Quinta da Várzea da Pedra

Por terras do Bombarral

Fotografia: Fabrice Demoulin
Célia Lourenço

Célia Lourenço

A Quinta da Várzea da Pedra fica no Bombarral, na região dos Vinhos de Lisboa. Trata-se de uma empresa familiar dirigida pelos irmãos Alberto e Tomás Emídio. A quinta foi iniciada pelo trisavô de ambos, tendo a casa sido construída nos anos 1920, já na geração do avô. As vinhas, essas, têm sido um dos sustentos da casa, a par de grandes pomares de pêra rocha.

 

A quinta saltou uma geração e passou diretamente dos avós para os netos. Para os dois irmãos, a Várzea da Pedra significa infância. Tempo passado com os mais velhos, em brincadeiras que se confundiam com ajuda nas atividades rurais. Quando em 2014, já nesta geração mais recente, a produção de pêra foi particularmente má e mesmo com o vinho, as coisas não estavam a correr bem, Alberto percebe que tem que tomar uma decisão. A gestão desse património, para ser efetiva, não podia ser feita à distância, nem como segunda atividade. Diz-nos que dessa reflexão resulta uma vitória que lhe é muito querida - conseguiu fixar o seu irmão na quinta.


Tomás Emídio era designer gráfico e confirma-nos que o irmão mais velho é o verdadeiro responsável pela mudança que aconteceu na sua vida. 2015 é a primeira vindima a pensar numa marca, abrindo-se assim o caminho para a mudança radical que acontece no ano seguinte. Largou definitivamente a atividade anterior e passou a dedicar-se ao vinho. Revela que há algo parecido nas duas atividades. Se em termos criativos, ao fazer vinho, está a dar forma a algo que fica e enquanto designer a ideia de criar é mais rápida, ainda assim a parte emocional é idêntica. Até porque esta criação vai estimular o designer gráfico. Todos os rótulos são feitos por Tomás, inspirados em azulejos da casa do avô. E se até aqui, criava uma marca e uma imagem para produtos de terceiros, agora, o produto é dele, facto que nos diz provocar um carinho imenso por todo o processo.

Vinhas e Vinhos DOC Óbidos

Já percebemos que Alberto Emídio está nos bastidores da Quinta da Várzea da Pedra, enquanto Tomás toma verdadeiramente as rédeas da produção, com a ajuda do enólogo Rodrigo Martins e da cunhada Sónia Emídio, mulher de Alberto, que se dedica inteiramente à logística e burocracia do negócio. As últimas reconversões das vinhas aconteceram em 2008 e em 2015. Em 2008, ainda com o avô, as vinhas estavam focadas no objetivo de grande produção e volume, para vinho a granel, enquanto que em 2015, a intervenção foi já no sentido do novo caminho que os dois irmãos começaram a trilhar. Por exemplo, na Vinha da Gafa que visitámos, a produção de Arinto passou de 20 para 3 toneladas por hectare.
A filosofia da Quinta da Várzea da Pedra passa por uma viticultura sustentável, aliada a um minimalismo enológico. Também pela escolha de castas portuguesas e, mesmo, autóctones.


Touriga Nacional, Arinto e Fernão Pires, por exemplo. Tomás explica-nos que apenas têm duas castas internacionais. Syrah, porque está há muito tempo na região, e Sauvignon Blanc, escolha do seu irmão. Mas sempre que pensam em plantações e renovações, pensam em variedades portuguesas porque, segundo Tomás, “quanto mais identitário for o património vegetal, melhor”.


Todas estas vinhas são DOC Óbidos e quando tentamos perceber a diferença desta Denominação de Origem dentro dos Vinhos de Lisboa, há um elemento que se destaca. A Lagoa de Óbidos. A influência marítima que se verifica em toda a região é aqui reforçada pela lagoa, memória viva da presença do oceano que, em tempos, entrava pelo território e se estendia até ao Bombarral. Toda a diferença desta frescura, aliada à geografia das abas da Serra de Montejunto com a sua humidade noturna e aos solos argilo-calcários, fez história de vinhos de guarda, que a Quinta da Várzea da Pedra quer trazer para os nossos dias, com sangue renovado.


Dos 14,5 ha. de vinhas da família, a produção anual situa-se, neste momento, entre 25 e 30.000 garrafas. Deste total, 1.000 litros são originários de uma pequena vinha velha junto à adega. Com o início da pandemia e a natural desaceleração, Tomás ficou mais disponível para observar, conseguindo um acompanhamento muito atento desta vinha, que lhe permitiu atingir um estado fitossanitário único. Quinta da Várzea Vinhas Velhas 2020, é assim o resultado da primeira vindima deste pedaço de história. Esta vinha foi iniciada pelo bisavô de Tomás e Alberto, com o primeiro registo em 1948. Foi sempre retranchada com restos de outras plantações, pelo que existe uma enorme diversidade de idades das cepas e de variedades de uva. Fernão Pires, Arinto, Vital, Malvasia Rei, Alicante Branco, Moscatel e mesmo algumas uvas de mesa (uma que se acredita ser a mãe da D. Maria). Atualmente, este património é acompanhado com atenção redobrada, mantendo a genética da vinha, por exemplo, através de mergulhias.


Quanto ao vinho, este conjunto de castas origina um lote menos ácido que os restantes vinhos brancos da casa e, na vinha, as maturações são também mais difíceis de controlar, tendo-se optado por uma vindima mais precoce. Este é um vinho feito em lagar, com curtimenta que lhe dá mais complexidade e, também, mais autenticidade. É um verdadeiro “vinho à antiga”, desde a matéria-prima à vinificação. Tem taninos, textura, densidade. Tomás está orgulhoso com o resultado, tendo também vinificado em 2021. 
A 7km da Lagoa de Óbidos e a cerca de 15 do Atlântico, a Quinta da Várzea da Pedra escreve uma nova página nos vinhos com Denominação de Origem Óbidos. Tomás chama-lhe “tradições do amanhã”.


Quinta da Várzea da Pedra 
2540-217 Bombarral 
T. 262 605 158
E. info@quintavarzeadapedra.com