Herdade dos Grous Reserva

PROVA VERTICAL DE 2004 A 2012

Fotografia: Fabrice Demoulin

Uma década da alentejana Herdade dos Grous subiu ao palco nesta prova, com os Reserva a desmistificarem a ideia de não capacidade de envelhecimento dos vinhos da região. Frescura, consistência, irrequietude e vigor foram apenas alguns dos adjetivos usados para descrever o conjunto de vinhos elaborados, em Albernôa, pelo enólogo Luis Duarte.

 

O preconceito gera equívocos, erros de julgamento e conduz a erros de análise. O preconceito leva à imprudência ou à má-fé, perpetuando a escuridão. O preconceito tolda a razão, ensombrando tanto o juízo como o critério. O preconceito abarca a sociedade de uma forma mais ou menos transversal, sendo intrínseca ao ser humano. Embora o preconceito se estenda a todos os campos do conhecimento é no domínio do ócio e do prazer que ganha um relevo especial. É na literatura, música, cinefilia, desporto, gastronomia ou no universo do vinho que o preconceito impera e onde ganha maior peso. O vinho, sobretudo, é campo fértil para o preconceito, para as tomadas de opinião definitivas, para a facilidade com que se instituem convicções. As doutrinas e frases feitas multiplicam-se no meio, certezas absolutas nascidas de opiniões pessoais, que de tão repetidas acabam muitas vezes por se converter em verdades totalitárias, raramente são questionadas. 

Entre as muitas certezas cáusticas que circulam no mundo do vinho podemos apontar a sugestão subliminar que os vinhos alentejanos são fáceis e simples, quentes, mostrando-se sempre num perfil de taninos suaves e sedosos. Ou seja, vinhos de vida breve, que deverão ser consumidos enquanto jovens e exuberantes. Uma descrição profundamente injusta e ilusória, que na realidade poderia ser aplicada a qualquer região portuguesa, desde que a premissa fosse sugerida para os vinhos do segmento mais acessível. 

Uma parte relativamente substancial da crítica portuguesa, mas também dos circuitos enófilos mais eruditos ou dos consumidores menos atentos, olha para os vinhos alentejanos sob um misto de complacência e sobranceria, encarando-os com uma superioridade moral que costuma estar associada ao preconceito. Com frequência, os vinhos são encarados como corretos e esforçados mas sem os predicados naturais que outras regiões portuguesas condensam. Com frequência, os vinhos alentejanos são observados sob os estereótipos de um passado remoto ou colocados perante circunstâncias que raramente têm fundamento, pretendendo colar-lhes uma imagem de simplicidade, que raramente é confirmada pela realidade. 

Por isso escolhemos o Alentejo, precisamente na figura de um dos projetos de maior sucesso mediático e comercial, a Herdade dos Grous, para comprovar a falsidade da teoria que os vinhos alentejanos não sabem envelhecer. A escolha do produtor não foi fruto do acaso. A Herdade dos Grous simboliza o triunfo do Alentejo naquela que terá sido uma das ascensões mais meteóricas e sustentadas das duas últimas décadas do panorama vínico regional e nacional.

Um êxito que seguramente não nasceu de geração espontânea, mesmo tendo em conta que nasceu numa das regiões vitícolas mais dinâmicas e promissoras de Portugal, sob o manto patrono de um grande grupo empresarial e financeiro alemão e sob os comandos de um dos enólogos mais respeitados e experientes de Portugal, Luís Duarte. Por entre as dezenas de projetos jovens que nasceram no Alentejo, este é um dos que mais se destacou e que pode reivindicar com propriedade o qualificativo de projeto de êxito indubitável.

Muitos pretendem ver o estereótipo alentejano nestes vinhos, tintos supostamente fáceis e singelos, suaves e sem arestas, adaptados ao gosto do consumidor, sem a autenticidade e grandeza de outras grandes referências portuguesas. Vinhos que seriam muito agradáveis, frutados e prazenteiros numa fase inicial, mas que depressa morreriam, sem condições naturais que assegurassem a sobrevivência ao rigoroso teste do tempo. 

Tal como antecipado, os arautos da desgraça enganaram-se monumentalmente. Depois de provada uma década de Herdade dos Grous Reserva, os vinhos mostraram não só uma frescura e saúde invejáveis como deram indicações firmes que ainda poderemos contar com eles durante pelo menos mais uma década. Uma afirmativa ainda mais pomposa se pensarmos que a primeira colheita foi elaborada com vinhas extraordinariamente jovens, vinhas que em 2004 se encontravam plantadas há apenas dois anos.

