Entre o Douro e o Tâmega

Preguiçar

Fotografia: Jorge Matos
Luís Alves

Luís Alves

Nem sempre presente nos roteiros mais clássicos do turismo interno, a verdade é que são muitas as razões para incluir estas regiões na próxima viagem ou escapadinha. A história e o património existem e em quantidade e qualidade assinaláveis; a gastronomia está a um nível superior; a hotelaria acompanha; o vinho, esse, inserido na região dos Vinhos Verdes, parte já na transição para o Douro, está num patamar que talvez nunca tenha estado. Razões de sobra para a Revista de Vinhos lhe sugerir um roteiro (intenso) de três dias entre Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Mondim de Basto, Amarante, Baião, Marco de Canaveses e Resende.

 

DIA 1

(1) Estrada Nacional 304
Começando pela viagem até ao destino, sugerimos desde logo um percurso obrigatório. Portugal é profícuo nesse domínio. A Nacional 2, por exemplo, é das mais conhecidas e percorridas e rasga o país pelo interior. A Nacional 222 é outro exemplo. Liga o Peso da Régua ao Pinhão e tem fama mundial. Mas é da Nacional 304 que aqui falamos. A estrada que liga Vila Real a Mondim de Basto nada perde para os exemplos anteriores. Tem muitas curvas, num traçado entusiasmante e com uma paisagem única: o parque do Alvão. Os miradouros são muitos – Alto Velão ou o Torrão, por exemplo – e valem todos uma paragem por mais pequena que seja. Os trilhos pedestres são obrigatórios. Dali vislumbram-se cascatas e lagoas, como o Poço Azul, em Campanhó, ou as mais conhecidas Fisgas de Ermelo.


(2) Céu da Boca Bistrô
Chegados a Mondim de Basto, a primeira paragem gastronómica obrigatória é o Céu da Boca Bistrô, no centro histórico. E aqui merece referência não apenas a gastronomia como também a decoração. Comecemos por esta última: as referências são inúmeras e remetem quase sempre para um passado português mais ou menos distante. Publicidades de outros tempos, transportes e sobretudo música. É uma verdadeira cacofonia de referências que juntas têm um sentido e dão ao Céu da Boca Bistrô um ar único – e por falar em único, merece referência o guarda-vestidos que serve de porta de entrada!
Sobre a gastronomia, torna-se difícil eleger a especialidade. Tudo é cuidadosamente cozinhado, com produtos locais. Destacam-se, talvez os secretos e a bochecha de porco. Os anfitriões, a D. Susana e o Luís, “compõem o ramalhete”. Recebem à altura do espaço e da cozinha que apresentam.


Céu da Boca Bistrô
Travessa do Outeiro
4880-250 Mondim de Basto 
www.ceu-da-boca-bistro.negocio.site 


(3) Flag Hotel Celorico Palace
De Mondim de Basto a Celorico de Basto são cerca de 10 minutos de carro. Sugerimos um hotel contemporâneo, com todas as comodidades: o Flag Hotel Celorico Palace. Localizado no centro histórico da vila, a unidade de quatro estrelas tem um vista encantadora sobre as montanhas circundantes, nomeadamente a Senhora da Graça e o Alvão. Com piscinas interior e exterior, spa, ginásio e restaurante, é uma boa opção para repousar. A localização é também uma vantagem. Está a apenas 25 quilómetros de Guimarães e a 58 do aeroporto Francisco Sá Carneiro.


Flag Hotel Celorico Palace
R. dos Combatentes do Ultramar, 10
 4890-293 Celorico de Basto
www.flagworldhotels.com 

DIA 2

(4) Mosteiro de S. Miguel de Refojos
Ficarão impressionados os que não conhecem este mosteiro, em Cabeceiras de Basto. A sua dimensão é notável, num edificado que remonta ao século XII e que pertenceu à Ordem Beneditina. A igreja é do estilo Barroco e tem um órgão duplo nas duas laterais, sendo um deles mudo. Tem algumas características únicas, até no país, sendo uma delas o facto do mosteiro ter cúpula e zimbório. Se houver oportunidade de escolher o dia de visita ao Mosteiro, 29 de setembro é a opção. Feriado local e dia de procissão em honra de S. Miguel.
No próprio mosteiro existe ainda o Núcleo Museológico do Baixo Tâmega, aberto ao público. Vale a pena notar num pormenor de arquitetura raro: antes da sacristia, no teto, vislumbra-se um arco em granito, torcido e enviesado sobre as escadas. 

