Vinhos do Algarve

Para lá das férias de verão

Fotografia: Ricardo Garrido

O Algarve remete-nos, de imediato, para a atmosfera de sol e de praia, de comida de mar e à beira-mar, de evasão e férias. Mas, nos últimos anos um punhado de projetos meritórios obriga-nos a olhar para o Algarve não apenas do ponto de vista turístico ou gastronómico como também enquanto um território de vinhos, de marcas e de referências que merecem ser conhecidas para lá dos meses de veraneio. Rosés seguros, brancos de bom nível e tintos equilibrados, assim podemos sintetizar os resultados desta prova temática de vinhos algarvios. 

 

PAINEL DE PROVAS Célia Lourenço, José João Santos, Luis Costa e Manuel Moreira 

 

Não é fácil estar a percorrer vinhas, a preparar adegas e a tratar de vindimas quando a pouca distância a temperatura da água ainda convida a um mergulho no mar e a mais umas boas horas de puro ócio com os pés na areia. Ora, por estes terrenos de vinhas esperem-se solos de argila também arenosa e de algum xisto, plantas protegidas dos ventos mais frios de norte pelas serras de Monchique, Caldeirão e Espinhaço de Cão. Sobram (e sopram) os ventos mais quentes do Mediterrâneo, a influência de um Atlântico mais brando, chuva apenas episódica, maturação bem célebre das uvas por alturas da colheita.

Com um milhão de garrafas certificadas por ano e 2.000 vinhas cadastradas, é fácil perceber que o Algarve não é uma extensa região de vinhos. Mas, apesar de a dimensão ser assim mesmo, diminuta, o trabalho que tem sido ali desenvolvido é cada vez mais sério e com resultados francamente animadores.

Lagoa, Lagos, Portimão e Tavira são as denominações de origem, ainda que a maioria do vinho nos chegue às mãos com a designação da Indicação Geográfica. Entre as castas mais tradicionais usadas nos solos algarvios contam-se a Negra Mole e o Castelão, nos tintos, a Síria e o Arinto, nos brancos. Todavia, os mais recentes encepamentos demonstraram a aptidão para bons vinhos de muitas outras castas, sendo a Touriga Nacional, o Syrah e o Cabernet Sauvignon, nos tintos e rosés, o Verdelho e o Chardonnay, nos brancos, bons exemplos.

E o que podemos esperar de um vinho algarvio? Características típicas de uma região quente, em que os conhecimentos mais efetivos de viticultura e enologia permitem resultados bastante conseguidos, que afirmam o Algarve como região também produtora de vinhos por mérito próprio. Aplaudimos muito em particular o trabalho de viticultura, que certamente estará a ser feito com rigor e graças ao qual tudo o resto é possível.

Os tintos têm estrutura redonda e fruta marcada, raramente caem em exageros de concentração, apresentam-se equilibrados e respeitam a equação entre a componente vegetal e a da fruta. De louvar a procura pela frescura que demonstram. Houvesse um uso mais rigoroso do estágio em madeira e haveria, de caras, uma subida de patamar.

Os brancos revelam um bom nível e são, sobretudo, delicados e fáceis de beber. Os rosés são muito seguros, imediatos e fáceis de agradar, rapidamente devorados pelos turistas estrangeiros, estão genericamente bem pensados e propiciam momentos de consumo descomprometidos.

 

A bom nível

 

A Revista de Vinhos convidou os produtores da região do Algarve a enviarem diferentes amostras recentemente chegadas ao mercado – brancos, rosés e tintos. No total foram provados 35 vinhos (19 tintos, 10 brancos e 6 rosés), com PVP entre os 3,95€ e os 22€, de 12 produtores. O nível foi bom, com a pontuação máxima, de 16,5 pontos, a ser alcançada pelo Quinta do Francês Odelouca 2015, um tinto da Quinta do Francês. Quatro vinhos alcançaram 16 valores: Malaca Reserva Aragonês 2014, Marquês dos Vales Grace Vineyard 2011, Vida Nova Reserva 2012, todos tintos, e ainda o branco Quinta do Francês Odelouca River Valley 2016.

Uma prova de bom nível que ajuda a ilustrar o atual panorama do Algarve e, sobretudo, o potencial de crescimento, enquanto região produtora, que o destino de praia preferido dos portugueses (e não só) possui.

