Carta aberta assinada por nomes grandes da região lança apelo.
Um grupo de 26 dos grandes nomes da Região Demarcada do Douro lançou uma carta aberta intitulada ‘O Douro Merece Melhor’, na qual "alertam para a inação das instituições competentes no que toca às urgentes reformas necessárias para o quadro regulamentar que rege a produção de vinhos no Douro, praticamente inalterada há quase 100 anos". Na sua perspetiva, "o Douro enfrenta grandes desafios que põem seriamente em causa a sua sustentabilidade económica se nada for feito", afetando os "mais de 19.000 viticultores e 1.000 empresas", da região.
Estes alertam para a "descida de quase 25% no volume de vendas de Vinho do Porto, para 7,8 milhões de caixas de 9 litros" nos últimos 20 anos. "No mesmo período, as vendas dos vinhos DOC Douro cresceram significativamente para 5,2 milhões de caixas".
Apesar destas mudanças profundas, notam, "o quadro regulamentar não teve qualquer alteração, permanecendo, na sua essência, imutável há quase 100 anos. O sistema atual está a promover distorções devastadoras que estão a impactar não só no preço das uvas, mas também na sustentabilidade socioeconómica dos viticultores, das empresas, e no futuro dos seus vinhos nos mercados internacionais".
Assim, prossegue a missiva, "o sistema de ‘benefício’ – introduzido nos anos 1930 – estabelece a quantidade de uvas destinadas à produção de Vinho do Porto. Este limite é ajustado anualmente, dependendo de um conjunto de fatores, nomeadamente a qualidade e os níveis de oferta e de procura. Um sistema semelhante é praticado nas mais importantes regiões vitivinícolas europeias. Contudo, as uvas para vinho DOC Douro são comercializadas no mercado livre e, regra geral, num ambiente de excesso de oferta".Assim, "muitas uvas são vendidas abaixo do seu custo de produção. O prejuízo para os viticultores é óbvio, resultando no abandono da vinha e no despovoamento da região. Uma situação agravada pelas alterações climáticas que estão a impactar seriamente a nossa região".
"Igualmente grave", consideram, "é o facto de demasiados vinhos estarem à venda internacionalmente com preços comparáveis aos mais baratos do mundo – algo que nunca seria possível se os viticultores recebessem um preço justo pelas suas uvas. Estamos a passar a mensagem que o Douro produz vinhos baratos, quando nada poderia estar mais longe da verdade. O nosso custo de produção, por kg, situa-se entre os mais elevados do mundo, e o rendimento por hectare é entre os mais baixos – por causa das características únicas da vinha de montanha no Douro", assinalam.
O apelo, geral, é feito "aos produtores, aos viticultores, aos comerciantes e respetivas Associações, ao Ministério da Agricultura, à CIM do Douro, e ao Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, para enfrentarem esta situação com urgência", concluem.
Os signatários da carta são: António Filipe, António Saraiva, Christian Seely, Cristiano van Zeller, Dirk Niepoort, Emídio Gomes, Fernando da Cunha Guedes, Francisco Spratley Ferreira, Francisco Javier Olazabal, Rebelo Valente, João Álvares Ribeiro, João Nicolau de Almeida, João Rebelo, John Graham, Jorge Dias, Jorge Moreira, Jorge Rosas, Jorge Serôdio Borges, Luís Sottomayor, Luísa Amorim, Mário Artur Lopes, Olga Martins, Óscar Quevedo, Paul Symington, Pedro Braga, Sandra Tavares e Sophia Bergqvist.