Entre os melhores azeites

 
Luís Alves

Luís Alves

São duas as regiões envolvidas na II Edição do Concurso de Azeite Virgem de Trás-os-Montes e Alto Douro. As melhores referências estiveram em prova e os resultados são animadores. Para a fileira, para os produtores e, em última análise, também para os consumidores. O azeite tem sido comparado com os vinhos de mesa do Douro no caminho que têm trilhado nos últimos anos. E não é razão para menos.


Manhã quente em Bragança, num dos períodos de calor que 2020 já trouxe, um tanto extemporâneos pela intensidade e por perdurarem vários dias consecutivos. No centro da cidade vêem-se poucos bragantinos. Ali no centro, ou quase, o Instituto Politécnico de Bragança (IPB) está igualmente vazio, entre o final de um ano letivo que a pandemia tornou totalmente atípico. Para além de um ou outro funcionário, o movimento naquela manhã deve-se à segunda edição do Concurso de Azeite Virgem de Trás-os-Montes e Alto Douro. “A primeira edição correu tão bem que não tivemos dúvidas sobre a continuação”, conta-nos Francisco Pavão, presidente do concurso e alguém profundamente ligado à fileira. Numa sala no primeiro andar da instituição decorreram durante dois dias as provas deste concurso, que reuniram não apenas azeites muito distintos, do Douro e de Trás-os-Montes, como um painel que veio de todo o país, também ele diverso.

Se os concursos de vinho já são comuns por todo o país e promovidos por várias entidades, da imprensa às Comissões Vitivinícolas, já o azeite não tem tido o mesmo protagonismo e atenção. Daí surgiu esta “ação conjunta e uma vontade partilhada da região em promover este produto local e premiar os melhores”, explica Pavão, sobre o concurso promovido pela Câmara Municipal de São João da Pesqueira, Capital Douro – Associação Industrial, Comercial e de Serviços de São João da Pesqueira, o Instituto Politécnico de Bragança e ainda a APPITAD – Associação de Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Nesta edição estiveram a concurso 66 azeites que, em comparação com o ano anterior representam menos mas de um grupo de produtores maiores.

Francisco Pavão vê a necessidade de trazer o azeite ao debate público como absolutamente necessária. “O azeite tem saído da sombra e ainda bem que tem conseguido fugir desse anonimato. Portugal é um país de azeite, com duas realidades muito distintas. A sul, tendencialmente um olival intensivo e de regadio. Já a norte, um olival tradicional, de bordadura, em vizinhança com outras culturas, com custos de colheita especialmente elevados”, resume o presidente do concurso que vê nestas ações a possibilidade de “premiar os melhores produtores e reconhecer o bom e difícil trabalho, para além de ajudar na produção e comercialização”.

Perfis, públicos e “kids”


Um concurso deste tipo, como outros, não serve apenas o propósito de avaliar e classificar. Para Francisco Pavão, a educação de públicos é essencial. “Este concurso tem naturalmente toda uma componente formativa, de educação de públicos para um produto que só agora vê o início da sua justa caminhada”, refere o presidente do concurso. “A harmonização entre azeite e comida deve estar ao mesmo nível da que se faz com o vinho”, defende.

Na II edição do Concurso de Azeite Virgem de Trás-os-Montes e Alto Douro estiveram quatro categorias em jogo. “Frutado maduro”, “frutado ligeiro”, “frutado verde médio” e “frutado verde intenso”. O que os distingue é sobretudo as variedades que lhes dão origem e os terroirs. No primeiro dia do concurso todas as amostras submetidas a concurso foram provadas e “arrumadas” nas quatro categorias.

Quem também foi jurado neste concurso, numa fase posterior, foram sete crianças da Associação Bagos D’ Ouro. “De pequenino se torce o pepino”, afirma Pavão, que institui, logo na primeira edição, o ano passado, o Prémio Kids. Depois de provados e premiados os azeites, as referências com medalha de ouro foram posteriormente provadas por estas crianças que numa folha de provas elegem o seu preferido. “Por grande coincidência e por incrível que possa parecer, o grande vencedor do ano passado dos “adultos” foi o mesmo das crianças”, recorda Francisco Pavão, que alerta: “Mais do que classificações, importa formar e educar as gerações mais novas para este produto genuíno e autóctone”.

