Não há como não ficar indiferente a esta história da Conservas Pinhais. Qual ondulação em alto mar, também esta empresa navegou por águas conturbadas, quase sempre ao sabor dos ventos da história. Familiar, fiel aos seus princípios, inamovível e rigorosa nos processos de fabrico, conta desde há uns meses com um “Factory Tour” onde tudo isto (e muito mais) nos é contado de forma interativa e com pormenores deliciosos.
Serão poucos aqueles que no norte do país – e até no país todo – não tenham no seu imaginário de marcas o nome desta empresa. A Conservas Pinhais nasceu a 23 de outubro de 1920 e em 2022 está ainda de portas abertas. E isso não é uma notícia menor que mereça apenas um espaço numa breve nota de rodapé. Merece destaque que se justifica na história conserveira de Matosinhos: há alguns décadas eram meia centena de empresas a operar nesta área e hoje são duas. Apenas duas. A Pinhais é uma delas e chega a este novo ano com uma frescura que merece notícia e que é refletida no Museu Vivo inaugurado há uns meses apenas. “O museu é um sonho de há muitos anos. Sabíamos que sempre que vinha cá um cliente visitar-nos, não ficava indiferente. E isso acontece porque é uma verdadeira cápsula do tempo, na qual recuamos 100 anos”, diz-nos Patrícia Sousa, coordenadora do Museu Vivo Conservas Pinhais Factory Tour. A proposta é muito simples: mostrar aos matosinhenses e a todos os portugueses a tradição e a história da Pinhais. E é precisamente isso que acontece logo desde o início. A visita arranca nos escritórios originais da conserveira – que até há muito pouco tempo eram, na verdade, os únicos e funcionais escritórios da empresa, usados diariamente. E não se pense que se trata de uma recriação para turista ver. São mesmo os escritórios originais, onde não falta a máquina de escrever Olivetti, os carimbos, as faturas dos fornecedores e todo o mobiliário de escritório da época. “Arrancamos com esta obra em 2019, com o apoio do Turismo de Portugal. É um museu-vivo que mostra aos visitantes uma fábrica a trabalhar. É uma experiência onde podemos ver todo o acervo histórico, a produção a acontecer e até empapelar uma lata de conservas. Já perto do final, no Can-Tin Café - um espaço dentro do edifício da fábrica, aberto ao público - as pessoas podem fazer uma prova de duas conservas. Fora do âmbito das visitas, o Can-Tin Café está aberto ao público e funciona normalmente, para beber um café, uma bebida ou algo mais. A visita culima na loja da Conservas Pinhais, um espaço amplo, com quase 100 m2, onde as pessoas podem adquirir conservas – da marca Pinhais e Nuri - e outros produtos relacionados, como artigos de colecionador, merchandising e lembranças.
Um cliente austríaco que comprou a Pinhais
Numa centena de anos, já muitos foram os desafios que a Pinhais enfrentou. Para recuarmos até ao mais recente basta-nos ir até 2016. Uma dificuldade financeira séria que foi resolvida através de um cliente que trabalha com a conserveira desde 1935. “Tivemos a felicidade de sermos adquiridos por um cliente austríaco que nos comprava há décadas a nossa marca de exportação, a Nuri. Ele disse-nos: ‘não, esta empresa não pode fechar’. E comprou 97% do capital. Tomou a decisão associada a uma única exigência: não podemos mudar absolutamente nada”, conta-nos Patrícia. E é isso que tem acontecido pelo que a pergunta sobre inovação deixa de ser assim tão relevante numa reportagem a uma fábrica. Ainda assim, fazemo-la. E a resposta vem sobre a forma dos critérios de certificação, de higiene e de segurança alimentar. São esses os processos de inovação já que o método de fabrico se mantém intocado ao longo destas décadas. “A nossa inovação passa por esses aspetos e também por momentos históricos como o que aconteceu a 27 de outubro de 2021, dia em que inauguramos o museu-vivo. Esta recusa de mudança nem sempre foi fácil de manter. António Pinhal Júnior, da segunda geração dos fundadores, trabalhou na empresa até aos 90 anos de idade, e foi crucial em alguns desses momentos de possível e até sedutora mudança. A decisão dele foi uma apenas: não industrializar. E assim se manteve a única conserveira cuja produção é integralmente feita pelo método tradicional. Com resiliência, essencial para superar os obstáculos que têm surgido ao longo do tempo, como quando terminou a II Guerra Mundial e as preferências dos consumidores mudaram.
Conservas Pinhais
Avenida Menéres, 700
4450-189 Matosinhos
W. www.conservaspinhais.com
E. comercial@pinhais.pt