Vem aí uma revolução nos artigos sobre vinho?

O mundo da tecnologia foi abalado no início do ano com a disponibilização do ChatGPT, ferramenta de inteligência artificial (IA) que, entre muitas outras coisas, permite redigir textos. 


Em que medida é que a IA irá afetar a educação e desenvolvimento das crianças e jovens, assim como o modo como estão a ser realizados muitos trabalhos no ensino secundário e superior – essa tem sido a principal reflexão. Porém, a revolução é global, abrangendo também o mundo do jornalismo de vinhos. Esse facto ficou demonstrado em janeiro por Simon Pavitt (COO do London Technology Club), num artigo para Jane Anson – Inside Bordeaux. Parte do artigo foi escrito pelo ChatGPT e ilustrado com uma imagem criada com IA utilizando o NightCafe. 

Inspirado nesse texto tentarei responder às seguintes questões: Afinal, a IA irá efetivamente “roubar o trabalho” aos jornalistas de vinhos? Conseguirá escrever notas de prova? Socorri-me também de ferramentas de IA, como o anteriormente falado ChatGPT, o Bing Chat e o Ghostwriter. Devo por isso cerca de 30% da criatividade e da redação deste artigo a formas de IA. A imagem que acompanha este texto foi 100% criada pela IA do Canva.

Pedido feito ao Bing (IA conversa): “Redigir uma nota de prova com classificação final do vinho Barca Velha 2011” (utilizei as opções de estilo profissional e estar a escrever para um blogue).

Resposta (retirei o primeiro parágrafo que fez o enquadramento do vinho, como foi produzido e estagiado): “O Barca Velha 2011 apresenta uma cor rubi profunda e viva, que denota a sua concentração e qualidade. O seu aroma é muito complexo e intenso, com destaque para as notas de especiarias, como a pimenta, as notas balsâmicas, como o cedro e a caixa de tabaco, os frutos vermelhos maduros, como a ameixa, e a ardósia, que revela o seu carácter mineral. A madeira está muito bem integrada, conferindo elegância e equilíbrio ao conjunto. Na boca, o vinho é poderoso e rico, mas também elegante e harmonioso. A acidez é vibrante e os taninos são firmes e maduros, dando estrutura e longevidade ao vinho. As notas de especiarias, fruta preta e balsâmicas persistem no final longo e complexo. O Barca Velha 2011 é um vinho excecional, que reflete a excelência do terroir do Douro e o saber-fazer da Casa Ferreirinha. É um vinho que pode ser apreciado desde já, mas que tem um enorme potencial de guarda, podendo evoluir positivamente por várias décadas. É um vinho que merece ser acompanhado por pratos de carne vermelha, caça ou queijos intensos, mas que também pode ser degustado por si só, como um momento de contemplação. A classificação final do vinho Barca Velha 2011 é de 97 pontos em 100, sendo um dos melhores vinhos portugueses de sempre”.

A nota de prova está muito bem redigida, mas com um tom impessoal. Falta-lhe alma e personalidade. Isso poderá também ser conseguido no futuro através da IA, mas tenho muitas dúvidas que reflicta o estilo do redator. Basta passar os olhos pelas notas de prova da Revista de Vinhos, verificar quem escreveu cada uma e confirmar que cada provador tem o seu cunho pessoal, o que não acontecerá (pelo menos num futuro próximo) com a IA.

A IA poderá até ser um amigo de quem escreve sobre vinhos e não retirar o seu trabalho. Ao analisar grandes quantidades de dados, a IA pode ajudar os escritores a identificar tendências e padrões na indústria do vinho. Isso pode ajudar o redator a encontrar os temas mais relevantes e interessantes para o seu público. Deve, contudo, sempre verificar-se a informação fornecida é verdadeira. Já apanhei algumas surpresas, como quando pedi ao ChatGPT para fazer a conversão do volume de uns milhares de garrafas para o volume em hectolitros, tendo a IA dado uma resposta completamente disparatada.

Finalmente, é fundamental que quem utiliza estas ferramentas seja transparente e informe os seus leitores de que o artigo ou parte dele foi gerado por uma IA. Só desta forma se manterá uma relação de confiança.

Concluindo, a IA está a alterar todo o mundo à nossa volta e a escrita de artigos sobre vinho não é uma exceção. A IA pode ser um instrumento útil para o redator, desde que este a saiba utilizar de um modo íntegro e crítico. Deste modo, será certamente mais um utensílio à sua disposição do que uma ameaça ao seu posto de trabalho. No meu caso, tem sido isso que tem acontecido e sem ferramentas de reconhecimento de voz, que se apoiam em sistemas de IA básicos, como a que estou a utilizar neste momento, não conseguiria ter a produtividade que tenho.

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