Na edição deste ano foram sete as crianças escolhidas, ligadas à Associação Bagos D’ Ouro, criada por Luísa Amorim e pelo padre Amadeu Castro. “Este concurso é uma ação especial para a associação. É a cidadania social a funcionar e para nós é um sinal de gratidão em prol do trabalho que já fazemos há vários anos com as crianças do Douro”, refere. E se o primeiro contacto com a prova de azeite para as crianças pode ter sido estranho, rapidamente se habituaram. “Depois de perceberem exatamente o que estão a fazer e o objetivo do concurso e do prémio Kids, estes jovens foram profissionais. E é extraordinário terem desde muito novos a consciência da importância do azeite para as duas regiões envolvidas”, afirma Amadeu Castro.

O azeite como os DOC Douro


Para o autarca José Luís Rodrigues, vice-presidente da Câmara de São João da Pesqueira, o azeite tem começado a trilhar um percurso em tudo semelhante aos vinhos DOC Douro. “O nosso concelho é o maior produtor de vinhos DOC Douro e também o que mais produz Vinho do Porto. Depois dos vinhos, o azeite tem um papel essencial na economia local. E é curioso notar que o azeite tem feito um caminho para se dignificar e procurar o lugar que lhe é justo, tal como os vinhos de mesa fizeram nas últimas décadas”, refere o autarca. Da mesma opinião é Paulo Tolda, presidente da Direção da Associação Capital Douro, dinamizadora deste concurso que pôs à prova azeites de Trás-os-Montes e Alto Douro. “A Capital Douro, enquanto associação empresarial, percebeu há três ou quatro anos que a fileira do azeite estava a mexer-se, no bom sentido”, recorda. “Vimos que os produtores estavam a olhar para a cultura com outros olhos, o mercado estava mais recetivo, as técnicas culturais estavam a ser aprimoradas e a comunicação do produto final tinha aumenta em profissionalismo. Era tempo de avançar com uma ação, neste caso sob a forma de um concurso, para alavancar ainda mais este dinamismo”, refere o responsável que vê como importante não apenas o concurso em si mas todo um conjunto de atividades laterais, igualmente relevantes. “A formação, os workshops durante todo o ano, em particular sobre pragas e doenças, são ferramentas muito úteis aos produtores”, afirma Paulo Tolda.

Painel de Provadores

O painel de provadores desta segunda edição do concurso foi constituído por nove jurados, provenientes de várias regiões do país e área de trabalho distintas. “Temos pessoas altamente capacitadas na análise sensorial do azeite, com experiência em concursos nacionais e internacionais”, descreve Francisco Pavão. No painel tinha produtores, técnicos da área, professores universitários de agronomia e olivicultura, pessoas ligadas ao Ministério da Agricultura, entre outros. “O grande requisito é o acumular de muitas horas de prova de azeites”, assegura o presidente do concurso.

Francisco Pavão - Presidente do Concurso

José Luís Rodrigues - Vice-Presidente da Câmara de São João da Pesqueira

O vice-presidente da Câmara de São João da Pesqueira, José Luís Rodrigues, sublinha a absoluta importância de ações como estas. “Ajudam a promover de uma forma muito eficaz e muito impactante um produto que é endógeno da região. São iniciativas verdadeiramente valorizadoras”, afirma o autarca do concelho onde se produz a maior quantidade de Vinho do Porto e vinhos DOC da Região Demarcada do Douro.

A II Edição do Concurso de Azeite Virgem de Trás-os-Montes e Alto Douro congregou várias instituições de áreas distintas. “Termos organizações da sociedade civil unidas para que este concurso se realizasse, com o apoio da Câmara Municipal, é sintoma da boa dinâmica e da união em torno deste objetivo maior e geral”, acredita José Luís Rodrigues que vê o percurso do azeite como os DOC Douro, “em aumento de relevância, de imagem e comunicação, assim como na aposta na identidade e na diferenciação”.

O município tem estado, apesar das contingências, a mover-se no sentido de apoiar a economia local. Uma das ações que mais ajudava nesse objetivo não se pôde realizar este ano. “Infelizmente a Vindouro não aconteceu em 2020, por razões óbvias, o que lamentamos. É o nosso maior evento e tem imprimido nos últimos anos uma grande dinâmica à região”, afirma o autarca.

Nuno Rodrigues – Professor no IPB 

O docente na instituição que recebe e acolhe as provas de azeite tem notada uma heterogeneidade nas amostras que vieram a concurso. “É muito interessante percebermos que estamos a falar de duas regiões vizinhas, Trás-os-Montes e Alto Douro, e mesmo assim temos terroirs tão diferentes” começa por dizer o provador do painel para a seguir concretizar: “Temos notas comuns de lavanda e rosmaninho, muito comuns nos azeites do Douro, e depois temos azeites que facilmente percebemos que têm origem transmontana, por ser muito verdes, amargos e picantes”, descreve. Ambos têm espaço como também têm espaço as surpresas. “O ano passado, por exemplo, tivemos azeites com notas de cacau e até de chocolate que são menos comuns”, refere Nuno Rodrigues.

