Luzia: o bom improviso

Fotografia: Ricardo Garrido
Luís Alves

Luís Alves

A pequena aldeia de Antes, na Mealhada, presta-se a este trocadilho fácil que ajuda qualquer jornalista e que neste caso serve para começar a contar a história da Cerveja Luzia. Porque há, de facto, um momento que marca o Antes e o depois. Quando Rúben Gomes e Patrícia Fernandes decidiram fazer Erasmus, em Itália, não imaginavam que uma cadeira totalmente dedicada às cervejas pudesse lançá-los numa aventura que hoje se chama Luzia e que se tornou vida profissional para ambos.

 

Estávamos em 2013 e no regresso de Itália veio a vontade de fazer cerveja artesanal e colocar os conhecimentos em prática. O início não foi especialmente fácil. “Tínhamos alguns conhecimentos de fermentações, do curso de enologia, e uma visão sobre as cervejas em particular. Fizemos alguns ensaios. Nem todos correram bem mas começamos a fazer cervejas bebíveis”, recorda Rúben.

Cerveja na mercearia da avó

Aquilo que tinha começado quase como brincadeira, para consumo próprio, foi ganhando escala e em 2014, na já encerrada mercearia da avó de Rúben, instalou-se a pequena fábrica da Cerveja Luzia – que deve o nome, explica Patrícia, “à rua de Santa Luzia, onde foram feitas as primeiras cervejas, depois de uma votação familiar onde constavam várias hipóteses”. O caminho estava traçado: apostar numa trajetória muito própria, de cervejas de perfis distintos, até porque para estilos conhecidos o mercado tem outras exigências. “Nós não temos capacidade para produzir Pilseners, Stouts ou IPA em quantidade”, explica Rúben. A Luzia chegou ao mercado com três cervejas diferentes: uma Trigo, já descontinuada, uma Gose e uma Belgian Dark Strong Ale. A partir daí, a definição das cervejas mais procuradas, um estudo contínuo de referências menos prováveis, e a Italian Grape Ale. “Achámos que seria a nossa cara quando a descobrimos em 2015. Fizemos 300 litros e correu bem”, explica Patrícia.

A Luzia corre os balcões e as mesas deste país, sobretudo nas duas maiores cidades. “Porto e Lisboa são os nossos grandes mercados. Sobretudo Lisboa, para onde vendemos mais de 50% da nossa produção”, refere Patrícia, recém regressada de um festival na Alemanha. “Este ano já fizemos dois festivais de cervejas no estrangeiro, um em Berlim e outro em Bruxelas. É uma forma muito interessante e quase única de conhecer a opinião dos nossos consumidores. Isto porque nós trabalhamos diretamente, no nosso dia a dia, com bares e restaurantes. Por vezes é difícil saber a opinião de quem são de facto as pessoas que bebem Luzia”, explica Patrícia.

Uma das referências mais conhecidas da Luzia é uma Brett Aged. Com 9% de álcool, esta cerveja tem a adição da brettanomyces, uma levedura pouco desejada no mundo do vinho mas que na cerveja, sobretudo nas cervejas ácidas, tem um público fiel. E serve como uma luva na definição que Rúben e Patrícia quiseram dar à Luzia.