Obra de Fátima Iken aborda primeiras críticas gastronómicas em Portugal e descreve como se comia em Lisboa nas décadas de 1960/1970.
O livro “A Escrita e o Prato”, da autoria de Fátima Iken e com a chancela da Colares Editora, foi um dos cinco livros nomeados para o prémio da Gourmand Awards, espécie de “óscares” da literatura gastronómica mundial, na categoria de “Food Writing”. A obra, lançada em maio deste ano, aborda as primeiras críticas gastronómicas em Portugal, a partir das crónicas que Sttau Monteiro escreveu no suplemento “A Mosca” do Diário de Lisboa, entre maio de 1969 e abril de 1975.
Por aí conseguimos descortinar a facea identitária da cozinha portuguesa e saber o que se comia, como se comia e quem frequentava os restaurantes de Lisboa na década de 1960/1970, não só o panorama gastronómico da época (curiosamente, muito similar ao de hoje, em certa medida), como social e político.
O suplemento “A Mosca” surge no período da chamada “Primavera Marcelista”, pelo que se reveste de um perfil mais arrojado e libertário, criticando uma sociedade num contexto de afastamento da cozinha nacional para a descoberta de novas culinárias estrangeiras – americana, francesa e espanhola - bem como captar novos ritmos de alimentação e novos espaços de restauração.
A análise dos pratos servidos na época, do nível de preparação e formação dos cozinheiros, da presença de pouca cozinha portuguesa, o excesso de francesismos, uma pequena-média burguesia que não tem cultura gastronómica “e não sabe comer”, num panorama de perda progressiva da consciência identitária nacional em matéria de alimentação são algumas das vertentes deste trabalho.