Quinta da Lixa: o lado contemporâneo dos vinhos verdes

Fotografia: Daniel Luciano
Luís Costa

Luís Costa

E, de repente, parece que chegámos a uma vitícola do hemisfério sul, talvez a Mendoza, na Argentina, ou a Nappa Valley, na Califórnia. Depois de serpentear por entre estradas incaracterísticas e povoações pouco apelativas, desembocamos numa espécie de paraíso verde, num imenso campo de vinhas rigorosamente alinhadas em que desponta um edifício contemporâneo.

 

Estamos na Quinta da Lixa, cujos vinhedos irrepreensíveis rodeiam por todos os lados, numa espécie de ilha requintada e “trendy”, uma unidade hoteleira com 30 quartos exemplarmente integrada na paisagem. Trata-se do Monverde, um apelativo e moderno “wine experience hotel”, unidade vocacionada para experiências vínicas e momentos de lazer ligados ao vinho.

Quem faz as honras da casa é Carlos Teixeira, enólogo da Quinta da Lixa desde o começo deste projeto liderado por Óscar Meireles, homem da terra e filho de produtor de vinho, ele próprio antigo viticultor nos Vinhos Borges. “A Quinta da Lixa é constituída por seis propriedades, e esta é uma delas. Foi adquirida em 1999 e propiciou a criação do Monverde, que começou por ser um projeto mais pequeno, apenas para alojar os nossos parceiros estrangeiros, mas foi crescendo até se transformar num hotel vocacionado para experiências vínicas que tem dado enorme destaque à Quinta das Lixa em termo de imagem”, explica-nos o nosso anfitrião Carlos Teixeira, ao qual se junta entretanto Óscar Meireles, proprietário e produtor da Quinta da Lixa, que tem protagonizado – é justo dizê-lo – uma autêntica “mudança de paradigma” numa terra outrora conhecida pelos seus vinhos imbebíveis, os mais “verdascos” dos vinhos verdes.

“Este investimento era uma necessidade que havia na região. Tínhamos uma carência muito acentuada em termos de qualidade de serviço. No enoturismo, outras regiões estavam muito mais avançadas do que nós. Por isso vemos este projeto na perspetiva da região dos Vinhos Verdes, e não apenas da Quinta da Lixa. Temos de juntar sinergias entre todos os colegas do vinho”, sublinha Óscar Meireles, que desde cedo assumiu algumas ruturas com a cultura envolvente da região: “Às vezes olhavam-me de lado porque desde cedo apostei nos varietais, que não era prática na região. Lançámos vários varietais na vindima de 2000, há quase 20 anos, a pensar no mercado internacional – porque aqui estamos sempre a pensar no mercado internacional, a ver a resposta do mercado. Feita essa experiência concluímos que, na Quinta da Lixa, a aposta deveria centrar-se nos monocastas Alvarinho, Trajadura e Loureiro. E deixámos o Avesso para fazer vinhos de base para espumante”.

A nossa visita à Quinta da Lixa culminou com uma prova de vinhos em que tivemos a oportunidade de conhecer o Quinta da Lixa Sweet Creations 2016, um vinho construído com uvas colhidas em três diferentes estados de maturação. Vinho muito elegante com nariz floral e nota frutada de líchia, na boca revela tropical de manga, maracujá e alperce com a doçura muito bem integrada por elevada acidez e enorme frescura. Um belo vinho de entrada ou de sobremesa que é uma espécie de metáfora do projeto da Quinta da Lixa. Por estes lados, a modernidade, a tradição e o arrojo andam de mãos dadas.

 


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Quinta da Lixa Reserva Alvarinho 2016
Vinhos Verdes / Branco / Quinta da Lixa

Amarelo limão. Aromas marcados pela madeira. Mas a ligeira baunilha que daí resulta não oculta as notas frutadas (de manga e pêssego maduro) e florais (flores brancas). A boca (com notas de ananás e ameixa branca) é fresca, com volume e bela acidez. Um vinho muito equilibrado. Projeto muito interessante da Quinta da Lixa que se traduziu em cerca de 6000 garrafas, a que se acrescentaram 36 “double” e 100 “magnum”.

15,00€


15,5
Quinta da Lixa Escolha 2016
Vinho Verde / Branco / Quinta da Lixa
3,10€


16
Alvarinho Pouco Comum 2016
Vinho Verde / Branco / Quinta da Lixa
4,70€

 

16
Quinta da Lixa Reserva Tinto 2015
Vinho Verde / Tinto / Quinta da Lixa
15,00€

 

(Este texto faz parte da grande reportagem "A revolução silenciosa dos Vinhos Verdes", publicada originalmente na edição nº 333 da Revista de Vinhos)