Birrenta mas silenciosa

Fotografia: Ricardo Garrido
Luís Alves

Luís Alves

Se a procura é por uma cerveja artesanal pura e dura, então a Birrenta não é a escolha. O rótulo diz ao que vem: “Cerveja Tradicional”, inscrito logo acima do nome.

 

“Foi uma brincadeira que começou entre o Dirk [Niepoort], o Marc [Sachs] e eu”, começa por recordar Vítor Bento. O desenho inicial e que depois se veio a materializar numa receita era de uma cerveja leve, fácil de beber, facilmente distinguível. Algo semelhante à elegância e leveza que o produtor Dirk Niepoort imprime nos vinhos e sobretudo no projeto Nat’Cool. A fórmula, essa, surgiu quase à primeira. “A escolha dos maltes e do lúpulo certos eram essenciais. Tínhamos algum conhecimento prévio do que queríamos e depois fizemos uma seleção”, conta Marc Sachs. Após alguns testes caseiros e depois de um último ensaio de maior dimensão – num lote de 500 litros – a receita ficou apurada. “O Dirk gostou, as primeiras opiniões também foram boas e eu gostei também. Se eu não gostar, simplesmente não faço”, comenta Marc, autor da receita que brinca com a rapidez na venda dos primeiros lotes: “não sei se foi o efeito Dirk mas a verdade é que rapidamente esgotou”. Vítor Bento pretende fugir do que por vezes acontece nas cervejas artesanais: a prova única. “Queríamos algo que fosse mais do que uma experiência. Isto é, que houvesse uma vontade genuína de beber esta cerveja e não apenas de a experimentar. Queremos criar o hábito de consumo da Birrenta”, afirma. Atualmente, a Birrenta tem duas referências: a Saison Lager e a Matunda, sendo que a primeira representa mais de 90% das vendas. 

Cervejas de inspiração africana


A Matunda é uma cerveja aromatizada, uma infusão de limão e de alcaçuz e enquadra-se num projeto futuro de Vítor e Marc. “Viajo profissionalmente para África com uma grande frequência e tenho uma paixão enorme por este continente. A forma genuína como fazem lá cerveja fascina-me. É no jardim de casa, feito por mulheres que colhem os cereais que têm à mão, fazem a maltagem e no final produzem cervejas muito interessantes”, descreve Marc Sachs, engenheiro mecânico de formação e profissão. Com Vítor, estão a pensar criar três cervejas étnicas, de três regiões distintas do continente africano. Do norte, uma referência com limão e alcaçuz; do centro, uma cerveja com hibisco; e do sul uma cerveja com rooibos e kombawa.

De um ponto de vista comercial, a Birrenta não tem uma rede estabelecida. Tem, isso sim, um grupo fiel de clientes, sobretudo de restaurantes – como o Oficina, o Euskalduna, etc. – que são compradores regulares. “Somos completamente autónomos, sem intermediários. Entregamos diretamente a cerveja no Porto e enviamos à cobrança para outras regiões. Os restaurantes da cidade são os grandes clientes e também os particulares que num passa-palavra muito estreito vão dando a conhecer a Birrenta”, explica Vítor Bento que tem visto em Lisboa um crescimento interessante do consumo da cerveja. De um ponto de vista de comunicação, a Birrenta vai agora ter um site mas tem já a funcionar desde há algum tempo uma página de Instagram (@cerveja_birrenta).

O projeto para o futuro passa, então, por “manter as coisas simples na medida da procura”, resume Vítor Bento, piloto de profissão na aviação comercial que “não sabe bem onde se enquadra” a Birrenta mas que vê como verdadeiramente importante o “prazer no momento do consumo. E isso, acredito que a Birrenta é capaz de dar”, assegura.