Touriga Franca

Fotografia: Arquivo
Marc Barros

Marc Barros

Cruzamento das variedades Touriga Nacional e Marufo, é já a segunda casta mais plantada em Portugal, pois representa 7% do encepamento, com 13.445 hectares. Ao contrário do que a designação original Touriga Francesa possa sugerir, é uma casta bem portuguesa, nascida da necessidade de encontrar uma variedade que, no séc. XIX, fosse capaz de ultrapassar a dizimação provocada pela filoxera, sobretudo no Douro. A designação Francesa (agora Franca) surge como contraposição à Touriga Nacional (da qual foi hibridizada), dado ter sido “produzida” naquele país, à época na vanguarda da luta anti-filoxera.

É, por isso, uma casta de choque: trata-se de uma variedade de abrolhamento precoce e média na maturação, aguenta os embates com as principais doenças da vinha (míldio e oídio), sendo atreita ao desavinho, à podridão cinzenta e aos ataques da traça da uva.
Casta duriense por excelência, vai aos poucos ganhando o seu espaço em outras regiões (e países…), onde contribui não apenas para complementar lotes em parelha com a sua ascendente Touriga Nacional, mas também para vinhos monovarietais de cada vez maior expressividade.


Curiosamente, o “nascimento” deste híbrido no séc. XIX pode ajudar na resposta a um problema que já é uma realidade: o aquecimento global e a escassez de água. Com a vantagem de estar adaptada ao local, sobretudo no Douro e, mais especificamente, no Douro Superior. Quem diria que, de soluções do passado, surgem ferramentas para o futuro…


DICAS:

  • A Touriga Franca agrada simultaneamente ao lavrador e ao enólogo: produz bem, é fácil de conduzir e trabalhar na vinha, resiste muito bem (e gosta) ao calor e à seca e dá origem a vinhos de grande qualidade.
  • Em fase adiantada do ciclo vegetativo, distingue-se da Touriga Nacional pela folha média, subinteira. O cacho é médio e compacto e o bago arredondado, de tamanho também ele médio, cor negro-azul, película espessa e polpa mole.
  • Quanto ao potencial enológico, dá origem a vinhos equilibrados, com taninos um pouco duros (razão pela qual a Touriga Nacional é ainda preferida por muitos enólogos face à sua congénere Francesa), aromas florais delicados (rosas), esteva, frutados e notas balsâmicas. 
  • É no Douro (e em outras zonas igualmente secas) que podemos apreciar toda a sua valia. Desde logo, nos lotes de Vinho do Porto, para os quais contribui com a sua estrutura, rusticidade, concentração e complexidade aromática. Mas também nos vinhos tranquilos. Procure-se alguns exemplares estremes disponíveis no mercado, do Douro e de outras regiões. Vale bem a experiência.