Ventos atlânticos de diversidade

Lisboa

Fotografia: Fabrice Demoulin
Marc Barros

Marc Barros

Percorremos chão rijo e chão de areia, conhecemos cepas velhas e plantações novas, captamos história, presente e um largo futuro, na certeza que Lisboa terá isso mesmo, futuro. Nesta viagem pela região, o classicismo da Companhia Agrícola do Sanguinhal e da Casa Viúva Gomes, a nova vida da Quinta da Romeira e a lufada de ar fresco de Chocapalha.

 

Lisboa é hoje um imenso mar de vinhos, no duplo sentido que a expressão possa adquirir. A imensidão traduz-se territorialmente pela dezena de denominações de origem que agrega (Alenquer, Arruda, Bucelas, Carcavelos, Colares, Encostas d’Aire, Estremadura - Lisboa, Lourinhã, Óbidos e Torres Vedras) e o mar pela forte influência atlântica, frequentemente expressa de modo vincado nos vinhos, onde alguns dos melhores exemplares apresentam uma salinidade à prova do tempo.

Os ventos, os que sopram do Atlântico e também os de norte, são quebrados por vales e serras, Montejunto a principal. Os outros ventos, os da mudança, parecem capazes de ultrapassar qualquer barreira, incluindo a da teimosia ou desconhecimento que possa ainda tentar colar os vinhos da região a um passado menos brioso. Hoje, Lisboa está (muito) melhor, tendo alcançado um equilíbrio notável assente na diversidade.

Continua a existir volume e casos de tremendo sucesso nessa matéria. É muito graças a eles que a região certifica atualmente cerca de 35 milhões de garrafas de vinho por ano e que mais de 90% da produção média anual é exportada. Mas, em simultâneo, Lisboa viu surgir um novo movimento de produtores de pequena dimensão, boa parte deles optando por engarrafar a uva produzida em detrimento de a entregar a cooperativas ou operadores de maior dimensão. Em vários casos são projetos familiares movidos a paixão e a entusiasmo, que se renovam a cada vindima.

Tudo o que na região agora se faz é mais falado e mais comentado, muito por culpa da (boa) decisão de alteração da designação de Estremadura para Lisboa, em 2009. A comunicação e o marketing facilitaram a vida de todos, produtores e consumidores – os nacionais e os estrangeiros.

O ciclo climático quente que atravessamos melhorou, genericamente, o potencial das vinhas da região, que sorriem cada vez mais face a dias quentes e a noites frescas. Mas, o maior dos méritos é humano, na experiência e conhecimento superior de quem mexe na vinha, na perceção mais rigorosa do que deve ser uma viticultura de precisão, na procura do equilíbrio entre variedades nativas e francesas. Casos como os do Arinto ou do Ramisco espelham bem as peculiaridades da região de Lisboa, onde também habitam Carcavelos (fortificado que a Câmara de Oeiras tem conseguido preservar da extinção) e Lourinhã (uma das três regiões demarcadas de produção de aguardante vínica na Europa, apenas a par de Armagnac e Cognac, na França).

Nesta reportagem, a Revista de Vinhos visita quatro produtores que nos ajudam a materializar o conceito de diversidade. Cruzámo-nos por entre vestígios das Linhas de Torres, que o duque britânico de Wellington (ao que se diz, um apreciador de bom vinho) soube tão bem usar contra as invasões francesas dos exércitos de Napoleão. Percorremos chão rijo e chão de areia, conhecemos cepas velhas e plantações novas, captamos história, presente e um largo futuro, na certeza que Lisboa terá isso mesmo, futuro.

 

QUINTA DA CHOCAPALHA

O primado da elegância

 

Paulo Tavares da Silva estaria certamente longe de imaginar no sonho mais risonho que a quinta adquirida na Aldeia da Merceana, Alenquer, viria a tornar-se numa das mais emblemáticas do país. Não há exagero na afirmação, apenas o justo reconhecimento de aqui estar o berço de alguns dos mais elegantes vinhos da região de Lisboa, por consequência, do país.

