Luís Pato

Wine Legends Portugal

Fotografia: Fabrice Demoulin
Nuno Guedes Vaz Pires

Nuno Guedes Vaz Pires

“Senhor Baga” ou “senhor Bairrada” são alguns dos epítetos justamente atribuídos a Luís Pato. Nome maior do vinho português e um verdadeiro embaixador de Portugal, o seu reconhecimento internacional deve muito à iconoclastia, inconformismo e, até, rebeldia, que se sempre manifestou, inclusive até no interior da sua própria região. Basta recordar a decisão tomada em 1999 de abandonar a Denominação de Origem Controlada, decisão essa que reverteria alguns anos mais tarde.


A celebrar 40 anos de carreira em 2020, Luís Pato é o legítimo herdeiro de uma longa linhagem de produtores bairradinos, sendo que a sua família produz vinho na Quinta do Ribeirinho, Anadia, desde pelo menos o século XVIII. O seu pai, João Pato, foi um verdadeiro precursor da região e afirmou-se como o primeiro produtor/engarrafador na região da Bairrada depois da demarcação.

Engenheiro químico de formação, lança o primeiro vinho, um monovarietal da casta Baga, em 1980. A sua vocação experimentalista, feita de aprendizagens, erro e sucesso, tomou caminhos pioneiros na região, ao vinificar uvas sem engaço, a estagiar em barricas novas de carvalho francês e a lançar os primeiros “pé-franco”, verdadeiros tratados do vinho pré-filoxérico, bem como os ‘single vineyard’, como Vinha Barrosa, Vinha Barrio, Vinha Pan, Vinha das Valadas, Quinta do Ribeirinho Pé Franco e Vinha Formal.

O seu dedo não fica apenas nos vinhos que produz: Luís Pato criou uma marca em torno do seu nome, uma imagem reconhecida mundialmente e um estilo de comunicação que deixou frutos, replicado por agrupamentos como os Douro Boys e a Independent Winegrowers Association, que o próprio fundou e integra.

Esta marca está presente também na sucessão, seja através da filha Filipa Pato, que criou o seu próprio percurso mas conta com colaborações com o pai, seja no projeto Duckman, de vinhos artesanais criados por Luís e a filha Maria João Pato.

Destacamos 10 coisas que deve saber sobre ele e quatro dos vinhos que mais nos impressionaram.

1. Engenheiro químico de formação, lançou o primeiro vinho em 1980. Completa 40 anos de carreira em 2020.
2. Este primeiro Baga, feito na adega da sogra, estagiou cinco anos em cubas de cimento. Levou-o, em setembro de 1984, a Londres, onde os críticos ingleses o considerariam de qualidade excecional. Tudo mudaria a partir de então.
3. Em 1999, toma a decisão de abandonar a Denominação de Origem Controlada, o que abalou a região bairradina e, em grande parte, moldou o futuro da região.
4. Experimentalista, inovou com a vindima de precisão que, na prática, corresponde a duas vindimas na mesma vinha em períodos diferentes, para produção de espumante e vinhos tranquilos. Decisão que viria a revelar, ainda, enorme racionalidade económica. 
5. Em 2005, faz o primeiro vinho com a filha Filipa, o FLP, usando o método da crio-extração.
5. Acrescenta o designativo Monopólio em 2008, após adquirir a última parcela da Vinha Barrosa e tornar-se o único proprietário de vinhas naquele local.
6. No mesmo ano, apresenta o seu primeiro espumante de vinha única - Vinha Formal – com base nas castas Bical e Touriga Nacional.
7. Em 2009 faz os seus primeiros vinhos naturais doces (branco, rosado e tinto), que designa de Abafado Molecular.
8. Luís Pato foi inovador na necessidade de comunicar e promover os seus vinhos através de uma imagem de marca: queria chamar Óis do Paço ao seu primeiro vinho, que foi recusado pela Junta Nacional do Vinho. Nasceria assim a marca Luís Pato.
9. A partir de então, trajaria sempre qualquer peça de roupa alusiva ao tema “pato”: uma gravata, um laço, uma t-shirt. Foi o primeiro a levar os vinhos às grandes competições internacionais, fomentando o contato direto com os principais jornalistas e críticos estrangeiros: Jancis Robinson foi uma das primeiras a deixar-se seduzir.
10. Na origem de tudo, estão os mais de 60 hectares de vinha, instalada em solos arenosos e argilo-calcários, e as castas autóctones da Bairrada. Há um estilo Luís Pato? Há, sobretudo, muitos mundos dentro de Luís Pato!

18,5                
Quinta do Ribeirinho Baga Pé Franco 2010    
Bairrada / Tinto
Um portento, complexo, bem esculpido, com fruta de qualidade, floral, alcaçuz e um mineral tremendo. Brilhante estrutura, esquadria perfeita, taninos suntuosos, vibrante de sabor, seguro, controlado e altivo. Longuíssimo, fresco, mineral.

18
Cercial Parcela Cândido    2015    
Bairrada / Branco            
Limão intenso e luminoso. Intrigante no nariz, com notas de resina, citrinos confitados, castanhas tostadas e muita mineralidade. Conserva uma austeridade incrível na boca, marcada pela sua belíssima acidez, que contrapõe com grande êxito à untuosidade da fruta concentrada e fria. Longo final perfumado a frutos secos, ervas e resinas.

17,5
Luís Pato Vinhas Velhas Bical/ Cercial e Sercialinho 2019
Bairrada / Branco 
Cor palha, reflexos esverdeados. Notas de flor delicada, lima, toranja, especiaria fina de barrica. Trabalho de borras cuidado, boa untuosidade, volume preciso, final profundo e persistente, a combinar salinidade e nuance de maçã. Um grande branco, para perdurar em garrafa. 

17
Baga Duck    
IVV / Tinto    
Rubi brilhante. Muito fruto vermelho, cereja, amora, fundo especiado, nota cítrica de grande frescura. Seco, ligeiro amargor, acidez alta, tenso e vibrante, toque mineral, tanino ainda vincado, muito gastronómico.