Tic-Tac, Tic-Tac. Chegou a hora do Tiktok?

Independentemente da missão e do setor de atividade, qualquer empresa, entidade ou instituição quer aumentar quota de mercado e afirmar uma posição tão global quanto possível. Hoje, as oportunidades são tão grandes quanto os desafios, sobretudo quando tanto se fala na necessidade de renovar públicos. Se o objetivo é o mesmo, a estratégia difere. Os mais conservadores apostam em atos administrativos e regulamentares para a criação de um contexto favorável. Geralmente são certeiros, mas se houver uma espécie de inércia de inovação na promoção ou no marketing os crescimentos ficam aquém do previsto. Os mais disruptivos vão além das necessárias reformas, incentivando, em todas as áreas, a inovação. É assim que se alcança o virar de página, é assim que se abrem novos capítulos na história.


Com base no que acompanho pelo mundo do vinho – habitualmente passo mais de um terço do ano em mercados de três continentes –  e no que assisto noutras áreas por gosto pessoal e pela reflexão que motivam, esta pandemia revelou-se profícua para o lançamento de novas campanhas. Uma das mais surpreendentes chegou do Gallerie degli Uffizi, um museu que abriu ao público em 1769, emblemático em Florença e no mundo, dos mais procurados e visitados, com uma extraordinária coleção de pintura e escultura, onde pontuam nomes como os de Giotto, Boticelli, Rafael, Da Vinci, Michelangelo, Caravaggio, Rubens, Dürer, Goya, entre outros. No mundo digital, a pegada só se fez sentir em 2015, de forma contida, com a criação de um site seguindo-se, em 2016, uma conta no Twitter. Até março, altura em que foi obrigado a fechar portas, nada mais fez. Aí avançou para o Facebook e inesperadamente apostou no TikTok. Hoje, tem quase 6.000 seguidores no Facebook aos quais contrapõe os cerca de 27.000 no TikTok. Como é que um museu com dois séculos e meio e uma coleção que pouco ou nada diz à maioria dos utilizadores do TikTok, num espaço de meses conquista uma audiência significativa junto de uma faixa etária tão jovem? Sem receio. Aqui, o Uffizi adotou a linguagem que tornou a rede num sucesso de entretenimento e numa nova plataforma para as marcas. Com um sentido de humor de “nova geração”, pôs as personagens das obras a interagir, imitando num quase espelho, o que é feito pelos utilizadores da rede. Alguém imaginaria a Primavera, de Boticelli (1482), a seguir a letra de “Nails, Hair, Hips, Heels”, um êxito das pistas de dança, em 2019? Ou a Medusa de Caravaggio (1596-97) a transformar em pedra e a estilhaçar o cartoon de um vírus, gritando com a voz de Cardi B. “Coronavírus”?!? Ou mesmo um conjunto de esculturas renascentistas ao som de “I Like Boys”, de Todrick Hall, a animarem uma love parade? 

Uns podem considerar estas estratégia dissonante, mas eu considero-a inteligente na concretização do objetivo que já referi. Com esta aposta fora da caixa, o Uffizi atinge um público que dificilmente o procuraria, torna-se apetecível como um lugar a explorar. Ao levá-los até si, torna-os mais próximos da arte e do conhecimento, logo, mais conscientes da cultura como valor para a construção do futuro. Por último, estes conteúdos, pelo inesperado, põe-nos na expetativa da próxima publicação e desejosos de uma nova visita. 

Aplaudo a direção do museu, que soube fazer diferente e abriu caminho. Acredito que nas empresas, entidades e instituições há pessoas e equipas assim, sendo necessário dar-lhes espaço, instigar o espírito criativo, ouvi-las de forma aberta. As empresas, instituições e entidades precisam da maturidade, da sensatez e do conhecimento que pertence às gerações mais velhas, mas estes só se tornarão mais produtivos e abrangentes se incentivarem coexistência, fazendo com que o legado deixe de ter apenas valor e passe a ser, ele mesmo, criador de riqueza, em todos os sentidos da palavra. 

Para os que inauguram ou preparam etapas de gestão e num contexto que exige uma nova estratégia para trabalhar e fidelizar futuros consumidores e públicos, que comunicam e decidem de forma diametralmente diferente daquelas a que estamos habituados, não seria de fazer esta síntese de forma a criar novas situações TikTok?

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