A origem dos Tavares da Silva é de Santa Comba Dão, no Dão. O avô de Paulo mudou-se para Lisboa, à procura de novas oportunidades, tendo-se estabelecido e prosperado com um negócio de mercearia na Rua da Prata. Para abastecer o negócio decidiu adquirir uma propriedade, em Alcochete, que passou a património familiar conjunto à medida que as gerações se foram sucedendo. Oficial da Marinha, por isso ainda hoje tratado por muitos como “comandante”, Paulo Tavares da Silva cuidava da propriedade aos fins de semana, num pleno contraponto terra/mar. Na turbulência do pós-25 de abril, a propriedade entrou em declínio e a venda revelou-se a decisão mais acertada.

O gosto pela evasão e pelo campo manteve-se. Por isso, o “comandante” passou alguns fins de semana a viajar com a família, de norte a sul do país, à procura de um novo território. Encontrou-o aqui, com vista para a serra de Montejunto, por entre colinas suaves, um pedaço de terra que haveria de adquirir à família Portugal Ramos, em 1987. Percebeu, naquele instante, que seria mais do que um simples passatempo de fim de semana. Tratou de apressar o fim da ligação à Marinha e desde aí até aos dias de hoje conhece como a palma das mãos cada metro quadrado dos 80 hectares contínuos de Chocapalha, 50 dos quais plantados com vinha, as cepas mais velhas com 30 anos.

As uvas começaram por ser entregues em adegas da região, até que surge no mercado o primeiro vinho engarrafado, da colheita de 2000. O risco foi calculado e serviu, sobretudo, como um desafio suplementar para uma enóloga então em início de carreira, Sandra Tavares da Silva.

Sandra vive no Douro, com o enólogo Jorge Serôdio Borges (são a Wine & Soul que origina, entre outros, o famoso Pintas) mas sempre que está por Portugal, uma vez por semana visita Alenquer. Contas feitas, faz uma média de 70.000 quilómetros anuais de automóvel, a que se junta uma infindável lista de viagens de avião, em promoção dos diferentes vinhos que elabora, contabilizando cerca de cinco meses de ausência do país por ano. Mas, quem corre por gosto… Há quatro anos, Andrea Tavares da Silva, economista, juntou-se ao projeto para trabalhar a gestão e o marketing, sendo que das três filhas de Paulo apenas uma, Sofia, continua a exercer atividade profissional (é dentista) fora de Chocapalha.

Com exposição norte, as castas brancas Arinto (a principal), Chardonnay, Sauvignon Blanc, Viosinho e Verdelho. Entre as tintas, Touriga Nacional, Tinta Roriz (Aragonês), Castelão, Syrah, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot. Há ainda a Touriga Franca, curiosamente a casta tinta predominante, que a enóloga da casa conhece bem. Boa parte deste elenco tem caprichos nestes solos argilo-calcários, predominantemente calcários no topo das colinas, não mais de 200 metros acima do nível do mar. Com firmeza, o pai leva-as a produzir o que a filha, com delicadeza, gosta de trabalhar na adega – desde 2013 um edifício esculpido num dos vales de Chocapalha, devidamente integrado na paisagem, sem luxos interiores, mas com espaço confortável para os ofícios da enologia e da gestão.

Daqui saem 150.000 garrafas por ano, 16 vinhos no total, 90% destinados a mercados de exportação: Alemanha, Suíça, Reino Unido, França, EUA, Brasil e Japão entre os principais. Os vinhos têm um perfil transversal de elegância. Quer os varietais quer os “blends” apresentam-se num estilo profundamente fresco, revelando um misto de aptidão gastronómica e de predisposição para envelhecimento nos melhores exemplares.

São o rosto de uma família que genuinamente sorri, seja quando recebe um grupo de visitantes, quando partilha uma mesa, quando recorda como tudo recomeçou. As primeiras referências às vinhas de Chocapalha são do século XVI, estando a quinta datada de 1855, curiosamente um ano que fica marcado na história mundial do vinho como o da classificação dos Grand Cru Classés de Bordéus. Estaremos em Chocapalha diante uma espécie de novo Grand Cru da região de Lisboa?...


