Quinta do Côtto

Fotografia: Ricardo Garrido
Alexandre Lalas

Alexandre Lalas

Clássicos nunca morrem. E a prova vertical dos Quinta do Côtto Grande Escolha produzidos até hoje é apenas mais uma evidência desta frase tão celebrada. 

 

Texto e notas de prova Alexandre Lalas e Nuno Guedes Vaz Pires

 

Quando o Douro era praticamente apenas Vinho do Porto, o génio visionário de Miguel Champalimaud decidiu produzir um vinho excecional, feito com as melhores uvas da quinta, e lançá-lo apenas em anos especiais. O ano era 1980. E o nome escolhido foi Quinta do Côtto Grande Escolha. Foi um sucesso. E com os lançamentos seguintes, a marca consolidou-se como referência de qualidade num Douro que recém-descobria o enorme potencial para a produção de vinhos tranquilos. O vinho trouxe inspiração à região e indicou o caminho a produtores durienses: havia algo mais que Porto no ar.


Os oitentas e noventas pavimentaram o caminho de glória, com clássicos incontestados, vinhos soberbos, destinados a um público sedento por experimentar do que o Douro era capaz. Aí vieram novos tempos, outro século, novas tendências. Ampliou-se a concorrência, vinhos de grande qualidade brotaram na região. E a promoção e o marketing assumiram papel importante na divulgação de um produto. A luz sobre os grandes vinhos da Quinta do Côtto perdeu intensidade. E mesmo que a qualidade lá estivesse, o grande público passou a prestar menos atenção àquilo que já conhecia. Como que para descobrir novas propostas fosse necessário esquecer o que já se gostava. Mas clássicos são clássicos. E nunca morrem. E nem saem de moda.


Desde 2016, a Quinta do Côtto está sob a administração de outro Miguel, agora o filho. Jovem, informado, cheio de boas ideias e com vontade de implementá-las. Nascido e criado na casa da quinta. Ainda se recorda dos almoços de domingo quando o avô obrigava os miúdos a cheirar e provar os vinhos. Miguel filho sabe o que quer. E está a requerer o que lhe é direito: um lugar de honra no pódio dos melhores vinhos portugueses e mundiais. Motivos sobejam. A qualidade dos vinhos provados é muito alta. Garrafas como as das colheitas de 1982 e 1985 beiram a perfeição e quase tocam o céu. São provas incontestadas da impressionante longevidade destes tintos. Mas não são apenas os produzidos nos anos oitentas que emocionam. Eles só estão mais prontos que os mais novos. 

O triunfo da consistência

Afinal, outro vértice deste triângulo é a consistência. Lançado somente em anos especiais, o Grande Escolha honra este nome. Não há vinhos apenas bons nesta gama. São todos, sem exceções, de ótimo para cima, como se a natureza evidenciasse que fazer grandes tintos é a vocação daquele lugar e daquela casa. O triângulo fecha-se com outro ponto importante para qualquer produtor que deseje um dia ser grande: estilo. Não há mudanças de filosofia e nem a busca incessante pelo grito da moda. Há um norte a guiar os rumos dos vinhos da casa. E esta bússola não é nem a opinião do crítico de turno e muito menos os humores dos consumidores do momento. O que define os vinhos do Côtto é a terra, o lugar. Com as subtis diferenças que cada ano empresta. Como deveria ser, mas infelizmente não é, em todo o lado. 

O enólogo atual, Lourenço Charters, tem o grande mérito de simplesmente entender e respeitar o que está lá. E segue a tradição de nomes importantes como Carlos Agrellos, Susana Esteban, Manuel Lobo, Diogo Frey Ramos e Mafalda Bahia Machado: a de preservar, valorizar e bem interpretar o generoso presente que sai daquelas terras, daquelas vinhas.
Em relação aos motivos pelos quais os vinhos da Quinta do Côtto deixaram de ressoar no mercado como um dia fizeram, a resposta muito provavelmente está menos no vinho do que em qualquer outra coisa. Talvez os mercados e os consumidores estivessem distraídos com as novas tendências e deixado de prestar a devida atenção aos clássicos que andavam por aí. Azar de quem dormiu no ponto e deixou escapar vinhos incríveis como o 2001 ou o 2009. Sorte que eles continuam entre nós, como o 2012 ou o 2015. Afinal de contas, clássicos são clássicos. E nunca morrem nem saem de moda. Mesmo se de vez em quando nos possamos distrair um pouco e não prestarmos tanta atenção a estes vinhos...

 

PROVA VERTICAL


18
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 1980

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
Nesta primeira edição o vinho apresentou as credenciais que marcariam os anos seguintes: vibração, nervosismo, taninos firmes, um leve toque vegetal e muita frescura. Nem o tempo foi capaz de apagar estes sinais. Continua tudo aqui. No nariz, a idade trouxe aromas animais, como um toque de couro, mas ainda traz boas lembranças da fruta madura que carregou na juventude.

