Ninho da Pita: Alfândega da Fé no mapa

Fotografia: Jorge Matos
Guilherme Corrêa

Guilherme Corrêa

A simpática e antiga vila de Alfândega da Fé, no distrito de Bragança, para além dos olivais, cerejeiras e amendoeiras espalhados por seus espectaculares vales e montes, quer voltar a ser terra de vinhos. Terroir e paixão não faltam. Vítor e Olívia Bebiano são alfandeguenses apaixonados pela sua origem, terra e nos últimos anos, pelo seu terroir. Não é para menos. Vítor cresceu nas vinhas do pai e, quando teve a oportunidade de, ao lado de Olívia, advogada conhecida por todos na vila, voltar à agricultura nas parcelas herdadas e outras paulatinamente compradas com dedicação, não hesitou em fazer vinho novamente. 


Nascia, em 2016, a Olivia’s Winery, ano em que lançaram o seu primeiro vinho regional transmontano, da vindima de 2014, e tornaram-se os primeiros produtores engarrafadores do concelho de sempre. Segundo relata Vítor, “sempre foi prática corrente de cada agricultor produzir um pouco de vinho para consumo próprio e dos seus funcionários, e o excedente ser vendido em garrafões de 5 litros a amigos e conhecidos saindo diretamente da pipa. Essa tradição, embora residual, ainda hoje se mantém em dois ou três agricultores do concelho”.
Hoje já há outro pequeno produtor engarrafador em Alfândega da Fé e a ideia de Vítor e Olívia “é servirmos de motivação para que outros vitivinicultores possam aparecer e que esta atividade surja como uma alavanca de fixação de população e criação de riqueza para o nosso concelho, cada vez mais envelhecido e com menos habitantes”.

Hoje, a propriedade dos Bebiano abrange aproximadamente 65 hectares, dos quais 8 hectares de vinhas, 9 hectares de olival, 5 hectares de amendoal e os restantes de floresta e pastagens naturais, tudo em modo de produção biológico. Com os mesmos cuidados tratam também de três vinhas velhas, com cerca de 2,5 hectares totais. 

Há sítios em que se sente a força do terroir, antes de provar os vinhos. Ao caminhar naquele ambiente incontaminado e selvagem, entre as vinhas em patamares numa colina, dos 500 aos 550 metros de altitude, vislumbramos um mar de montes em todas as direções e, quando olhamos para baixo, vemos o chão de pura pedra, micaxisto a brilhar ao sol. Aí, temos a clara perceção que estamos num sítio muito particular, de imenso potencial. 

Alfândega da Fé está na sub-região do Planalto Mirandês, a leste nos Trás-os-Montes, marcada por grandes amplitudes térmicas, clima menos húmido, bastante ventilado, mais propício à cultura orgânica. As terras do Ninho da Pita localizam-se no coração de Alfândega, entre a Serra de Bornes e o Vale da Vilariça. As paisagens onduladas e selvagens da propriedade dos Bebiano são também ricas em espécies cinegéticas e Vítor, grande entusiasta da caça, quer aproveitar esse potencial turístico no futuro. Por agora está a plantar mais vinhas nas melhores porções e a trabalhar na certificação orgânica para 2021, a qual já possui no olival e no amendoal.

Abençoado com uvas brancas e tintas carregadas de cor e aromas, acidez pulsante, mineralidade contundente, a abordagem na adega deverá ser minimalista. A enologia da casa está nas mãos de Vítor Rabaçal, enólogo também da Quinta do Couquinho no Douro Superior, no Vale da Vilariça. Sente-se que os ‘Vítores’ estão em processo de descobrir o melhor caminho para que isso aconteça: uma pura expressão da velha, agrícola e ainda selvagem paisagem da região. Terroir, paixão, trabalho e fé na Alfândega não faltam.