QUINTA DA ROMEIRA

No “Principium”, o Arinto

 

Dificilmente se escreve a história dos vinhos de Lisboa sem espaço nobre dedicado à Quinta da Romeira. E de novo temos um encontro com a história. O Duque de Wellington, o herói britânico que protegeu Lisboa das invasões francesas, terá sido dos primeiros responsáveis pela difusão da fama do Arinto de Bucelas. O “Morgado de Santa Catarina” foi por aqui instituído em homenagem a D. Catarina de Bragança, rainha consorte de Inglaterra, e no solar que é postal ilustrado da propriedade repousou Wellington e também familiares do Marquês de Pombal (não tinham mau gosto, não senhor). 

Como tal, a Quinta da Romeira existe desde 1703. É olhada como um expoente do que o Arinto pode ser – uma casta versátil mas sem exuberâncias, com excelente acidez e predisposição para envelhecer. A influência marítima está bem presente, atravessando os vinhos com um toque marcante de salinidade, a par da preservação de uma acidez bem vincada. Nos tempos que antecedem a vindima esperem-se dias bem quentes, com temperaturas que podem alcançar os 36ºC, e noites frias, amplitude térmica assinalável e que garante uma correta maturação do fruto. As vinhas ocupam 75 hectares de entre os 130 ha da totalidade da quinta,
que tem ainda áreas de mata. Garantem-nos que o mar já terá um dia estado por aqui, conclusão obtida a partir de estudos profundos da composição dos solos, maioritariamente calcários.

A idade média das vinhas é de 30 anos e se o Arinto claramente domina as plantações há igualmente um singelo espaço para uma mão cheia de hectares de ensaio de outras castas – atualmente, Sauvignon Blanc, Chardonnay e Gewürztraminer. O restante Arinto que a Romeira precisa para trabalhar e engarrafar é obtido através de acordos estabelecidos com viticultores de Bucelas.

Hoje, a propriedade é gerida por Francisco Ferreira, o líder e mentor do projeto empresarial Wine Ventures. Conta um percurso profissional ligado ao marketing, com etapas de 10 anos na Sogrape e na Unicer, e de 8 anos na Jerónimo Martins. O vinho não é um segredo, pelo que quando adquiriu a Quinta da Romeira, em 2013, de imediato percebeu que teria que ter uma dimensão maior para atacar diversas frentes. Por isso, está presente não apenas na região de Lisboa como também no Minho, no Douro (em parceria com a Quinta de Cottas) e, muito em breve, no Alentejo.

Entre marcas todo-o-terreno e o Arinto que desafio o tempo, a Wine Ventures soma uma montra alargada de vinhos, que continuará a crescer. No patamar mais elevado, os “Family Collectors”, vinhos mais complexos e especiais, incluindo brancos com estágio de cinco anos. Nos “blockbuster”, vinhos descomplicados a que se juntam exclusivos para supermercados. A produção média anual já vai em dois milhões de garrafas, com 20% destinados à exportação, para mercados como o Canadá, Brasil, China, Polónia, Luxemburgo, Bélgica, Alemanha, Irlanda… 26 países no total. Crescer com sustentabilidade e sempre pressas. “Não sou um ´sprinter´, sou um corredor de fundo”, garante-nos Francisco Ferreira. Partilha este novo desafio com a mulher, Ana Ferreira, e o filho, Francisco.

Do lado da enologia conta a experiência de uma equipa de veteranos: os enólogos Manuel Pires da Silva (com percurso vasto na Quinta do Minho, na região dos Vinhos Verdes) e Manuel Vieira (que durante vários anos esteve ligado à Sogrape). Completa esta equipa a jovem Maria Godinho.

Os vinhos que provamos comprovam a diversidade de opções e salientam-se por serem focados, precisos. Os melhores exemplares da Romeira mostram a personalidade que ansiamos num Arinto, como que afirmam que os gloriosos tempos da Romeira não são memória passada, são folha que o futuro tratará de escrever.