20 
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 1982

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
O ano é mítico em França, obra e graça de Robert Parker que consagrou a colheita como uma das melhores de sempre. Este vinho não nasceu em Bordéus, onde estão alguns dos 1982 mais desejados (e bem pontuados) do mundo. Foi forjado no xisto duriense, em vinhas velhas cercadas de matas por todos os lados. E podemos garantir: não está atrás de nenhum dos ‘grands crus’ de Bordéus. Para ele, o tempo é apenas um detalhe. E já mostra isso na cor. Super concentrado, impenetrável, retinto, cor de vintage. No nariz, é austero, com notas de charcutaria. Na boca é amplo, largo, fino, cheio de frescura, profundo, longo, cheio de vida e vigor. Ainda tem um longo caminho pela frente.

19,5 
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 1985

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
Toda a força do xisto molda este grande tinto. Bosque, terra, fruta silvestre, carne, e muito mais compõem o inesgotável bouquet. Na boca, a força, a vibração, a elegância e a firmeza dos taninos, comuns aos grandes vinhos do Côtto. Ainda tem muitos anos pela frente. 

18 
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 1987

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
No nariz, lembra muito o 85, com um toque mais forte de charcutaria e verniz. Na boca, é mais gordo que o antecessor, com os taninos vivos e firmes, muita frescura e uma boa fruta na boca.

17 
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 1990

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
Aqui sente-se alguma acidez volátil, mas o nariz do vinho é bem mais do que apenas isso: tem terra, cogumelos, folha de alcatrão, chá, com evolução para café. A boca é o que mais evoca o lado mineral. Tem muita tensão, firmeza dos taninos e profundidade. 

19 
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 1994

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
Que fruta linda tem este vinho! E para além disso, muita energia, vibração, elegância, frescura, profundidade, fineza e firmeza. O melhor Grande Escolha dos anos 90. 

17,5 
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 1995

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
Mais potente que o 94, mas sem a mesma beleza e elegância. Também com uma volátil alta, tem muita intensidade na boca. Tem uma acidez aguda que garante muita frescura. Mas é menos largo e profundo que os antecessores. 

18,5 
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 2000

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
Percebe-se aqui uma subtil diferença em relação aos vinhos dos anos 80 e 90: este é mais polido, mais requintado. Mas o fio condutor que define os Grande Escolha estão todos lá: os taninos secos e finos, a frescura, os nervos, a fruta. Aqui, com um pouco mais de matéria e volume na boca. 

18,5 
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 2001

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
Muita fruta e tensão, num estilo parecido com o anterior, mas com menos concentração e matéria. E, se calhar, talvez um pouco mais de frescura e nervosismo. Ainda vai melhorar com o tempo em garrafa. 

16,5 
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 2007

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
O mais diferente de todos os Grande Escolha provados. Sente-se mais a madeira do que em qualquer outro. Também nota-se uma fruta mais madura que o padrão. Os taninos são mais macios. Mas o vinho ainda apresenta vigor e boa frescura. Um bom vinho, mas o menos interessante do painel. 

18,5 
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 2009

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
Austero e um tanto fechado no nariz, com tempo começa a mostrar a bela fruta que guarda. Na boca é mais falador. A cada gole, conta histórias diferentes. Sempre com muita vibração, tensão e energia. Os taninos duros e secos são contrabalançados pela acidez quase elétrica. Um vinho desafiador que tende a ficar ainda melhor com mais tempo de garrafa. 

18 
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 2011

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
Vinho superlativo, intenso, robusto, concentrado, cheio de fruta. Não fosse a acidez vibrante, a energia e a tensão, poderia até ser mais um daqueles durienses pesados. Felizmente, este não é o perfil da casa, aqui devidamente respeitado.

18
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 2012

Douro / Tinto / Montez Champalimaud
Aqui estão a tensão, a vibração e a firmeza dos taninos - traço que molda o caráter dos Grandes Escolha do Côtto. Mas é bem menos intenso, musculoso e concentrado do que a colheita anterior. Aqui, o caminho é o da elegância, da fineza dos taninos, de uma fruta mais discreta, mas não menos deliciosa.

18,5 
QUINTA DO CÔTTO GRANDE ESCOLHA 201
5
Douro / Tinto / Montez Champalimaud
A identidade da casa está toda preservada aqui. Fruta fresca, taninos secos, tensão, vibração, energia, frescura e profundidade de sempre, num vinho com uma extração delicada que confere uma elegância ímpar. Um grande vinho, para guardar (ou esquecer) na adega. Consumo: 2020 - 2030 | 50,00 € | 16ºC


Quinta do Côtto
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