Esporão apresenta o azeite novo

Fotografia: Fotos D.R.
Luís Alves

Luís Alves

A campanha de 2022 decorre até meados de dezembro num ano que não foi especialmente fácil. Mas o azeite aí está, mais uma vez, num projeto que o Esporão começou em 1997. O azeite novo foi apresentado no reabilitado Mercado do Bolhão, onde também se apresentaram novidades de vinagres.

 

Depois das campanhas de quase todas as frutas, chega a altura da azeitona. Também ela uma fruta, não terá na campanha de 2022 um ano de grande memória. As chuvas fracas, em algumas regiões quase inexistentes, o calor prolongado em sucessivas vagas e também, antes de tudo isso, a falta de horas de frio no período do inverno, são motivos de sobra para justificar as quebras acentuadas na produção – da azeitona como das uvas e, regra geral, de quase toda a produção agrícola.


O Esporão, além de ser um produtor de referência na área do vinho, em várias regiões, é também produtor de azeitona desde 1997. O desafio, aliás, veio do outro lado do Atlântico quando a Qualimpor, empresa do grupo, lançou o repto por ter percebido um défice de mercado no Brasil. Daí à compra de um moderno lagar em Serpa, no Alentejo, foi um pequeno passo. E a história foi-se escrevendo. O azeite de qualidade que o grupo quis criar tornou-se uma realidade, através de produtores locais que vendem a azeitona. O “azeite fresco” chegou aos consumidores e o pioneirismo que o Esporão gosta de imprimir nos seus percursos também existiu. Foi a primeira empresa a engarrafar azeite num garrafa escura e também das primeiras a explorar os monovarietais. Neste último caso, com duas variedades específicas, a Galega e a Cordovil.


A garrafa, que inovou por ter vidro escuro, foi criada de raiz a pensar no local onde os oleólogos do Esporão acham que ela deve repousar. “Não queríamos que os consumidores a colocassem no lugar clássico e, para nós, errado: junto ao fogão. Não queremos que o produto se degrade e por isso a garrafa que desenvolvemos tem a altura ideal para caber no armário, onde achamos que o azeite fica mais protegido”, explica Ana Carrilho, oleóloga do Esporão que acrescenta um detalhe. “Tudo foi pensado ao pormenor, incluindo o facto de ser uma garrafa serigrafada que, depois de devidamente limpa, fica impecável”.


A colheita deste ano começou a 10 de outubro e tem sido cada vez mais cedo, ano após ano. “Para conseguirmos obter azeites equilibrados, somos obrigados a começar cedo porque a azeitona também amadurece de forma mais temporã”, refere Carrilho. Algo que há umas décadas era impensável, quando as campanhas começavam, tradicionalmente, no feriado de 1 de novembro.
O azeite no Esporão é extraído a “frio”, ou seja abaixo dos 27ºC, para evitar que os compostos mais voláteis se dissipem. “Foi fácil convencer o grupo que precisávamos de equipamento para trabalhar nestas condições. É uma empresa de vinho, habituada a estes controlos de temperatura”, refere Ana Carrilho.


Neste ano, esperam-se azeites de qualidade mas não deixará de ser uma campanha muito difícil para as variedades portuguesas, com quebras que podem ter chegado aos 70%. Isto num universo de cinco mil hectares de produtores que vendem a sua azeitona para o Esporão. A Herdade da família Roquette tem de produção própria cerca de uma centena de hectares.

O azeite novo

100% Galega
Da produção acabada de sair, o Esporão apresenta três referências distintas. A primeira, um monovarietal Galega, apresenta notas de maçã, sempre acompanhadas por um travo vegetal vivo. Espesso, amanteigado, tem boa capacidade de “envelhecimento”, podendo estar em garrafa por muito tempo.

Olival dos Arrifes
Do arrife, como sinónimo de pedra, vem o azeite de solos que se antecipam muito difíceis, quase a fazer lembrar Trás-os-Montes. Intenso, sobretudo produzido a partir da variedade Cobrançosa (85%), é um verdadeiro “azeite de terroir”. Relva cortada, alcachofra, amargor e picante e até doce são notas que podemos encontrar neste azeite.

Azeite Seleção
Também produzido em quantidade significativa com Cobrançosa (50%) – para além de Azeiteira e Picoal – o Azeite Seleção é mais amargo, picante e, simultaneamente, aveludado.

Da transformação de qualquer fruta sobram sempre sub-produtos e a azeitona não é exceção. O Esporão tem algumas soluções que podem ser interessantes de serem replicadas. As folhas e até pequenos ramos que chegam ao lagar são compostados de forma orgânica, processo ao qual se junta naturalmente o engaço. A água que lava a azeitona volta novamente a ser utilizada, depois de devidamente depurada. O caroço serve como combustível e o bagaço tem sido usado como reboco das paredes nos edificados da Herdade do Esporão.

A campanha termina por volta de meados de dezembro.


Os vinagres também têm lugar

Se o azeite já é um produto conhecido do grupo Esporão, os vinagres nem tanto. O grupo está apostado em mudar isso através de vinagres “que são pensados para serem vinagres”. A marca aproveitou a apresentação do azeite novo para mostrar três vinagres, distintos, que poderão chegar ao mercado. Um vinagre de vinho tinto, mais clássico, um de cerveja – da Sovina, marca do grupo – e ainda um vinagre de mosto de uva.