O futuro do setor vitivinícola

Rótulos eletrónicos e algoritmos predicativos

Fotografia: Fotos D.R.
Redação

Redação

A GS1 Portugal, organização sem fins lucrativos que atua na melhoria da eficiência de diferentes setores, entre eles o vinícola, promoveu um evento híbrido subordinado ao tema “Setor vitivinícola: Legislação, Digitalização e Rastreabilidade”.


A sessão arrancou com a intervenção da Diretora Executiva da Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal (ACIBEV), Ana Isabel Alves, que falou sobre o Contributo do setor vinícola para a sustentabilidade. Depois de um enquadramento no que diz respeito ao setor e ao seu peso no mercado nacional, sendo Portugal o 5.º país da União Europeia com maior produção de vinho, Ana Isabel Alves focou-se no projeto de rótulos eletrónicos que está a ser desenvolvido pela ACIBEV.

Depois da informação nutricional e lista de ingredientes passar a ser obrigatória nos produtos do setor vitivinícola, as empresas passaram a ter a opção de indicar essa informação no rótulo, criar o seu próprio sistema de rótulos eletrónicos ou juntarem-se a um sistema coletivo de rótulos eletrónicos – ULabel. “A ULabel representa uma mais-valia pela partilha de custos no desenvolvimento dos rótulos, pela capacidade de negociação com bancos de dados existentes e pela definição de um rótulo eletrónico que funcione para empresas e consumidores”, explicou Ana Isabel Alves. Os objetivos da utilização de rótulos eletrónicos prendem-se com o “impulsionar a transparência e a qualidade das informações digitais transmitidas ao consumidor sobre os produtos, de forma clara, relevante e precisa no seu próprio idioma”, concluiu.

Já na intervenção de Ana Sofia Costa, Especialista de Estudos Setoriais da Informa DB, falou-se dos principais Indicadores do setor vitivinícola, traçando o perfil deste mercado em Portugal. Entre outros dados relevantes partilhados, destaque para o facto de ser um setor com menos empresas jovens e com várias empresas centenárias, das quais 8 são familiares. “Este setor distingue-se pela sua resiliência, sendo que 73% das empresas tem risco mínimo ou reduzido, mesmo com o impacto da pandemia”, concluiu.

Seguiu-se Rodrigo Magalhães Basto, E-Commerce Business Manager da SONAE MC, para falar sobre Digitalização e Inovação no caso do site do Continente. Na sua intervenção, Rodrigo Magalhães Basto destacou a importância que as entregas rápidas assumiram no mercado, pela cada vez maior necessidade do consumidor ter o produto que pretende na hora.

O responsável da SONAE MC falou ainda sobre o novo site do Continente lançado em plena pandemia e sobre “a necessidade de continuar a melhorar a operação e torná-la mais eficiente, lado a lado com aquilo que os clientes procuram”. No caso específico dos vinhos, o E-commerce Business Manager realçou a importância de disponibilizar conteúdo adicional que atraia o cliente para a compra deste tipo de produtos online. “Em que copo deve ser servido ou qual a comida que devo acompanhar são algumas das informações que enriquecem a descrição do produto online”, explicou. Rodrigo Magalhães Basto referiu ainda a importância da relação próxima que têm vindo a desenvolver com a GS1 Portugal, em particular através da plataforma SyncPT, “como uma forma ágil de centralizar informação, numa integração automática e com informação de qualidade”.

Já Isabel Freitas, Analyst Developer da Symington, partilhou o caso prático da implementação dos standards GS1 na rastreabilidade dos produtos da empresa. Numa explicação detalhada sobre a codificação utilizada pela Symington, Isabel Freitas destacou a importância do uso destas ferramentas para “corresponder às necessidades de um consumidor mais exigente e consciente das suas escolhas”.

Ainda durante a sessão, Raquel Abrantes e Nuno Azevedo da GS1 Portugal falaram do contributo da organização para a eficiência da cadeia de valor através de ferramentas e soluções que permitem “identificar, capturar e partilhar dados do produto com o consumidor final”. Exemplo disso é o serviço Validata, que garante a qualidade da informação que é disponibilizada ao cliente, através da recolha de dados logísticos e captura de imagens, da criação do gémeo digital dos produtos e da partilha desses dados na SyncPT. Esta plataforma trata-se de uma base de dados global, atualizada ao minuto, já utilizada por mais de 2800 empresas.

O evento digital promovido pela GS1 Portugal culminou com um debate sobre os Pilares da Cadeia de Abastecimento do Setor Vitivinícola. Numa conversa moderada por Raquel Abrantes da GS1 Portugal, produtores e retalhistas apresentaram os seus pontos de vista, tendo como principal destaque a necessidade de colaboração e transparência como mais-valias para uma cadeia de abastecimento mais eficiente e segura.

Diogo Reis, CEO da Companhia Agrícola Sanguinhal, destacou as ferramentas GS1 como “fundamentais para dar credibilidade a qualquer negócio que queira ter sucesso no online”. Diogo Reis destacou ainda que o maior desafio neste momento é “garantir stocks e prazos de entrega”, pelos custos que implicam para as empresas.

Já Carlos Fernandes, Diretor de Sistema Gestão Integrada do Grupo Gran Cruz, assegura que “a palavra-chave é adaptação”. O representante do maior produtor de vinho do porto a nível mundial realçou também a importância de “criar novos produtos e novas formas de consumo para chegar a um público mais jovem, aumentando a proximidade e fortalecendo a relação com o cliente”.

Por seu lado, Rodolfo Gomes, Responsável de Logística da Sogrape Vinhos, defende que “os processos colaborativos são a chave do sucesso para garantir uma cadeia de valor mais eficiente e uma melhor qualidade de serviço”. No que respeita ao impacto da pandemia no setor, Rodolfo Gomes explica que “há uma exigência de rapidez cada vez maior por parte do consumidor final, que se reflete numa cada vez maior dificuldade para os fornecedores em disponibilizarem produtos nesse curto espaço de tempo”.

No caso da Sonae MC, representada no debate por Rodrigo Magalhães Basto, a pandemia fez com que a insígnia passasse de 15 para 26 as lojas de preparação de encomendas. “Depois do caos, agora é preciso perceber quais são as reais necessidades dos consumidores. O próximo desafio é garantir matérias-primas e tentar perceber qual o impacto para o próximo ano”, afirmou. Rodrigo Magalhães Basto explicou ainda que o futuro passa pela implementação de “algoritmos predicativos” como forma de “conseguir antecipar o que o cliente quer e entregar-lho antes mesmo de ele o decidir”.