Compre a sua vinha, faça o seu vinho

Fotografia: Fotos D.R.
Marc Barros

Marc Barros

Cresce o número de projetos de enoturismo, por vezes com componente imobiliária associada, que permitem aos entusiastas deterem a sua própria vinha. Satisfazem anseios inatos – quem não gostaria de produzir o próprio vinho? – na escala do exequível, ultrapassando dificuldades impostas pela distância, logística ou apenas falta de tempo. Deixamos duas propostas, ambas a sul: Quinta dos Vales, no Algarve, e L’And Vineyards, no Alentejo.


QUINTA DOS VALES

A Quinta dos Vales, em Estombar, Lagoa, criou e desenvolveu o projeto The Winemaker Experience, com o objetivo de dar aos enófilos a possibilidade de comprar ou alugar uma vinha e fazer o seu próprio vinho, de forma prática. De momento existem 20 lotes de vinha, dos quais sete já foram vendidos para “wine lovers” belgas, suíços e americanos. Os participantes podem escolher um lote de vinhedo existente ou plantar novas vinhas em lotes virgens disponíveis (os preços variam entre 30.000€ e 60.000€, dependendo da casta e da localização do lote. 

Segundo Karl Heinz Stock, mentor do projeto, “a única coisa que estou a fazer é dar às pessoas a mesma experiência que tive. Em 2006, era um amante do vinho, especificamente um amante dos vinhos do Algarve, e decidi que queria tornar-me viticultor. Assim, comprei uma vinha, construí uma adega, montei uma equipa e criei um negócio em torno da minha paixão. Este é o sonho de muitos amantes apaixonados do vinho, mas é um sonho que é incrivelmente difícil de realizar. Desde 2006, este tem sido o foco da minha vida profissional, e tem-me custado milhões e milhões para pôr em prática. Assim, ao montar este projeto eu sabia exatamente quem era o cliente alvo, a versão de 2006 de mim próprio”. 

Em curso “desde a vindima de 2018”, está nos planos “a expansão considerável” que, no médio prazo, incluirá cerca de metade dos cerca de 25 ha. de vinhas para propriedade de terceiros. Isto significaria “aproximadamente 200 parcelas individuais de vinhas privadas, cada uma produzindo cerca de 300 garrafas de vinho por ano. Para a vindima de 2020 só tínhamos sete parcelas em propriedade de terceiros e, desde então, fechámos negócios para mais quatro parcelas”. 

A parte excitante deste projeto, assinala Karl-Heinz, é que, “não só cada participante tem um foco diferente, mas também que estes focos mudam ao longo do tempo. Cada um dos participantes é apoiado na conceção e finalização do seu rótulo, “mas encorajamo-los a torná-lo o mais pessoal possível para eles. O melhor exemplo disto é um senhor belga cuja principal paixão na vida é navegar, por isso, quando se tratou da sua etiqueta, não hesitou. Desenhou duas grandes velas azuis na parte de trás de um guardanapo e deu isto ao nosso desenhador gráfico. Até hoje, esta é a etiqueta que ele usa, e é um grande sucesso com os seus amigos e família”. 

“A crise forçou-nos a repensar o nosso modelo de negócio”, adianta. “Compreendemos que precisamos de nos afastar do modelo clássico de produzir vinho e depois vendê-lo, precisamos de nos concentrar em proporcionar aos nossos clientes experiências. No nosso caso, tivemos a sorte de já termos um projeto que foi nesta direção”. Este é, do seu ponto de vista, “o futuro do enoturismo, não apenas a combinação da agricultura e do turismo”, mas “a integração destes dois sectores. Com este projeto o que estamos criar não é só um cliente recorrente, mas um cliente para a vida”.

