Vinho do Porto celebrado em clima de preocupação

Os brindes aconteceram na mesma mas a preocupação tomou grande parte do Dia Internacional do Vinho do Porto.

Fotografia: Fotos D.R.

Os brindes aconteceram na mesma mas a preocupação tomou grande parte do Dia Internacional do Vinho do Porto. Em São João da Pesqueira, a região esteve representada numa tertúlia por quase todas as instituições e associações, e foram vários os temas e soluções apresentadas para contornar os obstáculos do Douro. Inclusivamente o arranque controlado de videiras para seguir o caminho da “contenção da oferta”.

 

Texto Luís Alves

Celebrado duas vezes por ano, pelo menos desde 2012, o Vinho do Porto é oficialmente celebrado nos dias 27 de janeiro e 10 de setembro. O primeiro, numa iniciativa criada pelo Center for Wine Origins, instituição americana da qual o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto faz parte.


O município de São João da Pesqueira decidiu assinalar o Dia Internacional do Vinho do Porto no Museu do Vinho do município, onde se juntaram convidados de vários áreas, da produção ao comércio passando por instituições e associações.
O jantar/tertúlia, moderado pelo reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Emídio Gomes, ficou marcado pela grande preocupação sobre o futuro da região do Douro.


“Temos de ser capazes de vingar e honrar a nossa história”, começou por dizer o presidente da autarquia Manuel Cordeiro que considera “essencial haver investimento no território para manter a vida por aqui, com a tutela a ter de fazer também a sua parte”.

Numa mesa onde estiveram quase todas as associações e instituições representativas, Emídio Gomes sublinhou o facto de ver “os viticultores no limite”. “Terá de haver um reajustamento. E isso pode acontecer de forma mais controlada ou de forma menos controlada. Mas vai acontecer. Se for mais descontrolada pode deixar um lastro maior”, antevê o reitor da UTAD que acredita que mais “duas vindimas iguais e metade dos viticultores desaparece”.

Na mesma linha, Rui Paredes, Presidente da Federação Renovação do Douro, acredita que a região “depende das gentes” e que estas têm sido “atraídas para os grandes centros urbanos num verdadeiro êxodo”.

António Filipe, Presidente da Direção da Associação de Empresas de Vinho do Porto e COO da Symington Family Estates, acredita mesmo que o caminho do arranque de videiras é difícil de evitar. “Temos de ser corajosos e temos de o ser com urgência. A próxima vindima está aí. Temos de agir”, começou por dizer no jantar/tertúlia para depois concretizar. “Sei que é um tema tabu no Douro. Mas temos de seguir o caminho da contenção na oferta. E isso pode passar pelo arranque controlado de videiras para pessoas que não querem continuar a produzir, com os devidos apoios como se faz noutras regiões do mundo”, acredita o gestor.

O dia 27 de janeiro foi precisamente o dia em que se conheceram os últimos números do setor. A comercialização de vinhos do Douro e do Porto rondou os 615 milhões de euros em 2023, caindo cerca de 10 milhões quando comparado com 2022. As exportações também sofreram uma queda de cerca de 4,7%.