Ravasqueira: Vinhos, cavalos e charretes

Fotografia: Fabrice Demoulin

Em 1943, D. Manuel de Mello comprou o Monte da Ravasqueira. Procurava no campo um refúgio para as agruras da vida na cidade. A situação começou a mudar quando o filho José de Mello herdou a propriedade do pai, em 1966. O que era uma casa de campo foi transformado num importante projeto agrícola onde, com o passar do tempo, a vinha viria a ter um papel importante, tal como o apuramento da raça do Cavalo Lusitano, outra paixão da família (o Museu Particular de Atrelagens é um dos ex-líbris do Monte da Ravasqueira). As primeiras vinhas foram plantadas em 1998. Cinco anos depois, era lançado o primeiro vinho, da colheita de 2002. Era o início de um caminho que pouco a pouco ganhou importante peso no mercado português. E que hoje em dia aponta ao mercado exterior o mesmo sucesso alcançado dentro de casa.


José Manuel faleceu em 2009. E três anos após a partida do seu idealizador, o Monte da Ravasqueira promoveu uma grande mudança na forma de pensar a enologia da casa. Tal revolução foi capitaneada por Pedro Pereira Gonçalves, responsável por mudar completamente o rumo das coisas dentro da empresa. O foco passou a ser o consumidor. Mudou a comunicação, a viticultura, a enologia. Mudou-se o perfil dos vinhos. E a julgar pela aceitação do público, a revolução foi mais do que vitoriosa.  

“A Ravasqueira existe desde o início dos anos 2000. A partir de 2012 decidimos mudar a estratégia. Esta mudança teve como base estar mais perto do cliente. Para tanto, aprofundamos o nosso terroir, valorizamos aquilo que nós tínhamos. Quisemos montar um portefólio completo, muito próximo daquilo que queria o consumidor, desde as gamas mais baixas até as marcas mais premium, que tanto agradam à família proprietária da Ravasqueira. O crescimento da empresa é reflexo desta estratégia”, explica Pedro Pereira Gonçalves.


Variabilidade da vinha


O Monte da Ravasqueira está no concelho de Arraiolos, a cerca de uma hora de Lisboa. As excelentes condições climáticas e geológicas da propriedade permitem ao enólogo dispor de um amplo leque de ferramentas para melhor construir os vinhos da casa. Os solos são heterogéneos, com forte composição granítica e manchas de xisto. O conjunto de montes e colinas permite explorar uma série de exposições diferentes das vinhas, o que aumenta ainda mais a diversidade da região. Todos estes fatores contribuem para a que equipa capitaneada por Pedro possa por em prática as ideias e ideais desenhados em 2012. A principal delas talvez seja o conceito da variabilidade. O que significa isto? Pedro Gonçalves explica: “Não há uvas boas ou más, mas sim uvas para determinados perfis de vinho e a capacidade de fazer o melhor com o que se tem. É o conceito de variabilidade da vinha. Temos que interpretar a matéria-prima que temos. Vou dar um exemplo: nesta encosta que temos, as zonas baixas têm uvas com bagos maiores. Estas uvas darão origem a vinhos com mais frutas, menos acidez, menos taninos. Ou seja, são ideais para fazer vinhos de consumo rápido, que estejam prontos para irem cedo ao mercado. Como, por exemplo, o Monte da Ravasqueira Clássico. Já na parte mais alta da encosta, teremos uvas que irão gerar vinhos muito mais concentrados, como o Monte da Ravasqueira Reserva da Família, ou mesmo uma parte da gama premium. E isso é algo que pode variar a ano a ano, vai depender da característica de cada colheita. A nossa meta é buscar o que de melhor podemos fazer em cada perfil de vinho, e levar este mesmo conceito aplicado ao terroir para dentro da adega e de lá diretamente ao consumidor”, defende Pedro. 


Para Lisboa e Tejo e mais…


A atenção dedicada ao público que compra e bebe os vinhos da Ravasqueira é total. Parece que nenhum passo é dado sem que o gosto das pessoas seja levado em consideração. O resultado disso é uma produção que já extrapolou a capacidade da adega e chega aos cinco milhões de litros. E ainda pode crescer. “Tivemos um desenvolvimento inicial mais pronunciado no mercado nacional. As pessoas gostam de beber Ravasqueira todos os dias. Críamos uma marca sólida em Portugal e esse facto dá-nos uma base importante para também crescermos em outros mercados”, explica Pedro. “Agora queremos aumentar a nossa capacidade de produção, que nos permitirá um maior crescimento. Não sabemos o nosso limite, mas queremos manter a nossa consistência. Ou seja: a nossa capacidade de manter esta consistência vai dizer até onde podemos crescer”, pondera e acrescenta: “Temos um plano bem definido, uma estratégia desenhada. Tudo depende agora da nossa capacidade de execução”, completa Pedro. 

Embora seja empresa essencialmente alentejana, o Monte da Ravasqueira já experimentou alguns consistentes passos em outras regiões. Lisboa e Tejo são exemplos disso. E, segundo Pedro, outras zonas podem entrar no radar da empresa. “Estamos atentos às possibilidades. Se aparecer alguma boa oportunidade, quem sabe? Fazer experiências em outras regiões dá-nos um imenso gozo. Poder trazer as características de outros lugares e inserir no nosso perfil tipicamente alentejano é algo que nos agrada. Já temos vinhos de Lisboa e do Tejo que ganham alguma relevância no nosso portefólio”, conclui Pedro. Este é o Monte da Ravasqueira. Uma empresa familiar, um lugar especial para a produção de vinhos e uma enologia que não tem vergonha em querer agradar em cheio ao mais importante dos críticos: o consumidor final. 

Monte da Ravasqueira
7040-121 Arraiolos
T. 266 490 200
E. enoturismo@ravasqueira.com

TEXTO: Alexandre Lalas e Nuno Guedes Vaz Pires