O IPB e o Centro de Investigação de Montanha, onde Nuno Rodrigues se dedica particularmente, têm sido motores do desenvolvimento da região, dos agricultores e da economia local e nacional, em última análise. O azeite da região já tem atrelado um valor significativo mas estas instituições de ensino superior têm o objetivo de acrescentar mais valor ainda, elevando a fasquia.

Vencedores

CATEGORIA FRUTADO MADURO

Ouro
- Rosmaninho Praemium - Cooperativa de Olivicultores de Valpaços
- Aurum Nostrum - Ivo Alexandre Seixas Matos Esteves
- Quinta do Portal - Sociedade Quinta do Portal

Prata
- Zabodez - Vitavitis Unipessoal
- Casa de Santo Amaro Nature - Trás-os-Montes Prime
- Terras D´Azibo Ânfora . Masaedo, Prod. Com. Prod. Alim.
- Quinta da Pacheca . Quinta da Pacheca, Soc. Agr. Turística 

Bronze
- Casa de Valpereiro - Sociedade Agrícola Alberto Manso
- Casa Afonso Borges Primis - Agrifiba
- Quinta da Corte - Pacheco & Irmãos
- Azeite Decides - A Roda das Delícias 

CATEGORIA FRUTADO VERDE LIGEIRO

Ouro
- Quinta do Crasto Praemium - Quinta do Crasto
- Acuslha - Acuslha
- Quinta do Arnozelo - Sogevinus Fine Wines
- Quinta Vale do Conde - Soc. Agr. do Conde 
- Casa dos Varais - João Baptista de Castro Girão de Azeredo

Prata
- Azeite Senhor de Murça - Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Murça
- Segredos do Côa Premium Bio - Segredos do Côa
- Quinta do Javali Lobatos Selection - Sociedade Agrícola Quinta do Javali
- Ouro da Fábrica Premium - FábricaDouro

Bronze
- Vale D´Anelha - Fábio Filipe Almeida Guterres
- Casa de Santo Amaro Praemium - Trás-os-Montes Prime
- Quinta de Ventozelo - Quinta de Ventozelo
- Vale da Cerdeira - Carlos Alberto Batoco Montês
- Arribas do Côa - Sotero Ferreira
- Casa Grande Gold Reserve - Coop. Vit. Oliv. Freixo de Numão
- Quinta dos Malvedos - Symington Family Estates

Menção Honrosa
- Arvólea Single Edition - Arvólea 
- Quinta do Vale Meão - F. Olazabal & Filhos

CATEGORIA FRUTADO VERDE MÉDIO

Ouro
- CARM Grande Escolha - CARM
- Casa de Santo Amaro Prestige - Trás-os-Montes Prime
- Quinta de Porrais - Sociedade Agrícola Quinta de Porrais
- Quinta do Ataíde - Symington Family Estates

Prata
- Rosmaninho Gran Selection - Cooperativa de Olivicultores de Valpaços
- Quinta do Pessegueiro - Quinta do Pessegueiro Sociedade Agrícola e Comercial
- Olimontes Premium - Olimontes
- Caixeiro Signature - Vilela, Cardoso & Morais

Bronze
- Casa de Valpereiro Premium - Sociedade Agrícola Alberto Manso
- Segredos do Côa Grande Escolha Bio - Segredos do Côa
- Ouro da Fábrica Biológico - FábricaDouro
- Chousas Nostras - Gerações de Xisto

CATEGORIA FRUTADO VERDE INTENSO

Ouro
- Rosmaninho Cobrançosa - Cooperativa dos Olivicultores de Valpaços

CATEGORIA MELHOR AZEITE DOP “AZEITE DE TRÁS-OS-MONTES”

- CARM Grande Escolha - CARM

CATEGORIA MELHOR AZEITE “REGIÃO DEMARCADA DO DOURO”

- CARM Grande Escolha - CARM

CATEGORIA MELHOR AZEITE “KIDS”

- Quinta do Arnozelo - Sogevinus Fine Wines
- Quinta de Porrais - Sociedade Agrícola Quinta de Porrais
 

FOTOS: Jorge Matos