Mosteiro de S. Miguel de Refojos
Praça da República 19
4860-355 Cabeceiras de Basto

(5) Casa da Tojeira


Ainda em Cabeceiras de Basto, para quem gosta de enoturismo e de património histórico, a Casa da Tojeira merece uma visita. Propriedade do empresário Mário Sousa, esta quinta senhorial do século XVII tem uma generosa área plantada com vinhas num total de cerca de 20 ha. As castas variam entre as nacionais e algumas estrangeiras: Alvarinho, Trajadura, Loureiro, Azal, Vinhão, Amaral, Touriga Nacional, Chardonnay e Pinot Noir. “Temos o perfil tradicional, dos vinhos Verdes, jovens, leves e frescos e depois temos também o perfil mais complexo e estruturado, muito reconhecido pelos clientes nos últimos anos”, explica Luís Freitas, sócio-gerente da parte vitícola da Quinta da Tojeira, cuja enologia está entregue a Filipe Ribeiro.
Para além dos vinhos e do enoturismo, a Casa da Tojeira tem sabido aproveitar o edificado: Museu da Cozinha e Museu do Armamento são dois espaços da casa a visitar e o calendário de jantares vínicos também é motivo para estar atento.

Casa da Tojeira
4860-212 Faia CBC
Cabeceiras de Basto
www.casadatojeira.pt 


(6) Restaurante O Paço
Na hora de almoçar, em Cabeceiras de Basto, a sugestão é o restaurante O Paço. Num ambiente mais contemporâneo, com salas amplas, a gastronomia não fica por mãos alheias. O receituário mais tradicional está garantido, entre bacalhau, vitela e polvo. Não deixe de provar o arroz de grelos, servido numa pequena panela de três pernas. Se a ideia não for só almoçar, o grupo que detém o restaurante tem também umas casas de campo para repousar. Chamam-se Bosque da Harmonia e prometem um repouso tranquilo na vila de Cabeceiras de Basto.

Restaurante O Paço
Rua da Viscondessa do Peso da Régua
nº 97 4860-068 Cabeceiras de Basto
www.bosquedaharmonia.com 


(7) Quinta da Chouza
“O mais marcante desta quinta é este perfil diverso. Quem vem para o alojamento vai encontrar algo de diferente, com unidades independentes num contexto verde único, atravessado por um rio, com moinhos”. Assim descreve Paulo Oliveira, administrador e responsável da Quinta da Chouza. Esta propriedade, com 5,4 ha de área total e cerca de metade plantada com vinha, tem o modelo de negócio também ancorado entre a produção vínica e o turismo. Do primeiro, produz cerca de quatro mil garrafas por ano, para quatro referências distintas: dois blends de Alvarinho/ Trajadura e Arinto/ Trajadura e dois monocastas de Arinto e Padeiro de Basto. A marca comercial é Chão do Rio. “O objetivo é crescer, ampliar a adega para produzir um espumante pelo método tradicional e, se possível, comercializar boa parte da produção na própria quinta, junto dos hóspedes”, planeia Paulo Oliveira. A não perder, nesta propriedade, é a visita a pé pelo bosque. Por lá, encontram-se espécies de árvores interessantes, entre Carvalhos, Cedro-do-Atlas, Liquidâmbar e várias outras.

Quinta da Chouza
Travessa do Tornadouro, 146, Molares
Fermil de Basto, 4890-416 Celorico de Basto
www.quintadachouza.pt 


(8) Amarante
Antes de deixar Celorico de Basto, convirá lembrar que esta é uma terra conhecida pelas Camélias. Aliás, por aqui celebra-se a Festa Internacional das Camélias, no terceiro fim-de-semana de março.
Já por terras de Teixeira de Pascoaes e Amadeo de Souza Cardoso, em Amarante, os pretextos de visita. Deixamos alguns: as termas (reabertas em 2019), o Museu Amadeo de Souza Cardoso, o evento Universo do Vinho Verde Amarante (UVVA), o Mercado Municipal (que será muito brevemente reabilitado pelo arquiteto Souto Moura), a Casa da Calçada e, claro, a doçaria conventual. Deste último, destacam-se as Lérias, Papos de Anjo, Foguetes, Brisas do Tâmega e os S. Gonçalos. Se ainda tiver apetite, a sugestão para o jantar é o restaurante A Quelha. Uma adega regional de onde não sairá desiludido.