Este “pacote otimizado”, com “custos razoáveis”, inclui “mais do que apenas m2 de vinha”, sublinha. “O que estamos a oferecer é que eles podem comprar uma parte da sua própria adega”. O serviço chave-na-mão significa que as uvas da parcela “devem ser colhidas separadamente, armazenadas e selecionadas separadamente, prensadas numa micro-prensa (uma prensa normal não pode funcionar com quantidades tão pequenas), depois fermentadas num depósito de aço inoxidável construído à medida e envelhecidas em carvalho, se aplicável”. 

Quinta dos Vales 
Sítio dos Vales, Caixa Postal 112
8400-031 Estombar, Lagoa
T. 282 431 036
E. info@quintadosvales.eu


L’AND VINEYARDS

No coração do Alentejo, em Montemor-o-Novo, o L’And Vineyards é um projeto pioneiro entre nós, seja na oferta turística, na componente gastronómica, ou mesmo na oferta de um “wine club” de características originais. O empreendimento é mais conhecido pela oferta de um reduzido número de residências, projetadas por arquitetos de renome internacional, mas também pela expressão de uma cultura gastronómica ímpar, que cruza as referências da cozinha e dos produtos locais com uma visão integradora da alta gastronomia, num casamento bem conseguido pelas mãos do chefe Nuno Amaral e do sommelier Gonçalo Mendes. 

Na vertente imobiliária, o L’And reúne um conjunto de villas e townhouses, dispersas em vários núcleos, cuidadosamente integradas na paisagem, visando a reinterpretação contemporânea das casas mediterrâneas com pátios. Cada villa tem a sua própria vinha para que o proprietário possa produzir o seu próprio vinho, de forma personalizada, na adega do resort com o apoio da equipa de enologia, liderada por Paulo Laureano.  

A componente imobiliária assenta num modelo em que o proprietário cede à empresa gestora do empreendimento a exploração turística da mesma, em troca de uma rendibilidade anual, cuja taxa é fixada em cada ano. Veja-se, a título de exemplo, que uma townhouse T2 (90m2), cujo preço de venda é de 275.000€, oferecia em 2020 uma taxa de 3%, refletindo já o impacto da pandemia; um imóvel T3 (112m2), orçado em 350.000€, representava o ano passado um retorno de 2%.

Tendo o vinho como âncora do projeto, o L’And Vineyards oferece a possibilidade de adesão ao Wine Club, com um custo médio anual de 400€, tendo como vantagem a gestão da vinha (para os que tenham vinha), a possibilidade de elaborar o próprio blend (com as suas uvas ou as do L´And) e terem o próprio vinho com rótulo personalizado e descontos especiais na aquisição do vinho L´And e nos eventos associados à atividade realizados ao longo do ano. Caso não sejam membros do Wine Club, podem optar por contratar os serviços de gestão da vinha do L´And ou pagarem estes mesmos serviços, entregando a uva da sua vinha, que devolverá uma parte em vinho L´And.

Relativamente à exploração turística, existem duas possibilidades: num contrato de exploração turística em pool, o proprietário recebe 40% da receita e é responsável pelo pagamento do condomínio, quota do Wine Club (opcional), consumos referentes ao período da sua estadia (água e eletricidade) e pela manutenção da casa (tudo o que não decorra da exploração turística). Aqui, 5% do rendimento é retido para pequenas reparações (os valores de rendibilidade apresentados já são líquidos). O L´And recebe 60% da receita e é responsável pelos restantes custos (água, eletricidades, telecomunicações, amenities, têxteis, housekeeping…). Neste modelo, o período de ocupação dos proprietários pode variar entre 5 e 10 semanas. Num contrato de exploração turística em regime livre, o proprietário recebe 60% da receita e é responsável por todas as despesas. Há 5% do rendimento que fica retido para pequenas reparações. O L´AND recebe 40% da receita e é responsável pela gestão e promoção. Neste modelo, não existe limite ao período de ocupação dos proprietários.

L'and Vineyards
Herdade das Valadas
Estrada Nacional 4
Ap. 122, 7050-031 Montemor-o-Novo
T. 266 242 400
E. reservas@l-and.com