O mundo inventivo dos cervejeiros artesanais

Fotografia: Arquivo
Luís Alves

Luís Alves

Sabemos que o mundo das cervejas artesanais é, por definição, inventivo. Apesar de pequeno, ou talvez por ser pequeno, tem imaginação e criatividade férteis. E isso nota-se em muitos aspetos. Desde logo, no próprio nome das cervejeiras.


A Revista de Vinhos escolheu três exemplos que são paradigmáticos disso mesmo. Vamos descobrir as histórias por trás de nomes que reúnem estas características.

1. Lindinha Lucas
É uma muito conhecida cerveja no norte do país e conta já com anos significativos de trabalho – tendo em conta que todo este mercado das artesanais em Portugal é ainda novo, para todos os efeitos. A Lindinha Lucas, ou apenas Lindinha, tem até uma Ode que lhe explica a origem do nome e que aqui transcrevemos:

Nascida e criada em terras de Alfarelos, 
cresceu muito junto a vacas e vitelos. 
Corria ligeira por veredas e castelos,
mas sempre sozinha, amigos nem vê-los. 
 
Foi crescendo gaiata, e bem torneada, 
cabelos ao vento, e sempre desgrenhada. 
De corpo roliço, e cara pintalgada, 
a mente aberta, e a pele bronzeada. 
 
Veio para o Porto, deixou a aldeia, 
viu coisas novas, e de tudo ficou cheia 
Fez amigos e amigas, isto antes da ceia, 
e do que ia fazer já tinha uma ideia. 
 
Ia ser stripteaser, ia só dançar nuínha. 
Andar como na aldeia, sempre bem torneadinha. 
Aprendeu o burlesco, o varão e a tanguinha, 
conheceu os prazeres, e a cerveja fresquinha. 
 
De Olinda Maria, passou a Lindinha, 
mas algo ainda faltava a esta mocinha. 
Queria uma mota (e uma tatuagenzinha), 
e p'ra isso não dava essa alcunha fraquinha. 
 
Pensou e pensou, mas só em coisas malucas, 
porque só era miúda de trucas e trucas. 
Mas forçou, forçou, e depois de umas cucas, 
optou pelo nome do cão, seria LINDINHA LUCAS.

Nomes e poesia à parte, a Lindinha Lucas é uma cervejeira que nasceu pela mão de três amigos que tiveram um objetivo inicial que hoje ainda se mantém: produzir cervejas fáceis de beber mas que sejam distinguíveis das industriais. Daí a aposta em estilos como Pilsener ou Dark Lager, com a presença clara de todos os sabores de uma cerveja artesanal típica mas sem que sejam demasiado difíceis para um público menos habituado a estas cervejas.
A par da atividade como cervejeiros, a Lindinha Lucas, atualmente liderada por Pedro Crispim, Diogo Trindade e Sofia Oliveira trabalha também a componente de materiais e acessórios para os cervejeiros, tendo a representação da Petainer, marca internacional de barris. Atualmente está em processo de internacionalização, com um rebranding em marcha.

Lindinha Lucas, Porto
www.facebook.com/lindinhalucascervejaartesanal 
lindinha@lindinhalucas.pt 

2. Cerveja Maldita
A cerveja Maldita é a história de uma queixa. Gonçalo Faustino é o fundador da Maldita e nos primeiros tempos, ainda com a cerveja no papel, o projeto ocupava-lhe muito do tempo livre, facto que a namorada não via com os melhores olhos. As queixas avolumaram-se dia após dia, sempre que Gonçalo saía de sua casa para se deslocar para a casa dos pais, onde tinha instalado os testes de produção. Num desses dias, quando Gonçalo se preparava para sair de casa, o desabafo da namorada batizou a cerveja: “Lá vais tu para a maldita da cerveja!”. E bingo! Aí estava encontrado o nome. A relação de Gonçalo e da namorada mantém-se até hoje, já depois de terem casado, e a história correu o país. A Maldita, essa, mantém o nome e o projeto que une pai e filho, Artur e Gonçalo, ambos engenheiros de formação que juntaram vontades e motivações.

Maldita, Aveiro
www.maldita.pt 
marketing@maldita.pt 
www.facebook.com/CervejaMaldita 

3. Cerveja Velhaca
Depois de Porto e Aveiro, seguimos para sul até à Velhaca. Esta cerveja de Portalegre, a única no concelho, foi recuperar uma expressão muito usada no Alentejo mais profundo. “Velhaca” não tem nada de malicioso, antes pelo contrário. Normalmente é dito entre pessoas próximas e utilizado com carinho. E aqui foi batizada pela primeira pessoa que provou a dita cerveja: “Está mesmo velhaca!”. E assim ficou até hoje.
O projeto ainda é embrionário e não tem para já a ambição de chegar a uma distribuição muito alargada. Ainda assim, pode facilmente ser encontrado na região. No portefólio têm uma Imperial Stout, uma American Pale Ale, uma Weiss e uma American Wheat Beer.
Na primeira vez que a cerveja foi a concurso, arrebatou galardões. Em 2018, num festival internacional realizado em Aveiro, a Velhaca conseguiu entre 300 marcas de 10 países diferentes uma medalha de ouro e duas de bronze.

Velhaca, Portalegre
https://www.facebook.com/Velhaca1/