Fernão Pires: a casta branca mais plantada no país

Fotografia: Ricardo Garrido
Marc Barros

Marc Barros

Fernão Pires ou Maria Gomes, designação pela qual é conhecida na Bairrada, esta é a variedade branca mais plantada do país e a quarta em valores globais, dando origem a vinhos de forte intensidade aromática que, em função do nível médio de acidez (4,5 a 6,5 gr./lt.), poderão ser tanto de grande qualidade, como pesados, chatos e de perfil oxidativo.

 

Assim, desde logo, para o sucesso da casta, em muito contribui o trabalho na vinha. Variedade precoce, requer atenção especial para não sobrematurar. Dá-se bem em solos drenados, de aluvião e arenosos, como os do Tejo, e com humidade, como os da Bairrada. Pode cair em excessos de produção, sendo que o rendimento indicado ronda as 6.000 ton. /ha.

Por outro lado, é uma variedade de grande plasticidade na adega, podendo dar origem a vinhos tão díspares como espumantes (onde mostra todo o potencial nos solos calcários da Bairrada), como vinhos tranquilos, que podem ser mais ou menos estruturados e exuberantes, de perfil ‘laranja’ ou de lote, bem como colheitas tardias (com exemplares de grande qualidade na região do Tejo). E quem disse que não sabem envelhecer? Porém, a tendência para oxidar obriga a cuidados particulares.

Como referido, os vinhos da casta podem exibir um carácter aromático, por vezes, exuberante, destacando-se as notas de cítricos, como laranja, lima ou limão, bem como florais, desde logo tília, mimosa, tília, laranjeira ou manjerico.


Dicas:

1.Para além das mais vulgares designações Fernão Pires e Maria Gomes, a casta é também conhecida por Gaeiro, sobretudo na região de Lisboa (Oeste) e Molinho ( Península de Setúbal), conhecendo-se ainda o Fernão Pires de Beco e o Fernão Pires rosado, esta distinta.

2.Ocupa cerca de 13.700 ha. (dados de 2018), ou seja, 7% da área total de vinha, com tendência a aumentar e, no Tejo, representa 30% do encepamento total e 80% das castas brancas, o que corresponde a 3.750 ha.

3.No séc. XVIII há registos da casta no Douro, Beiras e Estremadura, mas terá sido a partir da Bairrada que a variedade disseminou, sendo aí que regista maior diversidade morfológica.

4.No Tejo, é nos solos mais próximos do rio – mais férteis e produtivos - que se encontram as maiores manchas de Fernão Pires, onde os vinhos resultam citrinos e até vegetais, mas com menos estrutura e persistência. Por sua vez, na Charneca, na margem esquerda do Tejo, onde o stress hídrico da planta é maior, a casta obtém carácter exuberante, marcado pelos aromas tropicais.

5.Para provar, ficam algumas sugestões: nos espumantes, Luís Pato Maria Gomes é um valor seguro; nos tranquilos, Monte Cascas Single Vineyard Fernão Pires ou, das vinhas velhas da região, o Casal das Aires Vinhas Velhas Fernão Pires 2019. De Trás-os-Montes, Valle Madruga Fernão Pires e um congénere de Lisboa, a cargo de Hugo Mendes. E, para comprovar a versatilidade da casta, um abafado da Casa Paciência Reserva 2019 e o CTX Licoroso Superior 2014. Para finalizar, um Colheita Tardia, por exemplo Falcoaria ou Quinta da Alorna. Não falta por onde escolher!