O que mais espantou nos Herdade dos Grous Reserva foi a consistência total e o rigor, bem como a existência de um fio condutor que marca os vinhos desde o primeiro ano. A única colheita que começa a mostrar alguns sinais de cansaço é 2005, claramente a menos feliz do lote, enquanto 2007 e 2009 denotam uma irrequietude, viço e vigor em tudo surpreendentes. 

A caracterização mais eloquente para estes Herdade dos Grous Reserva é a ambição e estrutura, a austeridade e dureza de taninos, a firmeza da frescura e da acidez, a solidez e volume da boca, termos que poucos associam ao Alentejo mas que admitem facilmente noutras denominações nacionais. Quando olhamos para estes Reserva dos Grous encontramos vinhos sólidos e ainda algo fechados, por vezes quase ríspidos e severos, vinhos vigorosos com um enorme potencial de envelhecimento em garrafa, que ao mesmo tempo denotam o apelo da fruta madura, o cacau e as especiarias, a acidez bem metida e o volume do final de boca. 

Nada mau para uma região que vive sob o peso de tantos preconceitos…

 


16,5

HERDADE DOS GROUS RESERVA 2004

Cor vermelha profunda. Aroma ainda jovial, fortes notas de folha de tomateiro, cereja, ameixa preta e indícios de chocolate preto. Alguma presença vegetal, leves pirazinas, taninos sérios e uma acidez final que o torna profundamente refrescante.


15

HERDADE DOS GROUS RESERVA 2005

Cor vermelha profunda, que começa a perder algum do viço da juventude. Presença de leves notas animais, tabaco, charuto, carne assada e uma leve sensação de farmácia antiga. Taninos poderosos, acidez vivaça, corpo algo vago e uma sensação de um buraco a meio do palato.


17

HERDADE DOS GROUS RESERVA 2006

Cor vermelha retinta. O nariz apresenta-se muito mais floral que em edições anteriores, intenso, perfumado, delicado e discretamente suave. Sedoso na boca, mais dócil que o esperado, suave e delicado embora tenso, pela finura da acidez refrescante que enleva o final. Muito agradável e com anos de vida pela frente.


17,5

HERDADE DOS GROUS RESERVA 2007 (GARRAFA MAGNUM)

Cor vermelha muito escura. Ainda jovem e irrequieto, repleto de chocolate, notas fumadas, café, menta e amora preta. Tenso, vivo, quase brutal na entrega, apresenta-se ainda travesso, pleno de juventude e irreverente, revelando algumas arestas como se permanecesse num eterno estado de juventude. Os taninos vivos, a acidez fina e o final de boca perfeitamente equilibrado sugerem que poderá viver muitos anos em garrafa.


16

HERDADE DOS GROUS RESERVA 2008

Tonalidade vermelha, intensa e carnuda. Fruta assertiva, mais quente e maduro que o esperado, alguma compota de tomate, ameixa preta e amora. Poderoso, imenso, quase excessivo na entrega e na sem-cerimónia. Acidez vibrante que poderá surpreender pela exuberância.


17,5

HERDADE DOS GROUS RESERVA 2009

Tonalidade vermelha carnuda. Nariz perfumado, mais delicado que intenso, repleto de violetas, aromas de primavera e imagens de campos floridos. No fundo do copo sentem-se ainda notas de torrefação da barrica e uma sugestão de amoras e ameixa preta, num conjunto verdadeiramente atraente. Boca séria, viva, intensa e vibrante, temperada por uma acidez igualmente vibrante e refrescante. Bom equilíbrio entre intensidade e delicadeza.


17,5

HERDADE DOS GROUS RESERVA 2010

Cor vermelha viva, quase preta. Leves notas mentoladas, presença de alguma resina, fruta preta, cânfora e um leve balsâmico, que revelam um perfil distinto do padrão tradicional dos Grous. A elegância volta a marcar pontos na boca, uma elegância que se sobrepõe aos taninos duros que lhe conferem um final austero mas profundo. Se o nariz aponta para um estilo novo mundo, a boca é profundamente alentejana na alma.


17

HERDADE DOS GROUS RESERVA 2011

Cor vermelha, quase preta e muito intensa. Mais discreto na veemência aromática, comedido na afirmação da fruta, sóbrio e distinto na entrega da especiaria. A boca aponta pelo mesmo diapasão, direcionando baterias para a elegância, sem deixar de mostrar um lado mais selvagem e assertivo, que se acentua no final de boca.


17

HERDADE DOS GROUS RESERVA 2012

Cor de tonalidade quase preta. Curiosamente, o nariz mostra-se num primeiro momento mais vegetal e herbáceo que o costumeiro para logo revelar um lado floral mais sedutor, que acaba por conquistar o coração. A boca segue o mesmo padrão, começando por insinuar uma delicadeza que os taninos e a acidez vêm prontamente retificar para terminar num final explosivo e intenso.