Casta: Alicante Bouschet

Fotografia: Arquivo
Marc Barros

Marc Barros

Cruzamento entre Grenache e Petit Bouschet (Aramon Noir x Teinturier du Cher), criada em França entre 1855 e 1865 por Henri Bouschet no Domaine de la Calmette, Languedoc-Roussillon, sul de França, a casta Alicante Bouschet foi trazida para Portugal pela família Reynolds, então proprietária, nos seus diferentes ramos, da Quinta do Carmo e da Herdade do Mouchão. Plantada em 1894 na vinha da Dourada, desde então a variedade ficará para sempre associada ao Alentejo, onde adquire fama e obtém patamares qualitativos bem superiores ao seu terroir original.

Casta tintureira, apresenta cor tinta na película e na polpa e é também conhecida como Alicante Henri Bouschet, ou Garnacha Tintorera. Para além da cor, apresenta acidez natural, estrutura firme e enorme capacidade de envelhecimento. O perfil aromático é marcado pela intensa frescura, com destaque para aromas mentolados, hortelã, eucalipto e azeitonas negras.

Mas nem só de Alentejo se escreve Alicante Bouschet entre nós: Tejo, Lisboa e, sobretudo, Douro, são regiões onde a variedade ganha protagonismo. No Douro é, aliás, casta com tradição, marcando presença nas (muitas) vinhas velhas locais. Tal como no Alentejo, apresenta-se como casta de futuro, pelo facto de apresentar forte capacidade de resistência às temperaturas elevadas, maturações temporãs (no Douro, mais tardias no Alentejo) e rendimento elevado.

 

 

DICAS:

 

1. Como referido, a introdução da Alicante Bouschet em Portugal terá ocorrido no Alentejo, no sec. XIX, pelas mãos da família Reynolds, coincidindo com a replantação das vinhas após a dizimação provocada pela filoxera. Para além das sinonímias já mencionadas, em Portugal é ainda conhecida como Sumo Tinto nas Beiras.

2. A variedade ocupa 4.888 hectares em Portugal, de acordo com o IVV. A OIV dá conta que a Alicante Bouschet está próxima do top20 das castas mais plantadas no mundo, ascendendo a quase 40.000 hectares, sendo que, no seu país de origem, a sua presença tem decaído, cifrando-se hoje me cerca de 4.000 hectares.

3. Entre as suas características óbvias, a capacidade cromática faz da Alicante Bouschet uma casta procurada para lotes, quer no Alentejo, quer no Douro, e cada vez mais, nos Vinhos do Porto. Oferece ainda volume, estrutura e concentração, bem como níveis de acidez assinaláveis, desde que a sua produtividade seja controlada na vinha.

4. Para além das escolhas mais óbvias do Mouchão, Quinta do Carmo e Reynolds (incluindo um belíssimo licoroso), existe uma larga oferta de monovarietais Alicante Bouschet do Alentejo disponíveis no mercado. De outras regiões: de Setúbal, Casa Ermelinda Freitas Alicante Bouschet; do Douro, o monocasta Palácio dos Távoras; do Tejo, Casal das Aires Vinhas Velhas, Bridão ou Fiuza Premium; de Lisboa, Casa Santos Lima ou DFJ Aluado Reserva; do Algarve, Dialog Alicante Bouschet. Procure alguns exemplares mais velhos, para atestar a capacidade de evolução da casta. Boas provas!