Tintos entre 5 e 10 euros: Qualidade a preços moderados

Fotografia: Arquivo
Marc Barros

Marc Barros

Há quem afirme que uma das principais virtudes dos vinhos portugueses é a sua vantajosa relação qualidade/preço; outros, porém, assumem que os vinhos nacionais continuam a ver os seus preços subvalorizados face à sua tremenda qualidade e, até, custos de produção. Ambas as afirmações são verdadeiras e são-no ainda mais nesta categoria muito especial do mercado, a dos tintos entre 5 e 10 euros.


Quando o tema abordado numa prova temática tem como critério determinada fasquia de preços, os números ganham importância redobrada na análise, ainda mais quando estão em causa vinhos marcados entre 5 e 10 euros na prateleira. Num país como Portugal, que lidera destacado o ranking do consumo de vinho per capita à escala mundial (apoiado no fenómeno do turismo, já se sabe), com 62,1 litros por pessoa, tendo consumido no total 5,5 milhões de hectolitros em 2018 (dados Nielsen), não é menos certo que a esmagadora maioria do consumo (acima de 95%) faz-se na fasquia de preço até 2 euros. 

Com efeito, cerca de 40% das vendas em valor correspondem aos vinhos sem denominação de origem, chamados ‘vinhos de mesa’ ou, como a atual nomenclatura exige, ‘mesa’. No conjunto do mercado nacional, as vendas de vinho tinto cresceram 10% (428 milhões de euros), enquanto o vinho branco registou uma subida de 11,2% (275 milhões de euros), e o rosé subiu 8% (27 milhões de euros). 

Aos vinhos tabelados entre 5 e 10 euros corresponde já a categoria designada como ‘premium’, vinhos de qualidade acima da média, ainda assim a preços bem acessíveis. E são a prova provada que é possível aceder a grandes vinhos de todas as regiões portuguesas. Vinhos, em muitos casos, surpreendentes, elegantes e distintos, que dão muito prazer a beber desde já, mas dos quais muitos apresentam capacidade para evoluir em garrafa. E, no seu conjunto, são belos parceiros gastronómicos.

Nesta faixa de preços assiste-se à produção de vinhos marcados pela diferenciação, ou seja, há identidade, há trabalho de adega e de enologia assertivo (não poderia deixar de ser assim), mas a uva ganha maior expressão. Surgem apostas de maior apuro, nomeadamente quanto ao elemento identitário, ou seja, associando o vinho à sua origem, ou, por exemplo, através da proposta de vinhos monocasta.

Na vinha, procura-se alcançar não tanto o binómio produtividade por hectare/perfil de vinhos, característicos dos chamados “entrada de gama”, mas antes selecionar a matéria-prima ideal para o perfil a obter. E qual é esse? Vinhos de qualidade acima da média, mas ainda assim acessíveis ao consumidor médio. Procura-se portanto alguma concentração, mas nunca sobreextração; vinhos com elegância e finesse, mas com fruta e tanino de qualidade a marcarem presença; juntamente com alguma complexidade e, até, capacidade para transportarem o consumidor para a sua região de origem.

Porém, não se pode pedir o mesmo a vinhos marcados a 5,99 euros ou a 9,99 euros. A diferença está patente não apenas nos vinhos: na qualidade das rolhas utilizadas, na imagem do rótulo, na quantidade produzida. Os produtores fazem as suas contas para que, no final, possam arrecadar o justo lucro, isto num segmento que pode ser tão ou mais combativo que o dos vinhos de entrada de gama.

Tintos para todos os gostos

Estas foram as principais conclusões do painel de prova da Revista de Vinhos deste mês, que incluem exemplares de várias colheitas, que podem ser encontrados na moderna distribuição ou em lojas de vinhos, com “tiragens” elevadas ou produções em mais pequena quantidade, imbatíveis na restauração ou no consumo doméstico.

Nesta prova temática, pontificaram vinhos das regiões do Alentejo e Lisboa, com um bom contingente do Dão e do Douro a marcar presença, bem como exemplares da Beira Interior. De assinalar que, dos 28 vinhos em prova, os vinhos do Alentejo destacaram-se, com sete vinhos na fasquia dos 16,5 valores. Os vinhos de Lisboa não quiseram ficar atrás, com seis exemplares até aos 16 valores, colocando mesmo dois vinhos entre os quatro mais bem pontuados pelo painel de provadores (17 pontos). De salientar que um desses vinhos data da colheita de 2012! Entre as classificações mais elevadas, espaço ainda para um vinho do Douro, de um produtor emblemático da região. Curiosamente, no topo da tabela estão dois vinhos, de regiões diferentes, ambos do mesmo produtor (Rocim). Também os vinhos do Dão e da Beira Interior estiveram entre os protagonistas, a enfileirarem na lista dos vinhos com 16,5 pontos.

Constata-se, assim que a produção de vinhos de qualidade (e até de excelente qualidade) é transversal a todas as regiões. Por outro lado, Portugal continua a ser um país produtor que não valoriza devidamente os seus vinhos; alguns destes poderiam facilmente ser tabelados a preços superiores, para gáudio do consumidor, que consegue encontrar vinhos de altíssima qualidade a custos moderados.