 

 

COMPANHIA AGRÍCOLA DO SANGUINHAL

O charme do classicismo

 

Tudo parece já ter sido dito e escrito sobre o Sanguinhal, mas a cada regresso há sempre um detalhe que nos motiva uma questão adicional. Desta vez, a visita começou no centro do Bombarral, na Quinta das Cerejeiras. Ali, numa casa projetada pelo arquiteto Norte Júnior, viveu o fundador da empresa, Abel Pereira da Fonseca, que viria a tornar-se o senhor do comércio do vinho de Lisboa, dimensão traduzida na exploração de propriedades na zona do Bombarral e na gestão das lojas Val do Rio, que na primeira metade do século XX chegaram a totalizar cerca de uma centena de estabelecimentos de venda ao público no país, havendo no livro das memórias a referência especial do eterno Fernando Pessoa, que não dispensava um copo no “Abel”.

O passado confunde-se facilmente com o presente na loja de vinhos das Cerejeiras, aberta ao público. Não fosse a indicação dos anos de colheita dos rótulos e da possibilidade de pagamentos eletrónicos e rapidamente teríamos concretizado uma viagem no tempo. Os clientes, sobretudo os estrangeiros, surpreendem-se logo que entram. Sim, bem-vindos a um autêntico cenário cinematográfico... Mas, retomemos o hoje.

Na atualidade, a Companhia Agrícola do Sanguinhal detém três propriedades, todas na Região Demarcada de Óbidos: Quinta das Cerejeiras, Quinta do Sanguinhal e Quinta de S. Francisco.

Carlos João Pereira da Fonseca é o rosto e a alma do presente. Gere e comunica a empresa, identifica o que há que fazer na vinha, verifica os mercados e desloca-se a uns quantos, passa o olhar pelos eventos que são organizados no enoturismo no Sanguinhal, até faz atendimento a alguns clientes que lhe surgem na loja… e ainda tem tempo para a vice-presidência da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa.

A disposição quase sobre-humana que apresenta ficou, todavia, mais amparada a partir do momento em que envolveu no negócio, e de modo mais efetivo, a irmã e os sobrinhos. O corre-corre entre Lisboa, a região, e a outra Lisboa, a cidade, faz parte do quotidiano. Mas para lá dos números do conta-quilómetros há outros que importa registar.

Os vinhos resultam de um total de 95 hectares, área que muito em breve será alargada para 105 ha. O plantio mais antigo tem cerca de 35 anos e já teve mão de Carlos João, na empresa de família há 40 anos. Entre as castas tintas, Cabernet Sauvignon, Syrah, Castelão, Aragonês, Merlot, Tinta Barroca, Trincadeira e Touriga Nacional. As brancas são Vital, Sauvignon Blanc, Moscatel, Fernão Pires e Arinto. O património vegetativo vai sendo renovando consoante o que se estende ser o melhor. Experiências também as há, aliás, tal como fazia o precursor, Abel Pereira da Fonseca – por exemplo, plantou e alinhou vinhas e separou as variedades por talhão, sem árvores de fruto a concorrer nestes terrenos de areia e de argila, para captar o potencial de 30 variedades distintas, no fundo, como um campo ampelográfico deve ser.

Mas, retomemos o hoje. A enologia está sob alçada de Miguel Móteo, que tem uma média anual de 700.000 garrafas por cuidar. A maioria tem por destino Portugal, mas 25% viaja pelo mundo da exportação: Alemanha, Norte da Europa, Estónia, EUA, Canadá, Brasil e Canadá, só para citar os mais significativos.

A montra de vinhos é abrangente, de brancos leves, como o Sôttal, a brancos complexos e imunes a modas, como os Quinta das Cerejeiras Reserva. Há os tintos, onde o perfil clássico se enaltece nos melhores exemplares, e há um impressionante stock de 10.000 garrafas de vinho de Carcavelos da Quinta da Bela Vista (a um não menos incrível preço de 95,00€ a garrafa), adquirido nos anos 80 e engarrafado em 1992. Não foi possível datar o espólio, mas sabendo-se que a última produção da Quinta da Bela Vista foi de 1969, estima-se que o vinho tenha uma média de 70 anos. É âmbar, de salinidade marcante e acidez brutal, com fruto seco (noz, amêndoa) e um final tenso, que deixa sensação de secura mas que teima perdurar no palato.

