Longa vida ao crustáceo!

Fotografia: Fotos D.R.
Marc Barros

Marc Barros

A celebrar 120 anos, a fundação da marca Lagosta confunde-se com a própria demarcação dos Vinhos Verdes, em 1908.

 

1.Lagosta - Designação comum, extensiva a diferentes crustáceos decápodes encontrados nos fundos rochosos marítimos, de corpo alongado, carapaça espessa, antenas fortes mas sem pinças e carne comestível (Dicionário infopédia da Língua Portuguesa).
2. Lagosta – A marca mais antiga de Vinho Verde com registo ativo, contando 120 anos de história.

É obra para uma marca de vinho atingir 120 anos de idade, chegando a confundir-se com a própria demarcação da região dos Vinhos Verdes, em 1908. Criada pela sociedade Menéres & Cia. em 1902, a evolução da marca e a sua titularidade davam um livro por si só. A referida sociedade, criada pelo empresário Clemente Joaquim da Fonseca Guimarães Menéres (1843-1916), é extinta em 1905, dando lugar à Companhia Vinícola do Porto. Três anos mais tarde, devido a um litígio com a Companhia Vinícola do Norte de Portugal - Porto (antecessora da Real Companhia dos Vinhos do Porto, a ex-majestática Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, mais tarde Real Companhia Velha), a firma passou a designar-se Companhia Vinícola Portuguesa (também conhecida como “Real Companhia Vinícola Portuguesa”). Confuso? Ainda nem a meio vamos... Esta Companhia Vinícola faliu em 1930, já depois da morte dos filhos de Clemente Menéres, Alfredo da Fonseca Menéres, em 1917, e do irmão Agostinho da Fonseca Menéres em 1926.
Foi um pouco sobre esta história, as dúvidas existentes mas também as certezas, que Nuno Santos, CEO da Enoport Wines, discorreu durante um almoço comemorativo da efeméride, que teve lugar, precisamente, na Casa do Vinho Verde, no Porto.
A marca Lagosta passou a integrar o portefólio da Real Companhia Velha, depois de esta ser adquirida, em 1960, por Manuel Silva Reis e de este ter comprado o que restou da sociedade fundada por Clemente Menéres (que inlcuía a marca Lagosta). As duas continuaram a funcionar em paralelo, integradas num ACE (Agrupamento Complementar de Empresas). Mais tarde, já em 2000, a marca foi vendida às Caves D. Teodósio, que estiveram na origem da Enoport Wines em 2005, que absorveu ainda o portefólio das Caves Velhas, comprada à Central de Cervejas, incluindo a Adega Camillo Alves e a aguardente Fim de Século.
Segundo Nuno Santos, “foi graças ao Lagosta e a algumas das marcas mais antigas que se criou a pressão administrativa para se fazer a denominação de origem” da região dos Vinhos Verdes.
A marca Lagosta responde por 1,25 milhões de garrafas, das quais 300.000 referentes ao Lagosta Ice, referência mais recente, para ser bebida fresca ou com gelo e que, graças aos seus 50 gramas de açúcar, presta-se, por exemplo, à mixologia, ou a acompanhar sobremesas doces.
Para celebrar a data, foi feito um lançamento especial de 120.000 garrafas de Lagosta, as quais fazem a ligação às regiões norte, centro, sul e ilhas, através de rótulos específicos mas disseminados de igual forma pelo mercado nacional, representando 40.000 garrafas cada. Estas ostentam um QR Code que remete para um passatempo, já a decorrer e que durará enquanto esta edição estiver no mercado, oferecendo 120 fins de semana, com duas noites, para duas pessoas.

E que tal um Vinho Verde com 7,5% de álcool?

O grupo Enoport, com faturação global de 23,5 milhões de euros anuais, reúne hoje um portefólio de 49 marcas em operação, das cerca de 100 marcas ativas que o grupo detém e que chegaram a ser 140 em 2015.
Com propriedades e operação no Tejo, Dão e Lisboa (Bucelas), a Enoport detém, nos Vinhos Verdes, a Quinta de Amarante. Esta é atualmente a única propriedade da empresa na região, depois de alienado o centro de vinificação que detinha em Penafiel, num processo de centralização industrial que obrigou a duras negociações com a autarquia amarantina, envolvendo até a promessa de criar um vinho que seja comercializado a 50€… Cá estaremos para cobrar!
Em Amarante, a empresa possui 18 ha., dos quais 16 de vinhas e um importante centro de vinificação, que processa anualmente três milhões de kgs. oriundos de mais de 2000 produtores, dos 7,5 milhões de kgs. que o grupo trabalha anualmente.
Na sua estratégia, a Enoport definiu ainda a simplificação do portefólio de marcas, que passa pela segmentação em 10 marcas estratégicas. Destas, três, que representam um volume de negócios de 10 milhões de euros, são as chamadas marcas foco e incluem, para além do Lagosta, as marcas Faisão (Mesa) e Cabeça de Toiro (Tejo). As restantes sete, ditas marcas prioritárias, são Caves Velhas, Casaleiro, Quinta de S. João Baptista, Quinta do Boição, a aguardente Fim de Século, Quinta de Amarante (que deverá entrar no mercado dentro de dois anos) e Quinta dos Beirões (que reúne o conjunto das sete propriedades da empresa no Dão e deverá entrar no mercado dentro de dois anos).
O futuro a médio e longo prazo trará novidades para a marca Lagosta. Até 2025, pretende duplicar vendas e chegar ao top 10 dos Vinhos Verdes mais vendidos e, em 2030, ao top 5, com quatro milhões de garrafas vendidas.
Tratando-se de uma marca de volume, com um preço de referência de venda ao público de 3,99€ (e preço médio para o produtor de 2,03€), haverá espaço para a oferta de monovarietais das castas que compõem os lotes Lagosta, a saber: Loureiro, Avesso e Azal, mas também  Alvarinho, Espadeiro, Padeiro e Vinhão, bem como dois espumantes Lagosta, com diferentes teores de açúcar mas ambos da categoria bruto. Para finalizar, um Lagosta Low Cal, com 7,5% de álcool. Nesse sentido, Nuno Santos pretende desafiar a CVRVV a reduzir o TAV (título alcoométrico volúmico) de 8,5% para 7,5% para que um vinho possa ser considerado Vinho Verde, no sentido de acompanhar as tendências de mercado. E quer “transformar a marca Lagosta num desafio para o consumidor”. De desafio em desafio, conquistam-se mais 120 anos…