Vercoope: Um bom exemplo nos Vinhos Verdes

Fotografia: Daniel Luciano
Luís Costa

Luís Costa

Com a economia e a vida das pessoas a retomarem a normalidade possível, é estimulante visitar as instalações da Vercoope, em Agrela, Santo Tirso, que representa sete cooperativas vitivinícolas dos Vinhos Verdes – Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra. Com boas razões para se orgulhar dos seus vinhos, tem ainda mais razões para acreditar no futuro próximo, apesar da crise pandémica. É que a Vercoope respira saúde financeira e orgulha-se de pagar a tempo e horas às sete adegas cooperativas que agregam, no seu universo, para cima de 2.500 viticultores ativos. 


Com mais de meio século de existência, tendo a adega de Felgueiras como sua maior acionista, a Vercoope – União de Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes – é hoje o espelho da enorme evolução que se registou no universo do vinho português nos anos mais recentes. Fundada em 1964, evidencia uma organização exemplar, apresenta contas em dia (remuneração anual às adegas na ordem dos 300 mil euros), mostra ter capacidade exportadora (sensivelmente 30 por cento da produção anual), pode orgulhar-se da sua força de vendas (vende acima de meio milhão de litros por mês) e mantém os investimentos previstos apesar da crise pandémica (acaba de comprar 11 cubas de 150 mil litros, vai cobrir o parque exterior de cubas e propõe-se fazer uma instalação fotovoltaica). Mas, sobretudo, a Vercoope produz hoje em dia vinhos francamente interessantes, apresentado um portfólio vasto e diversificado que tem muitos fiéis seguidores – e que surpreende quem não é habitual consumidor das suas referências.

Em processo acelerado de crescimento, também a Vercoope sentiu os efeitos da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Da noite para o dia, os responsáveis pela união que agrega sete cooperativas vitivinícolas dos Vinhos Verdes – Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra – passaram a operar com metade das pessoas, colocando as suas equipas em espelho de forma a acautelar males maiores. 

Menos dependentes do chamado canal Horeca do que muitos produtores de vinho (sobretudo dos hotéis e restaurantes que tiveram literalmente de fechar as portas), a Vercoope controlou os danos, registou quebras que se quedaram pelos 20 por cento, arregaçou as mangas e até teve de responder ao acréscimo de encomendas de grandes superfícies como o Continente e o Pingo Doce.

Agora, com a economia e a vida das pessoas a retomarem a normalidade possível, é estimulante visitar as instalações da Vercoope, em Agrela, Santo Tirso, onde somos recebidos pelo seu Presidente, Casimiro Alves, e por José Castro, Marketing e Export Manager. “Estamos a encarar a próxima colheita com alguma tranquilidade. Não dependemos do canal Horeca como muitos outros, somos fortes nas grandes superfícies – sobretudo Pingo Doce e Continente –, temos estado em processo acelerado de crescimento e os nossos vinhos têm tido grande sucesso nos últimos anos”, diz-nos um resiliente e otimista Casimiro Alves, engenheiro agrónomo que faz parte da família Vercoope há 35 anos, e que pode orgulhar-se principalmente de um feito que poucos alcançam: há 10 anos, a Vercoope faturava 5 milhões de euros/ano e entretanto deu um salto para os 13 milhões. A verdade é que a quantidade de vinho vendido não dobrou sequer no mesmo período, o que quer dizer que o houve um aumento significativo de valor – os vinhos subiram de preço, estão a ser melhor vendidos e, por isso, a Vercoope respira saúde financeira, pagando a tempo e horas às sete adegas cooperativas que mantêm para cima de 2 500 viticultores ativos. “A nossa função é que as adegas paguem bem aos associados. Valorizamos os seus vinhos e assim conseguimos pagar-lhes cada vez melhor. Por isso, todos os anos subimos o preço dos vinhos. Porque uma adega não pode estar em atraso no pagamento aos seus viticultores.”, sublinha Casimiro Alves, enaltecendo uma outra virtude deste “modus operandi”: “Antigamente havia permanente crispação entre as adegas. Hoje somos uma família, pois conseguimos pacificar as hostes e todos os nossos atos de valorização são transparentes. Na Vercoope, os vinhos são avaliados pela sua qualidade”.

Outro sinal evidente da evolução do setor, do salto em frente operado nos Vinhos Verdes e da valorização da Vercoope é dado pelo vasilhame: há 20 anos, um terço do vinho era vendido em garrafão de cinco litros; outro terço em garrafas de litro; e só um terço em garrafas de 0,75 cl.. Atualmente, mais de 90 por cento das vendas da Vercoope correspondem às clássicas garrafas de 0,75 cl., num esforço de qualificação que vai ter um momento histórico em 2021: a Vercoope vai acabar com o vinho em garrafão já no próximo ano.

Se há 20 anos as adegas cooperativas da Vercoope encaravam com imensas reticências a diversificação do portfólio, designadamente através da aposta em varietais Loureiro e Alvarinho que rompessem com a produção monocórdica dos tradicionais Vinhos Verdes caracterizados pela trilogia “efervescência, doçura e baixo grau” (“Pois achavam que ia dar muito trabalho e pouco rendimento, que isso não dava dinheiro…”, conta-nos Casimiro Alves), hoje a União de Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes tem interessantes vinhos de lote, varietais de qualidade, espumantes e, inclusive, vinhos estagiados em madeira.

Este caminho de qualificação do trabalho da Vercoope, que hoje não se limita a recolher o vinho dos associados e a comercializá-lo sem mais-valias, passa também pelo trabalho do enólogo da casa, que é responsável pelo acompanhamento dos vinhos nas diferentes adegas cooperativas, pela seleção das cubas e pela formação dos lotes. Esse trabalho fundamental – de modo a garantir a produção de vinhos consistentes, expressivos da sua origem, com qualidade e volumes relevantes – é hoje desempenhado por João Paulo Gaspar, natural de Alijó e licenciado em Enologia pela Universidade de Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, com pós-graduações em Viticultura, Sistemas Integrados de Gestão e, mais recentemente, em Enologia Avançada na Universidade Católica Portuguesa.

Com uma produção anual que ronda as 8 milhões de garrafas/ano, a Vercoope é um dos três maiores “players” da região dos Vinhos Verdes e exporta para mais de 30 países, com destaque para Rússia, EUA, Brasil, França, Alemanha, Japão, Noruega, Polónia, Suíça e Ucrânia. As suas principais marcas são: Via Latina, Terras de Felgueiras, Cooperativa de Felgueiras, Pavão e Urbe Augusta. Com uma capacidade de armazenamento de 5 milhões de litros só nas instalações de Agrela, Santo Tirso, a Vercoope consegue produzir 70 mil garrafas/dia e tem as suas marcas referenciais no top 10 de vendas dos Vinhos Verdes.