Como passado e presente convivem por aqui em harmonia, terminemos com a novidade. O primeiro colheita tardia da empresa, obtido a parte de Sauvignon Blanc e Fernão Pires, da colheita 2010, que agora chega ao mercado.

 

ADEGA VIÚVA GOMES

Pés bem assentes em chão de areia

 

Muitos gostam de proclamar que há vinhas que são milagre da natureza. Pois bem, o que dizer das tradicionais vinhas de Colares, imunes à filoxera, plantadas em chão de areia, a escassos metros do mar, protegidas dos inclementes ventos de norte por paliçadas de cana... Estão a metro e meio de profundidade e ziguezagueiam pela areia como serpentes na floresta. Os pés das vinhas velhas, uma com 80 anos e outras ainda pré-filoxéricas, mais parecem troncos de árvore e em muitas parcelas o escasso espaço disponível é partilhado com macieiras. Em Fontanelas, Colares, mora a maior área de vinhas tradicionais, com as plantações mais antigas a deixarem a planta deitada e as mais recentes a elevá-la, para facilitar uma maturação mais uniforme por cacho.

O homem que hoje as protege é da mesma raça que quase as destrói. A fortíssima pressão imobiliária tem reduzido estas vinhas ao perigo de extinção, num verdadeiro atentado a um património vitícola ímpar, facilmente entendível à luz de projetos imobiliários que encaram aquela como uma localização privilegiada. “Mas o cenário já foi pior”, tenta animar-nos José Baeta, que em parceria com o filho Diogo assume um papel decisivo na preservação de Colares.

Viúva Gomes não tem vinha própria. Recebe vinhos através da Adega Regional de Colares e é precisamente por lá que os vinifica e engarrafa (neste momento há um total de cinco operadores e apenas a Fundação Oriente vinifica separadamente). Do Colares, Viúva Gomes lança uma média anual de cerca de 2.000 garrafas de tinto, predominantemente da casta Ramisco, e 1.500 de brancos, onde não fica indiferente a Malvasia de Colares. No total, incluindo vinhos de “chão rijo” de argila e engarrafamentos como Regional Lisboa, 10.000 garrafas.

A história de Viúva Gomes dava uma novela. A adega e escritório, cenários perfeitos para tal e volta e meia requisitados para produções televisivas de época, foram construídos em 1808, pela família Gomes da Silva, de Loures. Bernardino e Ludgero Gomes da Silva constituíram a empresa Viúva Gomes em 1902, cujas instalações transitaram, em 1920, para a Companhia de Vinhos e Azeites de Portugal, através de António Soares Franco Júnior, administrador da José Maria da Fonseca, que passou a deter a totalidade do património em 1926. Já em 1931, novo dono, Victor Guedes & Companhia, que deixou de comercializar nos anos 70, engarrafando boa parte do que havia e deixando outro tanto a envelhecer. Até que, em 1988, a família Baeta, com negócio de vinho em Sintra, adquire a Adega e os stocks da Viúva Gomes.

Os vinhos históricos facilmente nos emocionam. Não apenas pelo que representam como pela tremenda vivacidade com que ainda se mostram. Vem-nos à memória os escritos de Eça de Queiroz, lembramo-nos que Colares é a segunda região demarcada mais antiga do país (desde 1908), olhamos para a Serra de Sintra, para o Cabo da Roca e não esquecemos que tempos houve em que os vinhos produzidos em Almoçageme eram transportados de carroça até ao entreposto da Praia das Maçãs, daí levados para Sintra, acabando por arribar, de comboio, a Lisboa.

José e Diogo Baeta, este último a terminar mestrado em viticultura e enologia, são D. Quixotes de uma causa que não está perdida, acentuando esta herança cultural sempre que colocam um rótulo histórico (outro espólio ainda disponível) numa garrafa. Às quartas-feiras têm tempo para um dia de portas abertas para visitas, pelas 11h e pelas 15h, o que se repete ao primeiro sábado de cada mês, às 16h. Mais do que uma adega, um museu vivo.