A Quelha
R. de Olivença
4600-758 Amarante


DIA 3

(9) Quinta do Outeiro
A pouco menos de uma hora de viagem, já em Resende, a Quinta do Outeiro é, em primeiro lugar, uma história bonita. Dois amigos ingleses, de férias em Portugal, decidiram tornar-se sócios para comprar uma quinta em ruínas, em Resende. Estávamos em 2006 e a propriedade estava abandona há quase 20 anos. Hoje, ninguém consegue imaginar o que os dois amigos e sócios ingleses viram em ruínas. O espaço está reabilitado ao detalhe e dedicado ao turismo e à produção vitícola. A casa principal, do século XVII, tem cinco suites. Dispersas pela propriedade estão mais três generosas casas, ideais para famílias ou grupos de amigos. Em breve, vai abrir um restaurante ao público.
Quanto aos vinhos, a responsabilidade está sob a alçada de Miguel Monteiro, enólogo e responsável de viticultura. “Neste domínio, o projeto assenta na marca Rocaille. Queremos chegar a uma produção média anual de 30 mil garrafas, com cinco a seis referências no mercado”, refere o enólogo que destaca o ponto diferenciador do Rocaille. “Quisemos plantar algumas castas internacionais. Temos Chardonnay, Syrah e Cabernet Sauvignon. Mas não esquecemos, naturalmente, as castas da região que estão bem representadas neste projeto”, refere Miguel Monteiro.

Quinta do Outeiro
4660-011 Anreade, Resende
https://www.outeirorocaille.com/

 

(10) Pensão Borges
Seguimos para o almoço, já em Baião, num local que também é alojamento. A Pensão Borges tem longa história e o restaurante, à entrada, de frente para a rua, é conhecido de muitos. Mais uma vez, a traça rústica é um imperativo, com uns toques de luxo antigo, bem preservado. Das três grandes especialidades, é obrigatório provar pelo menos uma: Anho assado em forno a lenha, Cozido à Portuguesa ou Vitela assada. A hospitalidade, essa, está garantida na região em geral e neste espaço em particular. Para além do restaurante, a Pensão tem 14 quartos com todas as comodidades e vistas para a serra.

Restaurante da Pensão Borges
Rua de Camões, 304
4640-147 Baião
www.residencialborges.com

 

(11) Mosteiro de Santo André de Ancede
Remonta a 1120 e como muitos edifícios desta categoria, já teve várias vidas. A primeira foi, naturalmente, religiosa mas depois da extinção das Ordens, teve usos variados: de loja a escola, passando até por uma serração. Desde 1985, o Município de Baião é o proprietário e devolveu-o à cidade com uma reabilitação desenhada pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira. A reabertura não podia ter acontecido em melhor “companhia”. O MACC (Mosteiro de Ancede – Centro Cultural) recebeu a exposição internacional “Grandes Mestres”, com obras impressionantes de coleções privadas de autores como Picasso, Salvador Dali, Andy Warhol ou Cargaleiro, num total de 63. Até dia 13 de novembro, a exposição está aberta ao público. Ainda no conjunto arquitetónico do Mosteiro, não deixe de visitar a Capela do Senhor do Bom Despacho.
Na região, vale a pena conhecer a empresa Bello’Giro. Como o nome sugere, organiza uns passeios ao ar livre nos mais variados tipos de transporte e com diferentes níveis de adrenalina. Buggys, bicicletas, segways ou barcos são apenas algumas das muitas possibilidades para descobrir o território de uma forma menos comum.

Mosteiro de Ancede
Rua de Santo André
Ancede, Baião
www.visitbaiao.pt


(12) Quinta de Santo António Country Houses


De uma casa agrícola dos anos 40, numa localizada privilegiada, nasceu um complexo hoteleiro no Marco de Canaveses. Junto ao rio, com vistas para a outra margem, onde se vislumbra Entre-os-Rios, a Quinta de Santo António Country Houses tem 12 quartos e 10 villas. Entre o charme contemporâneo e a traça original, esta unidade tem ainda um salão de eventos e o Foz Hotel Bar, com uma esplanada quase em cima do rio.
O restaurante Olivietto, comandado pelo chefe David Couto, é um dos pontos fortes da casa. Cozinha tradicional, aberto ao público e com uma carta de vinhos assinalável. “Abrimos na pandemia, uma altura difícil para todos. Este ano que agora vai terminar foi muito bom para nós, com uma taxa de ocupação na época alta a rondar os 100%”, refere José Neves, da Quinta de Santo António.

Quinta de Santo António Country Houses
R. de Sto. António N. 81
4575-328 Marco de Canaveses
www.quintastantonio.pt/