Taste Drive - Timorasso X Arinto

Fotografia: Ricardo Garrido
Marc Barros

Marc Barros

Duas castas brancas: uma italiana, que esteve à beira da extinção; outra nacional, espalhada por todo o país. Ambas primam pela acidez acutilante. Dois especialistas internacionais, os jornalistas Ivan Carvalho, da Monocle, e o dinamarquês Bjarne Mouridsen, defendem as suas damas: Timorasso e Arinto.


Derthona Cascina Montagnola Morasso 2011

O jornalista Ivan Carvalho, correspondente da revista Monocle em Milão, selecionou para este duelo de vinhos um branco italiano elaborado com base na casta Timorasso. A variedade, nativa da DOC piemontesa Colli Tortonesi, possui pergaminhos que remontam ao século XV. Diz-se que “Leonardo da Vinci presenteou este vinho no casamento de Isabel de Aragão, duquesa de Milão”.
Trata-se, afirma, de uma casta com “grande capacidade de envelhecimento” mas que “esteve à beira da extinção”, sobretudo devido à filoxera, no final do século XIX. “Uma outra casta, Cortese, tornou-se muito popular”. Porém, “nos anos 80, a casta ressurgiu e, hoje, entre 30 a 40 produtores da região cultivam-na”.

No caso do vinho em concreto, trata-se de um pequeno produtor, Cascina Montagnola, “localizado na província de Alessandria, no sudeste da região” (onde brilha a variedade tinta Barbera) e que produz vinhos monocasta Timorasso (ou Morasso, como é conhecida localmente) “desde há uns anos a esta parte”. 

Este Derthona “estagia um ano em cubas de inox, alternando com períodos de estágio nas borras finas. Depois de engarrafado evolui um ano em cave antes de ser lançado para o mercado”, explica Ivan Carvalho. Por outro lado, tratando-se de um exemplar de 2011, “demonstra bem o potencial de envelhecimento” da casta.

Apresenta “boa acidez, mineralidade” e, “quando jovem, pode ser comparado a um Riesling seco, com aromas de flores brancas, frutos brancos, untuoso, que poderá apresentar sabores típicos aportados pela madeira, apesar de não a ter, e proporciona harmonizações interessantes, combinando com massas de frutos do mar”, refere. Trata-se, conclui, de “um vinho de nicho no momento, mas creio que no futuro próximo será uma casta de que ouviremos falar bastante”.

CH by Chocapalha Arinto 2017

Quando perguntam ao jornalista dinamarquês Bjarne Mouridsen, especializado em vinhos lusos, sobre castas brancas portuguesas, as conversas acabam sempre em torno de duas variedades: Alvarinho ou Encruzado. Porém, refere este jornalista, “recentemente comecei a tomar mais contacto com a casta Arinto, cuja qualidade apresenta-se cada vez melhor nos vinhos que origina”.
Bjarne recorda que a variedade “tem uma longa história”, associada sobretudo a Bucelas mas, “numa outra parte da região de Lisboa, mais a norte, em Alenquer, a Quinta da Chocapalha produz vinhos Arinto de grande qualidade”. O jornalista recorda ter visitado a quinta no ano passado e mostrou-se “impressionado com o trabalho que é feito por lá por Sandra Tavares da Silva, não apenas em Lisboa, mas também no Douro”. 

Da propriedade dos seus pais, “este CH é uma homenagem à mãe, Alice Tavares da Silva, de origem suíça”. Fermentado em barrica, estagiou em contacto com as borras finas, durante nove meses, com bâtonnage. “Sentimos a madeira no nariz mas muito equilibrada com a frescura aportada pela proximidade ao oceano” e pela acidez própria da casta, assinala. Revela “grande potencial de envelhecimento e emparelha com peixes e mariscos”. Para Bjarne Mouridsen é, em suma, “um vinho muito bem feito”.