A árvore, a floresta e a dimensão de pensamento

O que vê um velho do Restelo quando olha para uma floresta? Apenas a árvore. Portugal ser o centro de atenção do "The Wine Show", a mais famosa série televisiva dedicada ao vinho, com audiência e impacto mundiais num tempo como o que estamos a viver, é dispor de uma campanha de promoção brutal à escala do mundo. Independentemente de se poder ou não viajar, a série contribuirá para manter Portugal no imaginário e na lista de destinos de quem gosta de viajar, dos entusiastas do vinho e da gastronomia, dos apreciadores de cultura, património e natureza, dos que não resistem ao apelo do mar ou à tranquilidade de uma planície, dos que já planeiam uma próxima escapadela. Simultaneamente, contribuirá para afirmar os vinhos portugueses, fazendo com que muitos consumidores os coloquem na lista de compras. 


Pouco importará ao telespectador não saber que castas foram usadas na elaboração de cada um dos vinhos, mais importante é ficar a saber que Portugal tem um património de castas inigualável. Também não acredito que esteja preocupado com a proporcionalidade de nacionalidades dos produtores, pois todos são Portugal. Ficarão os espetadores desapontados por não verem sequências de vinhas e adegas? Não me parece, pois não foi isso que conquistou cada um dos 86 milhões de espetadores que seguiram a segunda temporada e que se esperam atingir com esta nova temporada. 

O que cada espetador procura na série é evasão, conhecer de forma lúdica, criar memórias, descobrir novos destinos e vinhos. Ora, nisto, a série é exemplar. Quem esquecerá James Purefoy,  o protagonista de Marco António em "Roma", emocionado ao beber um vinho num montado alentejano? Ou, Dominic West, o galã do "The Affair", tingido de vinho num lagar no Douro? Ou ainda Mathew Goode, protagonista no "The Crown" ou "Downton Abbey", descontraído numa tarde de verão a provar um branco da região dos Vinhos Verdes depois de cumprir uma promessa? Quem não quererá experimentar um vinho da Bairrada depois de ver a dupla Goode/Purefoy na cozinha a esmagar dentes de alho e a brindar num moliceiro com espumante da Bairrada? Quem não verá o Vinho do Porto de forma mais leve, após o ver num piquenique ou de imaginar a sua história enquanto esta mesma dupla valsa numa sala da Feitoria Inglesa?

Esta foi a floresta que a Revista de Vinhos e demais parceiros viram no "The Wine Show".

Num outro capítulo, retomo "Os Melhores do Ano". Perante a impossibilidade de promovermos o jantar e entrega de prémios no jantar de gala que reúne cerca de um milhar de convidados decidimos transpor para o digital o sublinhar de projetos e protagonistas. O impacto foi muito mais longe que o inicialmente previsto. Para além da adrenalina e motivação extra sentida pela equipa, o gosto de ver o trabalho recompensado e o mérito reconhecido com um retorno que consideramos excelente, expresso nas 218.000 visualizações da cerimónia nas redes sociais da Revista de Vinhos, nos 60 minutos de rádio e televisão e nas dezenas de notícias difundidas em meios de comunicação em Portugal e no Brasil. Nos últimos quatro anos transformamos “Os Melhores do Ano”, cumprida a 24ª edição, numa cerimónia com a contemporaneidade e o impacto que o setor merece.

Mesmo perante um ano virado do avesso pela incerteza e limitações, inovamos e crescemos, mostramos dinamismo, resiliência e muita criatividade. E novos projetos em breve serão anunciados.

Sim, gostamos de ver a floresta quando alguns apenas vislumbram a árvore. E, mais importante ainda, não nos tentamos a ficar perdidos na floresta.

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