Cachaça

Fotografia: Fotos D.R.
Marc Barros

Marc Barros

Símbolo de resistência face à Coroa Portuguesa, a cachaça é, desde sempre, associada ao Brasil. Foi o primeiro destilado da América Latina e conhece expansão crescente no mundo.

 

“Inventada” no Brasil do século XVI, diz-se da cachaça que foi a primeira bebida destilada da América Latina, suplantando mesmo o rum em ancestralidade. Aliás, durante muitos anos verificou-se alguma confusão entre as duas categorias, já que a cachaça era importada pelos EUA como um tipo de rum. Era fácil o erro, até porque ambas provêm da destilação do melaço da cana-de-açúcar; este processo foi descoberta pelos escravos dos engenhos de açúcar brasileiros.
Ao longo dos séculos, aliás, a cachaça tornou-se um símbolo de resistência face à Coroa Portuguesa, uma vez que, face à sua crescente popularidade no Brasil, o consumo deste destilado substituía-se ao das aguardentes portuguesas, reduzindo assim o volume de rendimento fiscal da metrópole.


Sendo uma das bebidas mais populares do Brasil, a cachaça deve, por lei, ser elaborada naquele país e contar um volume de álcool em torno dos 38 a 54%. Segundo o Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Aguardente de Cana, Caninha ou Cachaça (PBDAC), a produção anual ascende a 1,3 mil milhões de litros por ano. Existem cerca de 30.000 produtores no Brasil, entre informais e as 4.000 marcas registadas. É a terceira bebida destilada mais consumida no mundo e a primeira no Brasil. Desse total, cerca de 75% é produzida de forma industrial e 25% segundo modelos artesanais.


O consumo é, quase integralmente, feito no Brasil. Em 2020, a exportação ascendeu, segundo números do Instituto Brasileiro da Cachaça, a 5,5 milhões de litros. Os principais países compradores são Paraguai, Alemanha, França, EUA e, claro, Portugal, onde é parte integrante da hiper badalada caipirinha.
De acordo com a Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a legislação brasileira não estabelece distinção entre os produtos finais das destilarias industriais e dos alambiques artesanais. Porém, “existem, na prática, muitas diferenças entre cachaça de alambique e cachaça industrial”.


No processo de produção industrial, são frequentemente utilizadas colunas de destilação e tonéis de aço inox, a fermentação processa-se com a adição de produtos químicos e não se separa a parte nobre do destilado. No processo artesanal, a fermentação ocorre de forma natural e a destilação é feita em alambiques de cobre.

O papel das madeiras no estágio

É esta segunda versão de cachaça a elaborada pela Aluarez, marca recentemente introduzida no nosso país por António Fatichi. “No Brasil, existe uma legislação que determina que a cachaça só pode ser produzida com cana de açúcar fresca”, refere. O processo de produção “começa com a colheita da cana, que precisa ser realizada no mesmo dia do início do processo, para que a frescura da cana permaneça na bebida depois de destilada”, explica.


A fermentação do sumo obtido da cana efetua-se “em ambiente estéril, para que não ocorra contaminação por bactérias, resultando num produto de alta qualidade”. Na destilação é utilizado um “alambique de cobre, eliminando-se a primeira e última parte, para extrair uma cachaça pura e cristalina”, conclui. Na destilação da cachaça Aluarez, a “cabeça” e a “cauda", ou seja, a primeira e última destilações, são sempre eliminadas, sendo aproveitado somente o “coração”. “Este cuidado sistemático reduz consideravelmente a quantidade obtida, contudo assegura a qualidade do produto”, considera.


Com a marca Aluarez, António cumpre o “sonho” de “produzir uma cachaça premium envelhecida em madeiras brasileiras”. Quando, em 2020, “decidi mudar-me para Portugal, fiz um estudo de mercado para perceber se o nosso ‘business plan’ era adequado ao mercado português. Esse estudo mostrou que existe uma oportunidade de oferta de cachaça premium para os portugueses e brasileiros que residem em Portugal”.
A marca, concebida para homenagear Pedro Álvares Cabral, elabora cachaça premium envelhecida com “perfil de destilado semelhante ao whisky, por trazer uma experiência sensorial oriunda de madeiras e da cana”. Segundo o mesmo responsável, “a cachaça brasileira tem uma grande versatilidade, pois pode ser envelhecida em diversas madeiras que existem no Brasil e podem ser criados lotes de misturas de madeiras, gerando uma variedade de cachaças”. Para já, a marca arranca com um blend de cachaças estagiadas em amburana (cerejeira) e bálsamo (também conhecida como cabreúva), “mas vamos evoluir para outros e criar também cachaça extra-premium, com envelhecimento mais prolongado”.
A produção inicial é de 10.000 garrafas por ano, mas António estima atingir as 50.000. “O mercado de abertura será Portugal, mas em breve iniciaremos a abertura para Espanha e depois para toda União Europeia”. O preço da cachaça Aluarez é de 79,95€ e pode ser adquirida online.


De acordo com o criador da marca, a cachaça tem diversos momentos de consumo: em momentos de descontração, com a refeição ou ainda após a refeição. E se, consumida pura, conseguiremos apreender todas as suas nuances, a cachaça presta-se sobremaneira à mixologia, pelo que deixamos algumas sugestões de cocktails. Saúde!

 

Cachaça Aluarez – D20 Comércio de Bebidas
Rua da Arrábida 14A
1250-033 Lisboa, Portugal
M.925 058 647
comunicacao@aluarez.pt