SÍRIA

Fotografia: Arquivo
Marc Barros

Marc Barros

O combate à chamada ‘interioridade’ é um desígnio assumido e propalado nos tempos mais recentes, considerado de grande importância para a coesão nacional, apesar de nem sempre cumprido… Porém, contra todas as intenções, há uma variedade de uva que diz presente – chama-se Síria, ou Roupeiro no Alentejo. Isto porque a implantação dos 5.431 ha. desta variedade branca em solo nacional (3% do total) dá-se, na esmagadora maioria, no interior, em territórios mais próximos da raia – para além do supracitado Alentejo, onde marca presença mais ampla, Beira Interior, Douro e Távora-Varosa são as regiões onde tem maior preponderância, mas pode ser encontrada ainda em Setúbal e Tejo.


Talvez pelo factor interioridade e consequente isolamento a que esteve votada, foi-lhe conferida ampla sinonímia regional: Alvadourão (Dão), Roupeiro Cachudo (Alentejo), Crato Branco (Algarve), Malvasia Grossa e Códega (Douro), Alva (Cova da Beira, Portalegre) ou Dona Branca (Bucelas) são alguns dos designativos reconhecidos.

A casta expressa quase como que uma dupla personalidade, quer se apresente em climas quentes de baixa altitude, como o Alentejo, ou em zonas mais altas e maiores amplitudes térmicas, como a Beira Interior. Diferenças nos solos, como o xisto duriense ou o granito das Beiras, influem igualmente no perfil dos vinhos que origina.

Produtiva na vinha, resulta em vinhos perfumados, com aromas de frutos citrinos, laranja e limão, fruto de caroço, melão, louro e flores silvestres. Diz-se, porém, ser uma variedade com reduzida capacidade de guarda, pois cedo perde a vivacidade aromática. A frescura da altitude confere outra nobreza e elegância aos seus vinhos em que, à componente aromática, acrescenta nervo e algum acídulo aos sabores frutados.

DICAS:

1.A Síria é uma casta de vigor médio/elevado e maturação tardia. Mas exige cuidados, pois é sensível aos perigos do escaldão dos cachos e chuvas tardias, bem como ao oídio e à botrytis cinerea, ou podridão cinzenta. 

2.Os vinhos apresentam acidez natural média, podendo rondar 5 gr./lt., valores esses que se acentuam em maiores altitudes. A componente cítrica e o fruto tropical pouco maduro estão entre os principais descritores aromáticos, primando sobretudo pela jovialidade do carácter.

3.É na Beira Interior que assiste a um maior reconhecimento e redescoberta da casta, com exemplares monocasta entusiasmantes. Em lote, é possível apreciar belíssimos vinhos do Alentejo, sobretudo quando emparelhada com variedades como Antão Vaz, Arinto e Perrum. Deixamos sugestões de vários locais, para que possa provar e comparar: da Beira Interior, Quinta do Cardo Vinha Lomedo, Doispontocinco Colheita Especial Síria e Sério de Síria; de Setúbal, Piloto Collection Síria; do Alentejo, Roupeiro da Malhadinha. E, para terminar, um belo exemplar de colheita tardia da casta, o Quinta da Biaia Late Harvest. Boas provas!