 

Os vinhos mais bem pontuados


16,5
Quinta do Francês Odelouca 2015
Algarve / Tinto / Quinta do Francês

Rubi. Nariz frutado de bagas vermelhas, ligeiro vegetal e floral de violeta. Boca fresca e ampla com notas de fruta vermelha madura. Taninos firmes mas polidos. Um vinho elegante e harmonioso. LC

Consumo: 2017-2021
6,99 € / 16ºC

 

16
Malaca Reserva Aragonês 2014
Algarve / Tinto / Malaca

Aroma rico, boa intensidade, fruto preto, ameixa madura, mirtilo, envolto em barrica de qualidade. Suculento e amplo na boca, fruta ampla, madura mas de boa dose de frescura. Final com alguma riqueza, nos sabores de especiarias e alcaçuz. MM

Consumo: 2017-2020
22,00 € / 16ºC


16
Marquês dos Vales Grace Vineyard 2011
Algarve / Tinto / Quinta dos Vales

Rubi. Cheira a fruto silvestre, tem apontamentos de verniz, de algum vegetal e de balsâmicos. Na boca tem tanino firme e revela uma frescura que contraria a idade. Termina médio mas afirmativo. JJS

Consumo: 2017-2019
12,90 € / 16ºC


16
Quinta do Francês Odelouca River Valley 2016
Algarve / Branco / Quinta do Francês

Palha claro. Nariz elegante, com descrição, sobressaindo um frutado bonito e ligeira tosta. Boca viva, notas verdes, algum vegetal, tudo muito harmonioso. Termina salino e seco. CL

Consumo: 2017-2019
9,50 € / 11ºC


16
Vida Nova Reserva 2012
Algarve / Tinto / Adega do Cantor

Rubi, com laivos granada. O nariz tem especiarias, alguma baunilha, fruta afinada, com figo e ameixa em passa. A boca tem estrutura, taninos de boa textura, elegância. Termina fresco e harmonioso. CL

Consumo: 2017-2020
12,50 € / 16ºC


15,5
Cabrita 2015
Algarve / Tinto / José Manuel Cabrita

Rubi. Nariz com figo, algum rebuçado e compota. Macio na boca, é um vinho fácil de beber, muito correto, com elegância suave. Termina bem. CL

Consumo: 2017-2020
8,90 € / 16ºC


15,5
Cabrita Native Grapes Negra Mole 2015
Algarve / Tinto / José Manuel Cabrita

Estilo fino, requintado de aroma, sugestões de fruto desidratado, apelativo e franco. Na boca é macio, polido, com taninos suaves. Boa fruta, com balanço e proporção. MM

Consumo: 2017-2020
8,50 € / 16ºC


15,5
Convento do Paraíso 2013

Algarve / Tinto / Convento do Paraíso

Rubi. Nariz de legumes cozidos, de sardinheira, de folha de chá e de geleia de fruto vermelho. Acentua a vertente vegetal na boca, tem taninos verdes e sublinhados, especiaria de barrica. Final médio mas muito assertivo. JJS 

Consumo: 2017-2020
14,95 € / 16ºC

 

15,5
João Clara 2015
Algarve / Tinto / Essential Passion

Rubi. Aromático, com nariz elegante, sem excessos. A boca é frutada e harmoniosa, com lado mais vegetal. A madeira é fina e bem envolvida. É uma boca generosa na fruta, sem arestas, de relativa simplicidade. CL

Consumo: 2017-2020
10,00 € / 16ºC


15,5
João Clara Negra Mole 2014

Algarve / Tinto / Essential Passion

Rubi. Nariz discreto, com leve floral, cereja vermelha, ameixa e balsâmico. Confirma a elegância na boca, com frescura e um certo licor. Final de prazer. JJS

Consumo: 2017-2019
20,00 € / 16ºC


15,5
Quinta do Francês Odelouca 2016
Algarve / Branco / Quinta do Francês

Amarelo limão. Nariz que harmoniza uma componente floral com nota de limão, de laranja e toranja. Na boca tem volume, boa acidez e um fundo muito interessante do estágio em madeira. JJS

Consumo: 2017-2020
6,00 € / 11ºC


15,5
Quinta do Barradas Reserva 2014
Algarve / Tinto / Rotas Seculares

Cor rubi concentrada. Nariz aromático e suave, com compota, algum fumado e ligeiro pimento. A boca é redonda, com fruta madura, boa barrica e estilo versátil. CL

Consumo: 2017-2019
15,00 € / 16ºC


15,5
Quinta do Barradas Reserva Syrah 2014
Algarve / Tinto / Rotas Seculares

Intenso de aroma, tons de amora, ligeiro confitado, alguma passa e chocolate. Suculento na boca, taninos de boa textura, fruta suculenta, boa estrutura, sabores ricos, bem feito, preponderância de alcaçuz e cravinho. MM

Consumo: 2017-2019
15,00 € / 16ºC