Porto Réccua

Fotografia: Ricardo Garrido
Marc Barros

Marc Barros

Uma família de famílias. Este é o espírito que norteia a ação da Porto Réccua Vinhos, empresa nascida da reconversão das Caves Vale do Rodo, na Régua. Com uma clara aposta na inovação no Vinho do Porto e, sobretudo, no rejuvenescimento do consumo e captação de novos públicos.

 

Um dos grandes desafios que o setor dos vinhos enfrenta, desde há uns anos a esta parte, reside na revitalização e rejuvenescimento das suas cooperativas. Fundadas numa época em que a necessidade de escoamento de grandes produções implicava a dinamização de esforços conjuntos nas vendas, a abertura dos mercados nos anos 90 representou o declínio e mesmo o encerramento de boa parte destas. As que resistiram, porém, lograram restruturar o negócio, criar marcas fortes e entrar com sucesso nos mercados externos, melhorando por outro lado a componente vitícola, com produção de uvas e, bem assim, de vinhos, de qualidade. 
É nesta dinâmica que se insere a Porto Réccua Vinhos. Criada em 2013 por iniciativa das Caves Vale do Rodo, que reúne as Adegas Cooperativas da Régua, Tabuaço e Armamar, esta empresa autónoma foi constituída para gerir a vertente comercial dos vinhos engarrafados produzidos por aquelas. A lógica societária aplicada ditou a partilha do capital em 51% pelas Caves e o restante por “um grupo de sócios e trabalhadores que queriam investir numa dinâmica mais comercial, não por razões de ideologia, mas por eficácia de gestão”. Mas sempre “tendo em vista que o modelo cooperativo é o mais ajustado para assuntos comuns a associados, como a viticultura e o apoio à vinificação”. Segundo o administrador Paulo Osório, “já não se verifica o mesmo com a comercialização dos vinhos engarrafados, pois a perceção da gestão do risco não é semelhante para um associado que tenha meio hectare ou outro com 20 hectares de vinha”. Assim, a direção atual das Caves “entendeu, com o apoio dos sócios, criar um modelo para gerir as marcas mais adaptado aos dias de hoje e às necessidades do mercado”, resumiu.
Trata-se, na prática, de um modelo dual: a cooperativa, que conta cerca de 800 associados/viticultores, produz uvas para as marcas da Porto Réccua; a empresa adquire lotes de vinhos a granel - até 80% da produção da cooperativa, podendo comprar a outras empresas, “tendo preferência por cooperativas” -, vinhos esses que engarrafa com as suas marcas, “sejam as que criou e desenvolveu, sejam as marcas cedidas pela cooperativa”, resumiu Paulo Osório. Estas marcas são Porto Réccua, Réccua Douro, Cabeça de Burro e Encostas do Peso. O objetivo é, desta forma, “ter uma empresa especializada na composição e engarrafamento de lotes de vinhos DOC Douro e Porto e no desenvolvimento de marcas e criação de valor”, concluiu. A montante, pretende-se “remunerar a produção e o investimento realizado, o que permite que a cooperativa tenha um negócio mais sustentável e possa pagar a tempo e horas as uvas dos seus associados e, eventualmente, recuperar alguns dos associados que foi perdendo ao longo dos anos”.
Desafio de monta, portanto. Paulo Osório recorda que este é o culminar do processo de restruturação, após um cenário “comum a muitas adegas cooperativas no Douro, face à evolução do negócio dos vinhos, ditado quer pelo aparecimento dos produtores engarrafadores, quer das empresas comerciais de maior dimensão, que foram criando acordos com os produtores”. As adegas cooperativas, “que eram um modelo interessante quando foram criadas, não souberam adaptar-se a esta evolução, sobretudo no final dos anos 90”, estima. A prazo, as Caves Vale do Rodo deixarão de deter 51% do capital da Porto Réccua Vinhos, devendo em breve passar a ter 30%, “suficiente para garantir a qualidade dos vinhos a granel mas permitir a entrada de novos investidores”, com vista a criar uma dinâmica ainda maior de mercado”.

