Europeus bebem mais vinho e recorrem à garrafeira pessoal

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Marc Barros

Marc Barros

O consumo de vinho na Europa aumentou durante o período de confinamento, mas verificaram-se algumas mudanças assinaláveis nas tipologias de consumo, cuja durabilidade ainda está por consolidar.

 

Segundo um estudo da European Association of Wine Economists (EuAWE) e da Cátedra Wine and Spirits do INSEEC U. (Universidade de Bordéus), para determinar como crise da Covid-19 afeta o comportamento dos consumidores europeus de vinho, que abrangeu oito países (Espanha, Bélgica, Itália, França, Áustria, Alemanha, Portugal e Suíça), conclui-se que os portugueses, tal como os restantes europeus, gastaram menos em bebidas alcoólicas em geral, especialmente em bebidas espirituosas. Por sua vez, o preço médio de compra do vinho diminuiu significativamente.

Os supermercados continuam a ser o principal canal de distribuição. Porém, dois outros canais ganharam terreno, nomeadamente o online e o chamado auto abastecimento (ou seja, o recurso à garrafeira pessoal). Com efeito, no que toca ao online, mais de 80% dos inquiridos continua a não utilizar este canal, mas 8,3% dos italianos, 6,6% dos espanhóis, 5,2% dos portugueses e 4,6% dos franceses compraram vinho pela primeira vez via Internet. Por seu lado, as garrafeiras pessoais tornaram-se a segunda fonte mais importante de abastecimento, a seguir aos supermercados.

Ainda em relação ao fenómeno do consumo online, a explosão do fenómeno das “provas/degustações digitais” é relevante entre os mais jovens, especialmente entre os estudantes e jovens e adultos na faixa etária entre os 30 e os 50 anos, nas zonas urbanas e com rendimentos confortáveis. “Não ter filhos ou crianças no agregado familiar foi também um fator de aumento da frequência do consumo de álcool”, assinala o documento.

Em todos os países, a frequência do consumo de vinho aumentou acentuadamente com o confinamento, ao passo que diminuiu para a cerveja e, ainda mais, para as bebidas espirituosas, refere o mesmo estudo.

Por último, o facto de ter recebido informações e ofertas de produtores ou de estabelecimentos comerciais está associado a um aumento significativo do consumo. Tal pode estar relacionado com compras entregues pelos produtores/comércio, o que “significa uma estratégia de comercialização bem-sucedida por parte desses agentes económicos”, conclui o estudo.


Mudanças a caminho?

Esta análise aborda ainda várias tendências que poderão sair reforçadas com o período de confinamento. Desde logo, a opção por compra vinho local e o recurso a circuitos curtos na indústria alimentar. “As compras locais podem ser um terreno no mundo pós-crise”, lê-se no documento, o que implica, para os produtores, “reaprender a forma de seduzir e acolher os compradores locais, mas também antecipar mercados de exportação de menor dimensão”. 

E o que se antecipa quanto à realização de provas online? Três quartos dos inquiridos adiantam que deixarão de organizar em provas online após o confinamento; mas 25% ponderam continuar. Irão os mais jovens cimentar esta prática no futuro? Questões para debate entre os especialistas de marketing, vendas e serviços do vinho. 

E o que farão todos aqueles que recorreram à sua adega em tempos de crise? Espera-se a reposição das existências e a retoma nas compras de vinhos mais caros e de guarda nas próximas semanas e meses.