tem uma bebida base, feita pelo processo tradicional, e sofre uma fermentação que lhe confere gás – ou, em alternativa, é carbonatada artificialmente. Geralmente é servida a uma temperatura mais baixa (até 12ºC). 

Depois temos a sidra de mesa. Sendo uma fórmula mais jovem, resultado de um aprimoramento da técnica de produção, passa por um processo de filtragem que lhe permite eliminar impurezas, por vezes incomodativas no momento de consumo. Tem normalmente uma taxa alcoólica mais alta (até 8%).

A sidra de gelo tem um processo já conhecido do vinho de gelo. Resulta da fermentação de suco de maçã congelado. Tem uma produção mundial pequena. O teor alcoólico pode subir até aos 13% e tem um consumo mais expressivo em países como o Canadá.

O quinto estilo tem também paralelo no mundo do vinho. A sidra sem álcool chegou ao mercado para conquistar públicos específicos que gostam da bebida mas dispensam o álcool – ou não o podem consumir, seja por questões etárias, seja por outras razões.

Por fim, a “real cider” (sidra verdadeira), também conhecida como “farmhouse style”, tem uma percentagem de álcool entre os 5 e os 12% e é produzida a partir do suco fermentado de maçã e nada mais. Trata-se de um estilo original, sem adições externas e com processos tradicionais.