O mapa da região

As Caves Vale do Rodo reúnem um largo conjunto de produtores com grande diversidade, quer de área de vinha, quer de métodos de trabalho. “A cooperativa tem feito um bom trabalho ao nível da viticultura desde que se libertou do negócio de venda do vinho engarrafado”, sublinha Paulo Osório. Este passa por “conhecer bem o histórico dos produtores”, podendo dessa forma ser mais criteriosa “na seleção das vinhas, das uvas, das castas e vinhos que serão encaminhados para as diferentes marcas”. Está ainda em vigor um programa de pagamento diferenciado em função da qualidade das uvas entregues, quer por castas, quer pelas vinhas de onde saem.
Por outro lado, o facto de a Porto Réccua poder comprar vinhos no exterior “cria uma pressão positiva na cooperativa para especializar-se na produção de vinhos para vender a granel”. Como recorda o administrador da empresa, “isso era muito comum na produção para Vinhos do Porto, que eram vendidos para as casas de Gaia”, o que resultava numa “aproximação dos pontos de vista da produção e comercialização, criando uma parceria saudável”. E se, cinco anos volvidos sobre a criação da empresa, o rejuvenescimento da produção “ainda não é muito visível”, Paulo Osório salienta que “o mapa socioeconómico dos associados da cooperativa é muito semelhante ao mapa dos 200 acionistas da Porto Réccua Vinhos”. Ou seja, “existem produtores com menos de um hectare ou mais de 20 hectares, o que me leva a pensar que este movimento de alteração da estrutura social e económica do Douro é algo que demorará algumas gerações a acontecer, até por razões de enraizamento à terra e ligação à vinha, não do ponto de vista racional, mas emocional e familiar”. O que, conclui, “também é positivo, porque permite, por exemplo, preservar a enorme variedade de castas e vinhas que o Douro tem”.
Entre as marcas icónicas sob gestão da Porto Réccua está o vinho Cabeça de Burro. Este goza de uma história de 40 anos “com peso no vinho em Portugal e ainda mais no Douro”, mas “é constantemente confrontado com marcas novas de novos produtores, projetos interessantíssimos que aparecem no Douro e criam um desafio de mercado muito relevante”, estima Paulo Osório. É, por outro lado, “uma marca que tem sucesso nos mercados internacionais, tanto na América como na Ásia, ao contrário do que seria de esperar dada a sua imagem tão clássica que ostenta”. Por vezes “conflitua até com o Réccua Douro Reserva, que se insere numa gama semelhante, mas com uma imagem mais contemporânea e apelativa. A história e tradição contam para esses mercados”, revela o administrador. O Cabeça de Burro alberga a produção de vinhos brancos, tintos e um espumante elaborado a partir da casta Tinta Roriz, um ‘blanc de noirs’, portanto.

Mixologia e bares

A marca Porto Réccua oferece um ‘umbrella’ para Vinho do Porto e DOC Douro. A produção total das Caves ronda os quatro milhões de litros, dos quais 60% são vinhos DOC Douro e 40% Vinho do Porto. Nos DOC, a marca reúne um branco e um tinto de entrada, bem como Reserva branco e tinto, a que se junta a gama completa de Porto. 
Porém, a empresa decidiu inovar e arriscar no lançamento de um conjunto de Vinhos do Porto orientados para o segmento de mixologia, bares e cocktails. “Esta é, talvez, a nossa maior identidade no Vinho do Porto”. Paulo Osório salienta que o faz “por opção: queremos ser a empresa nº1 de Vinho do Porto para cocktails. Não queremos ser apenas mais um ‘player’ neste setor, até porque, apesar de possuirmos um portefólio alargado de Vinho do Porto de belíssima qualidade em todas as categorias, não temos o peso e a tradição das marcas mais fortes”. Nesse sentido, procurou encontrar algo diferenciador. 
Assim, “apostamos no segmento dos cocktails, quer a nível de consumidores, mas também de ‘experts’, como mixologistas e bartenders”. Esta linha é composta por Vinho do Porto Branco, Moscatel, Rosé, Ruby Reserva e Tawny 10 anos, com estes dois últimos a demonstrarem, segundo Paulo Osório, “uma abordagem séria, com vinhos de qualidade, tal como o fazem as maiores empresas de bebidas espirituosas à escala mundial”. Este posicionamento, que inclui o desenvolvimento de receitas especiais para cocktails, tem no ‘online’ um canal privilegiado para chegar ao público-alvo. A palavra-chave é, portanto, modernidade. Nada mais fácil para uma família de famílias duriense.

Porto Réccua Vinhos
Rua da Lousada – Godim
5050-262 Peso da Régua, Portugal 
T. 254 320 360 
Email. geral@portoreccuavinhos.com